SERMÕES

PORQUE A FONTE SECOU?
Intr:Não podemos pemanecer parados, esperando o mar se abrir, devemos ter os olhos bem abertos
Pois quando vc é dirigido por Deus não quer dizer que vc irá andar pelos melhores caminhos
Mais vc poderá encontrar desertos, cisternas, mares
Mais o importante é estar firmes
Vc se lembra de Josué 1:7
Quando vc desobedece o sucesso desaparece

COMO SURGIU ELIAS
Dt 11:16,17 Josué 6:26
Aparecimento 1 Re 16:34

Acabe o 7º Rei de Israel casado com Jesabel filha de Etball, Rei de Tiro, que era adorador de Baal
Ritual a Baal – Muita poupa e cerimônia, ofertas da natureza e incenso, holocausto e sacrifícios humanos
A cabe queria alargar seu domínio, mais a desobediência causou a morte dos filhos de Hiel
Ai entra Elias
Elias era Tesbita, natural de Gileade

DEUS MANDA ELIAS JUNTO AO RIBEIRO
Deus tira Elias de um confronto com Acabe e o envia a Querite
Deus não revela a situação mais Elias vai

PORQUE DEUS NÃO ESCONDEU ELIAS EM UM LUGAR MELHOR
Deus escolheu um lugar sem beleza mais Elias obedeceu
Elias observa que a fonte esta se secando
Quando seguimos a ordem de Deus achamos que o sucesso nos acompanhe
Elias viu que as águas já não corriam mais

O QUE FAZER QUANDO A FONTE SE SECA?
Rm 8:28 – Todas as coisas cooperam para o bem ....
O ribeiro estava nos planos de Deus
Devemos aprender esta liçõa
Seguir com a fonte cheia é fácil
Os barulhos das águas
Se ele te mandou é porque quer te ensinar algo

DEUS ESTA PREPARANDO UM NOVO CAMINHO
Devemos caminhar sempre
A fonte se secou não pq vc pecou
Quando isso acontecer é pq Deus esta preparando um novo caminho
Não se desespere
Elias seguiu as ordens
Quando a fonte secou Deus bradou

DEUS TIRA ELIAS DE UM LUGAR...
Elias é enviado a Serepta
Elias é enviado a sede de Baal
Deus esta preparando Elias para um confronto com Baal
Deus quer criar uma dependência de Deus no coração de Elias
Em Serepta Elias não só aprende a defender mais ensina uma mulher a confiar

CONCLUSÃO
Devemos aprender a confiar no senhor
Quando a fonte se secar afine seus ouvidos
Deus quer que vc reparta sua fé com outras pessoas



O ROMPER DAS REDES (PARTE I)

S. Lucas 5:1-11
I a) No verso 6 1emos: "E, fazendo assim, colhera uma grande quantidade de peixes, e rompia-se-lhes a rede" Essa era a rede material, a primeira pesca.
b) Os mesmos apóstolos assistiram o romper das redes espirituais, não muito tempo depois. Vamos ler o registro juntos, em:
Atos 2:41 – "De sorte que foram batizados os que de bom grado receberam a Sua palavra; e naquele dia agregaram-se quase três mil almas."
c) Quando vão se romper as redes das nossas igrejas? Essa pergunta deveria ser a preocupação de todo CRENTE. É possível que alguns estão repetindo as palavras de Pedro: "Mestre, havendo trabalhado toda a noite, nada apanhamos".
Eu pergunto: Por que Pedro estava tão fracassado na sua própria profissão? Há mais de vinte anos se dedicava a pescar, mas, naquela última noite de pesca junto com a sua equipe, "nada apanhara", confessou ele ao Mestre Jesus.
d) Mas amigos! Pedro ainda tinha duas boas coisas: fé e obediência. "Sobre a Tua palavra lançarei a rede". E o milagre aconteceu. "E foram, e encheram dais barcos que quase iam a pique" Lucas 5:7.

II a) Vamos analisar melhor esse fato milagroso ocorrido no nascedouro da primitiva igreja cristã:
Em Lucas 5:1 diz que "a multidão estava apertando para ouvir a palavra de Deus". Hoje acontece o mesmo fenômeno. Diz Sra. White: "Multidões estão olhando para o Céu, esperando algum que possa convidá-los para o reino."
1.1. No verso 2 diz: "Estavam ali dois barcos, e os pescadores lavavam as redes". Hoje nós temos uma multidão de barcos parados nos portos (milhares de igrejas em todo o mundo). "Os pescadores lavavam as redes", diz a Bíblia. Nós estamos aqui hoje com esse curso procurando "lavar as redes" e prepará-las para a pesca maravilhosa.
1.2. Um evangelista estava numa manhã de sábado conversando com os membros da igreja para a arrancada evangelística naquela cidade
1.3. Resolveu então repetir as palavras de Jesus: "Igualmente o Reino dos Céus é semelhante a uma rede lançada ao mar, e que apanha toda a qualidade de peixes E, estando cheia, a puxa para a praia e, assentando-se, apanham para os cestos os bons, os ruins, porém, lançam fora." Mateus 13:47-48.
1.4. Acrescentou aquele líder: Queremos hoje de manhã também puxar as redes da nossa igreja; eu quero os "bons" no trabalho de Deus. Eu quero formar equipes de acordo com a capacidade de cada um; espero não jogar ninguém fora por ser "peixe ruim", conforme ensina a Bíblia.
1.5. Ouvia o pastor um jovem alto, desengonçado, um tanto desajeitado e muito tímido. Quando terminou o culto, aquele rapaz se aproximou do pastor e disse: "Eu gostei bastante de tudo o que ouvi, mas, infelizmente, eu acho que o Senhor vai ter de me jogar fora". Admirado, o pastor perguntou: "Mas o que há com você?" Respondeu o jovem: "Eu não tenho condição de ajudar, sou muito tímido – eu perco a voz quando vou dar estudos bíblicos, fico sem jeito de distribuir convites, perco o jeito de recepcionar pessoas, eu acho que o Senhor vai Ter de me jogar fora."
1.6. "Meu jovem", disse o pastor; Você vai fazer um grande trabalho. Venha hoje à tarde para saber o que é. Garanto, acrescentou a servo de Deus, você não vai precisar falar nada, distribuir nada e nem recepcionar ninguém." "Como pode ser isso?" interrogou o moço. "Venha hoje às 14:00 h e saberá."
1.7. Aquele líder evangelístico sabia aproveitar todas as forças da igreja; os adultos, os jovens, e até as crianças. Vai ser grande pescador de almas dentro e fora da igreja. O verdadeiro guia é aquele que inteligentemente conduz a todos naturalmente, levando-as a praticar atos impossíveis e inimagináveis.
1.8 De Jesus se diz: "e todos O seguiam, e O procuravam", era um jovem perguntando: "Que farei para ter a vida eterna?" eram os adultos entrando até pelo telhado, eram as crianças correndo ao Seu redor, chegando a impacientar os discípulos. "Eu sou a luz do mundo", afirmava Jesus. O verdadeiro líder consegue motivar, encorajar a todos os membros para agirem com ele em favor da verdade.
1.9. Mas, finalmente chegou as 14:00h daquele sábado e a igreja retornou em peso para a reunião de preparo. Entre eles estava o jovem tímido que na parte da manhã procurou se desculpar com o pregador.
1.10 Inteligentemente o pastor formou os vários grupos:
Os da recepção;
Os da distribuição de volantes (convites);
Os visitantes;
Os instrutores bíblicos;
Os da temperança;
Os grupos de oração freqüentes, com vários horários;
Os orientadores gerais e etc.
1.11. O pobre rapaz já respirava até com dificuldade, "morrendo de medo" de ser apontado a qualquer instante pelo pastor e perder até a fala. Curioso percebeu que alguns iriam realizar várias tarefas.
1.12. Finalmente o pastor escolheu um líder para cada grupo e solicitou que fossem para salas diferentes para receberem as suas obrigações. Todos se retiraram, só ficou ali o pastor e o jovem.
Já bastante nervoso o jovem olhou para o pastor e disse: "E agora, eu vou fazer o que?" Silenciosamente o pastor tomou uma mala, retirou lá de dentro dois cartazes grandes e sob o olhar angustiado do rapaz disse: "Fique em pé." Tremendo ele se pôs em pé. O pastor colocou dois cartazes preso no pescoço do rapaz com os convites das reuniões, e os principais temas e disse: "Agora você vai ser o primeiro a sair pelas ruas, e se alguém perguntar o que é isso, você aponta para que leiam. "Corra toda a cidade" disse a pastor. O jovem saiu feliz: "Não preciso falar, não preciso convidar ninguém, é só apontar para os cartazes escritos se alguém me interrogar."
1.13. Resultado, já estava quase na hora marcada para a reunião e o rapaz ainda não tinha ainda aparecido. O pastor tinha certeza de que ainda deveria estar trabalhando. Sim, finalmente vem o rapaz, e agora já totalmente desinibido. "Perdi o medo, pastor", convidei, falei, preguei, não foi no início não; depois de tantas interrogações, eu achei que estava na hora de falar.
1.14. Naquela noite, um conhecido cantor chegou para fazer um grande show, e quando voltava do ensaio leu a propaganda da reunião com palestras e boa música. Aquela noite estava livre, e resolveu assistir a reunião, e, encurtando a história, aquele senhor se tornou um grande cantor evangelista.
1.15. A serva do Senhor escreveu: "Longamente tem Deus esperada que o espírito de serviço se apodere de toda a Igreja, de maneira que cada um trabalhe para Ele segundo sua habilidade." Atos dos Apóstolos, pág, 111.
2.1. A terceira e importante etapa é escrita no verso 3 de Lucas 5: "E assentando-Se ensinava do barco a multidão".
2.2. Nós precisamos nos sentar com Jesus para ouvir os Seus ensinamentos antes de sermos "pescadores", precisamos receber os ensinamentos do Divino Mestre. O trabalho realizado sem Cristo resulta em nada. E às vezes é até perigoso.
2.3. Exemplo disso aconteceu com os exorcistas judeus registrado em Atos19:13-16.
Eles quiseram usar o nome de Jesus da forma que Paulo fazia, tentaram expulsar o demônio de alguns. Resultado, o demônio disse: "Conheço a Jesus e bem sei quem é Pauto, mas vocês, quem são?" E o Espírito maligno avançou sobre eles, assenhoreou-se (apossou-se) daqueles judeus, deu uma grande surra neles e, diz a Bíblia: "nus e feridos fugiram daquela casa".
2.4. Fazer uso indevido do nome de Jesus e ser hipócrita espiritual é querer parecer; mas negar a eficácia da missão apostólica.
2.5. Quantas vezes vemos escrito num adesivo, afixado no pára-brisa traseiro dos carros, "a serviço do Rei Jesus", e o motorista se porta como demônio no trânsito, dando "fechadas" nos outros carros, usando nervosamente a buzina, avançando o sinal vermelho, apavorando os pedestres; o tipo de motorista "abusado", mas, no "carrinho dele está o falso aviso: "A serviço do Rei Jesus".
2.6. "Unicamente o trabalho realizado com muita oração e santificado pelos méritos de Cristo, demonstrar-se-á afinal haver sido eficaz." – O Desejado de Todas as Nações, 362.
2.7. Se quiser comunicar luz aos outros, os raios do Sol da Justiça devem brilhar em seu própria coração.
2.8. "A não ser que o professor seja um discípulo na escola de Cristo, não estará habilitado para ensinar aos outros." – Special Manuscripts, Livro 1, págs. 411-412.
2.9. Não nos enganemos, irmãos, o sucesso espiritual não acontece por acaso, mas sim pela busca sincera dos méritos de Jesus, e a adaptação dessa graça em nossa vida diária.
2.10. Não pode ser diferente disso: porque nós somos os "terminais da Trindade" como já temos afirmado: "Cumpre-nos cooperar com os três poderes mais altos no Céu: o Pai, o Filho e o Espírito Santo, e esses poderes operarão por meio de nós fazendo-nos coobreiros de Deus". Evangelismo, 617.
2.11. Se a Trindade opera através de nós, por conseguinte nós nos constituiremos no substrato (aquilo sobre o que repousam as qualidades), repito, nós somos o substrato ou a base aonde deve se assentar, em nós, o poder divino, para conseguirmos ser o mensageiro qualificado para as grandes realizações de Deus.
2.12. Guilherme Carey disse já em 1792:"Esperai grandes coisas de Deus? Fazei grandes coisas para Deus". Isto é: Toda a intensidade que eu colocar na minha base cristã, será a força que Deus vai colocar sobre ela. Se eu estiver com instalações para 5 volts virá 5. Se eu me preparei para 5.000 virá 5.000. Quem limita a bênção é o ser humano e não o poder divino.
3.1. O quarto passo do sucesso evangelístico.
Leiamos Lucas 5:4 "Quando Jesus terminou de falar (ensinar) disse a Simão: Faze-te ao mar alto, e lançai as vossas redes para pescar."
3.2. Prestem muita atenção agora: no versa 4, existem 4 verdades de alto valor.
1ª verdade: Depois de todos terem ouvido a Jesus (multidão e discípulos);
2ª verdade: Jesus disse que só há um grupo;
3ª verdade: Vão ao alto mar;
4ª verdade: "Lançai as vossas redes para pescar".
3.3. Na primeira verdade todos estiveram aprendendo até o último momento, nada foi desperdiçado. Ouviram atentamente a Jesus até Ele terminar a aula.
Esse fato encheu a multidão, em especial a Pedro e aos seus colegas de emoção espiritual, vibrações evangélicas, crescimento na graça, alicerçou a fé e a confiança naquele novo líder religioso que esperava fazer ali alguns discípulos.
3.4. Jesus falou de coração a coração, de vida a vida, de mente a mente, o Sol da Justiça brilhou na alma escura dos discípulos e principalmente em Pedro, que liderava o grupo.
a. Hoje mais que nunca o mensageiro deve e precisa refletir a imagem de Cristo em todo o trânsito que leva ao Céu. Eu Sou o caminho a seguir, Eu Sou a verdade a ser pregada, Eu Sou a vida do pregador, quem crer em Mim fará tudo o que Eu faço. Aceitemos em nossos corações a Graça de Cristo.
b. Esses dias eu vi escrito atrás de um carro: "100% Cristo". Procurei logo me colocar ao lado daquele veículo para verde quem se tratava. Era uma senhora com uma expressão de cristã, mas olhando um pouco mais percebi que levava duas argolas tão grandes nas orelhas que dificultavam até os movimentos nos ombros dela.
3.5. Nós devemos, repito, refletir a imagem de Cristo em nosso semblante: "Quem vê a Mim, vê a Pai" disse Jesus. Hoje quem vê a mim (Adventista), deve ver o Filho de Deus. Isso tem que ser real. Teremos redes rompidas com carga excessiva de peixes (almas para o Reino de Deus).
Ouçam com atenção, esta ilustração:
3.6. Um professor de teologia estava ministrando aulas aos seus alunos. Com o giz na mão ele fez um ponto no quadro negro, e disse: "O mensageiro de Deus é também um ponto em movimento dentro do evangelho: ele prega, ele ora, ele visita, ele ensina a Bíblia, ele vai a todos os lugares". Enquanto dizia isso, ia fazendo o giz correr sobre o quadro-negro, em todas as direções. Quando terminou de falar, o percurso daquele giz tinha traçado o rosto de Jesus no quadro negro.
3.7. Nós, a nossa mensagem, nossas atitudes, nossos esforços evangelísticos, se na final não ficar impresso o rosto de Divino Mestre "trabalhamos o ano inteira e nada pescamos".
3.8. Vejam:
No hinário antigo "Cantai ao Senhor", dentre os muitos hinos, escritos ali, um sempre me impressiona. Ele termina com as perguntas: "Vêem os outros Jesus em mim? Vêem os outras Jesus em ti?"
3.9. No próximo assunto nós vamos continuar com o mesmo tema "O Romper de Redes", e vamos analisar as quatro grandes verdades de Lucas capítulo 5.

Será às ­­_____ horas do Dia _____

Eu queria terminar agora perguntando quantos de nós queremos nos transformar num instrumento de salvação?
Eu quero me transformar nisso e você quer também?



O ROMPER DAS REDES (PARTE II)

Lucas 5:4-11

I a) Nós mencionamos na primeira parte deste assunto as quatro verdades de Lucas 5 verso 4.
1ª Verdade: Jesus terminou a pregação: falou à multidão e aos discípulos
2ª Verdade: Disse Jesus a Simão. Só falou com o líder.
3ª Verdade: Vão ao alto mar. Indicou o local de trabalho.
4ª Verdade: Lançai as vossas redes para pescar. Essa é uma ordem, com resultado garantido.
b) Ilustração: O pastor da igreja foi visitar o membro mais idoso daquela congregação Era uma velhinha de quase 100 anos de idade. Há meses a anciã estava enferma e acamada. Como sempre acontece nessas ocasiões, a senhora estava vitimada de uma temporária melancolia.
Sentado ao lado do leito, disse-lhe o pastor: "Se eu fosse o seu médico, a senhora naturalmente esperaria que eu lhe deixasse uma receita. Pois é o que eu vou fazer". Tirando um cartão do bolso, nele escreveu as seguintes palavras da Bíblia. "Não temas, porque Eu sou o teu Deus, Eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento com a Minha destra fiel." Isa. 41:10.
Abaixo deste verso ele escreveu: "Fazer uso antes de dormir, depois de acordar e durante o dia, tantas vezes quanto sentir necessidade".
c) Essas quatro verdades que mencionamos há pouco, devem ser comidas, digeridas, assimiladas por todos aqueles que querem, à semelhança daquela velhinha de 100 anos, se levantar e realizar o trabalho do senhor, com obediência e fé.
d) Vamos analisar estas verdades acima:

1ª Verdade: Jesus precisa ser entendido na sua essência.
a) A renúncia por parte de Cristo. Despir-Se das roupagens divinas, e vestir-se das marcadas vestes humanas de quatro mil anos de enfermidade: Ele tomou sobre si as nossas dores."
b) O plano da salvação, preocupação da Trindade – o sacrifício expiatório. A Sua "ordem" de ir pregar a Sua vinda, e finalmente, Jesus deve ser ouvido até o final, até Ele parar de falar.

2ª verdade. Vimos na 2ª verdade do verso 4, Jesus parou de falar à multidão e aos apóstolos, mas disse a Pedro – continuou a comandar a Pedro.
a) O líder do grupo deveria receber as suas instruções e executá-las com os demais apóstolos. Pedro era o que responderia a partir daquele momento por aquela missão daquela hora. Assumindo o comando daquela difícil jornada – ao alto mar". Ele deve ter repetido aos seus colegas, frustados por uma noite vazia, sem resultados, a ordem de Jesus, a Mestre disse, e acabou o assunto.
b) Quando Deus lhe nomeia para fazer um trabalho, assumir uma função na Igreja, você deve obedecer sem fazer greve. Sim, há muitos membros de braços cruzados na Igreja; estão de greve com o pastor, ou com os diáconos, ou com alguém que os criticou, deixando de colaborar com Deus e Sua Igreja.
Não se esqueça que o pastor com o tempo se aposenta, o ancião se muda de cidade ou morre, os diáconos se revezam e alguns até deixam a Igreja. Aquela pessoa que criticou, amanhã estará apostatada. E você que fez greve contra aqueles todos que passaram, ficou de braços cruzados, e prejudicou os trabalhos da Igreja, e, segundo o Espírito de Profecia, daremos conta por todo minuta desperdiçado, desinteressa-se o motivo, se foi desperdiçado, eu tenho de pagar.

3ª Verdade no verso 4 – A ordem: "Vão ao alto mar"
a) Pensemos em atingir ao alto evangelismo, as multidões e para todas as classes, todas as camadas sociais, todos os perdidos, são os alvos de Deus. O Senhor não se contenta com um trabalho incompleto e negligente.
"Se tão somente nos humilhássemos diante de Deus e manifestássemos bondade, cortesia, ternura e piedade; haveria cem conversões para a verdade, ande agora há uma só." Testemunhos Seletos, Vol. 9, pág. 189.
Saibamos: O resultado do nosso trabalho, é da mesma intensidade do trabalho feito em nós, pela ordem que recebemos.

4ª Verdade do verso 4 de Lucas 5 diz: "Lançai vossas redes para pescar."
a) A esta altura o pescador vai usar a sua própria rede, suas habilidades pessoais, seus talentos particulares, a sua própria ciência; naturalmente atendendo ao manto divino. "Lançai as vossas redes."
b) Davi disse ao gigante: "Eu vou a ti em nome do Senhor dos Exércitos", isso estava na sua mente, no seu coração, firmados por experiência pessoal. Mas, na sua mão direita, a funda de uso próprio e, permanente, na sua mão esquerda, pedras especiais, escolhidas no ribeiro; no seu corpo, as vestes de um fiel pastor. A espada e a couraça de Saul eram estranhas à habilidade de Davi.
c) Nós falamos no início que o cavalo branco do Apocalipse saiu vitorioso, e para vencer, porque estava sendo cavalgado por Cristo
Quando você está atendendo as ordens do nosso Mestre Jesus, as nossas redes são lançadas para pescar de verdade.
d) O Mar Vermelho vai se abrir, a vara cortada vai dar frutos, o azeite vai continuar até encher todos os vasos, as multidões exclamarão. que faremos? Os aleijados andarão, os cegos verão. O evangelho será pregado em todo o mundo – em suma, "lançaremos as nossas rede para pescar."

II a) No verso 5 de Lucas descortinamos o mistério do sucesso, a chave que abre aporta da eternidade, a obediência que provém da fé: Pedro reconhece todo o seu insucesso, de uma noite de grandes fadigas, de longos esforços com resultado zero.
b) "Sobre Tua palavra lançarei a rede."
c) No verso 6: "E, fazendo assim, colheram uma grande quantidade de peixe e rompia-se-lhe a rede."
d) Pedro prometeu a Jesus que obedeceria a sua ordem (v.5) e "fez assim" e experimentou uma gigantesca pescaria jamais acontecida em toda a sua vida de pescador. "Colheram uma grande quantidade de peixes, e rompia-se-lhes as redes."
e) Quando, na qualidade de mensageiros de Deus, fizermos a nossa parte, executando fielmente os requisitos divinos; os resultados ficam por conta de Deus. Acontece a pesca maravilhosa.
f) Quando os frutos despontam de forma exuberante e pródiga necessário se faz convocar a parte estática, parada, inativa da igreja, para acorrerem e entrem na luta do "puxar as redes" que se rompiam.
g) "Fizeram sinal" aos companheiros que estavam no outro barco para que fossem ajudar. E foram e encheram ambos os barcos, de maneira tal que quase iam á pique.
h) Que tipo de sinal a igreja está passando para os membros inativos? Eu acredito que Pedro transmitiu um "sinal" cheio de entusiasmo, cheio de certeza, um "sinal" material e espiritual. Aquilo que acabara de presenciar, redes se rompendo, peixes saltitantes, pequenos e grandes, alguns até enormes, dentro das redes, outros até caindo fora das redes.
i) Com esta visão na mente ele clama por ajuda, quase pedindo socorro. Às vezes a voz da nossa alma, o grito dos nossos sentimentos atingem mais do que os nossos "berros" desorientados e estéreis (seco).
i) Dois métodos estão sendo usados para despertar os soldados de Cristo na igreja: a lisonja ou a aspereza, ambos são falhas.
Na sua carta de 21 de Janeiro de 1903, escreveu a serva do Senhor: "Necessita-se de líderes: líderes fiéis que não lisonjearão o povo de Deus, e nem tratarão asperamente, antes o alimentarão com o pão da vida."
k) Eu pergunto: Quando se romperão as redes da igreja? Eu acho que devem acontecer duas coisas:
A 1ª coisa é o líder ouvira a voz de Jesus ordenando o que fazer. No casa, é lançar as redes.
A 2ª coisa é a igreja ver o sinal do líder e vir ajudar a puxar as redes.
l) Há tantos barcos (igrejas) parados e vazios, carentes de um sinal feito par um líder verdadeiro, um Pedro, para lotarem as suas dependências. Pense seriamente nisso, meu amado irmão.
m) Jesus está esperando pela Sua igreja, aguardando o seu despertamento para acumula-los de ricas bênçãos.

III a) Talvez o ato mais bonito deste fato esteja no verso 8:."E, vendo isto, Simão Pedro prostrou-se aos pés de Jesus dizendo: Senhor, ausenta-te de mim, que sou um homem pecador."
b) Pedro sentiu-se pequeno e insignificante com a presença do divino Rei, presenciar o Seu poder e toda a Sua magnitude, curvou confessa, "sou um homem indigno de tantas maravilhas."
c) A maior causa de Sermos preteridos pelo Céu é a falta de reconhecermos o nosso benfeitor; Jesus foi quem ressuscitou a Lázaro, nós só tiramos a pedra da boca do túmulo, mas queremos parecer os feiticeiros de Lázaro.
d) Vocês já pensaram por que de 32.000 mil homens só 300 ficaram com Gideão? Lá em Juízes capítulo 7 verso 2, última parte, responde: "A fim de que Israel, se não glorie contra mim dizendo: a minha mão me livrou."
e) Notem: Deus escolheu 1 de cada 100 soldados de Gideão porque, só aqueles homens estavam preparados para receberem a vitória, os outros eram covardes, indolentes, negligentes, "impróprios para o consumo de Deus."
f) Porque não ganhamos muitos para as nossas igrejas hoje? Porque mesclado com o povo de Deus convive um "vulgo", semelhante àquele que foi admitido por Moisés e saiu do Egito com os israelitas e, apesar dos milagres, estavam sempre falando contra Moisés, ofendendo a Deus.
g) O espírito comovido e agradecido de Pedro e dos seus companheiros predispuseram a eles a faculdade de receberem o convite de Jesus.
Na verso 10: "E disse Jesus: não temais, de agora em diante sereis pescadores de homens"
h) O verso 11 nos revela uma grande verdade: Jesus estava com eles na maravilhosa pesca, lá em alto mar, e tudo ocorreu com a Sua presença e atuação.
Hoje não será diferente – as nossas redes se romperão quando os líderes derem o sinal certo da ordem de Jesus, os membros aceitarem essa liderança e partirem para a pesca, sentindo a presença de Jesus.

IV a) Tudo o que falamos até agora é de capital importância e elevado espírito evangelístico; mas, sem o verso 11 do capítulo 5 de Lucas nós ficaríamos sem um bom ponto final. Vamos ler: "E, levando os barcos para a terra, deixaram tudo e o seguiram."
Vejam:
1. Os pescadores de peixes do alto mar, com seus barcos cheios, não deixaram de cumprir a seu dever material – "levaram os barcos superlotados das bênçãos materiais até local seguro: a praia." Deus precisa de homens cumpridores das suas tarefas materiais. Ali estavam alguns que, inclusive continuaram servindo a Jesus e executando as tarefas materiais necessárias à sua sobrevivência.
2.1."Deixaram tudo e O seguiram", diz a última parte do verso 11. Que feliz decisão, que gloriosa escolha. "Escolheram ser maltratados com o povo de Deus". Só a eternidade revelará a obra e a missão realizada por aqueles homens!!!
2.2. Eu acredito que hoje o Espírito Santo falou no coração de muitos de nós aqui presentes e, Deus quer decisões agora. Eu quero vos convocar.
Alguns podem dedicar mais horas do seu trabalho material, na obra do Senhor. Eu quero saber agora quantas horas querem dedicar, os já com vida resolvida, aposentados, tanto civis como militares e que querem assumir um trabalho novo e acender a luz num lugar virgem.
2.3. Existem no Brasil, centenas de pequenas cidades, milhares de povoados, em todos os estados sem nenhum Adventista.
2.4. Existem em nossas igrejas centenas de casais, aposentados, inteligentes, ainda novos, com possibilidades financeiras de sobreviverem em qualquer lugar. E que estão em nossas congregações quase que totalmente inativos, ou exercendo funções que poderiam ser facilmente assumidas por outras pessoas impossibilitadas de saírem agora de onde se encontram.
2.5. Lembrem-se disto: Deus está chamando estes casais agora para assumirem as redes do evangelho e saírem à pesca de muitas almas nestes lugares solitários ao evangelho. Tomem uma decisão definitiva e Deus irá vos recompensará.
2.6. Ouçam isso com muita atenção. O Dr. Alexandre Duff era um grande missionário veterano da Índia. Já bem velho e cansado, voltou à sua terra natal, a Escócia para morrer. Na assembléia geral da Igreja na Escócia, fez o seu último sermão, e terminou com um apelo aos jovens, especialmente as pessoas já livres de muitos compromissos Ninguém respondeu aos comoventes apelos do velho missionário.
Emocionado, aquele servo de Deus desmaiou e caiu ao solo, sendo carregado para fora da plataforma. O médico ali presente se inclinou sobre ele e examinou o seu coração. Repentinamente ele abriu os olhos e perguntou: "Onde estou? Onde estou?" "Fique quieto", disse o médico. "Seu coração está muito fraco!" O veterano interrompeu-lhe: "Mas preciso terminar o apelo, leve-me de volta. Ainda não terminei o apelo." De novo o médico quis acalmá-lo. "Fique quieto, o senhor está muito fraco para voltar lá." O velho batalhador não se deixou deter. Reunindo as suas últimas energias, conseguiu ficar em pé, e, com o médico ao seu lado, e o presidente da Assembléia de outro, o velho soldado de cabelos brancos, foi levado de volta ao púlpito, enquanto toda congregação se levantava para homenagear a sua coragem.
Então ele recomeçou o apelo dizendo: "Quando a rainha Vitória faz um pedido de voluntários para a Índia, centenas de moços se sentem convocados e atendem ao apelo da rainha da Inglaterra. Mas, quando o Rei Jesus pede missionários, ninguém vai." Fez uma pausa e continuou: "Será que a Escócia não tem mais filhos missionários?" Todos ouviam em silêncio. Imaginando que ninguém estivesse interessado em ser missionário, acrescentou: "Está bem, se a Escócia não tem mais jovens voluntários, eu voltarei à Índia apesar de velho, doente e decrépito. Eu sei que vou tombar às margens do rio Ganges e morrer, mas o povo da Índia saberá que um velho missionário se interessa por eles."
Quando o velho pregador voltou-se para deixar o púlpito o silêncio foi quebrado. Por toda a congregação, pessoas se levantaram, e gritavam: "Eu vou", "Eu vou", "Eu vou". Pouco tempo depois o missionário faleceu, mas dezenas de pessoas seguiram para evangelizar a Índia.
2.7. E você, meu irmão Adventista? Está disposto a ir? Deus já falou ao seu coração, já ouviu o clamor de centenas de cidades, vilas e lugarejos solitárias sem Adventistas?
2.8. Duos tem esperado por muito tempo a decisão de Seus servos de irem agora. Alguns já foram, outros estão indo. E você irá também?

V a) Vamos seguir um plano bem organizado:
1. Vamos fazer um levantamento com fichas que deverão ser preenchidas logo após o sermão, perguntando:
1.1. Você pode ser um missionário? Sim ­_____ Não­­­_____
1.2. Você está disponível agora? Sim ­_____ Não­­­_____
1.3. Você teria recursos próprios para ir? Sim ­_____ Não­­­_____
1.4. Você não podendo ir, poderá assalariar alguém que quer ir e não tem meios materiais. Notem que eu estou escrevendo este sermão, não pude ir agora, mas já mandei alguém bem distante daqui (a 400 Km) em meu lugar, e pago mensalmente todas as despesas dele. Já batizou um bom número de pessoas. Louvado seja o Deus do Céu.
1.5. Crie na sua igreja um Grupo Missionário para bairros próximos sem Adventistas e pequenas cidades e povoados fáceis de atingir, e crie uma mentalidade missionária nos membros da sua igreja.
1.6. Enquanto o filho pródigo não se levantou e andou, ele não podia ser abençoada pelo seu pai. Deus vai nos abraçar, cobrir os nossos andrajos, quando formos em direção de milhares de sinceros esperançosos de salvação.

Deixemos os nossos anzóis e vamos pescar de redes, nossa colheita será maravilhosa.


A Oração de Jabez
(The Prayer of Jabez)



Um Sermão (Nº 0994)
Pregado pelo
Reverendo C. H. Spurgeon
No Metropolitan Tabernacle, Newington– Inglaterra

“Se me abençoares muitíssimo!”— (1 Crônicas 4:10)
Sabemos muito pouco sobre Jabez, exceto que ele era o mais ilustre entre seus irmãos e que este nome foi dado a ele porque sua mãe deu à luz com dores. Isto pode acontecer, quando há muito sofrimento na vida dos antepassados, pode haver mais alegria para os descendentes. Assim como a tempestade dá lugar ao sol, também uma noite de choro precede a manhã de alegria. Tristeza, o arauto; contentamento, o príncipe anunciado. Cowper diz: -
“O caminho da tristeza, e somente este caminho,
conduz ao lugar onde tristeza é desconhecida”.

Sabemos que devemos semear em lágrimas antes de colhermos com alegria. Muitos de nossos trabalhos para Cristo nos custaram lágrimas. Dificuldades e desapontamentos já angustiaram nossa alma. Apesar destes projetos terem custado mais do que uma tristeza comum, tornaram-se os trabalhos mais gratificantes. Enquanto nosso pranto, chamado de descendência do desejo "Benoni", o filho de minha tristeza, nossa fé pode depois dar-lhe o nome de regozijo, "Benjamin", o filho de minha mão direita. Pode ser que você espere por uma bênção por servir a Deus, se você conseguir perseverar ante muitas dificuldades. O navio que demora muito para voltar está se arrastando pelo caminho pelo excesso de carga. Espera-se que a carga seja a melhor quando ele chegar ao porto. Mais ilustre que seus irmãos, foi a criança que a mãe deu à luz com muitas dores. Por isso Jabez, cujo objetivo foi tão marcante, sua fama tão cantada, seu nome tão memorável - foi um homem de oração. A honra que ele obteve não teria valor se não tivesse sido tão contestada e justamente conquistada. Sua devoção foi a chave para sua promoção. Estas são as melhores honras que vêem de Deus, o prêmio da graça com a consciência da obra. Quando Jacó recebeu o nome de Israel, ele recebeu seu principado depois de uma memorável noite de oração. Certamente foi de muito mais valia para ele do que se tivesse vindo como uma distinção elogiosa de algum imperador mundano. A melhor honraria é aquela que o homem recebe de sua comunhão com o Altíssimo. Jabez, aprendemos, foi o mais honrado de seus irmãos e sua oração imediatamente citada, como se para anunciar que ele também orava mais do que seus irmãos. Está escrito do que consistiam suas petições. Ela toda muito significativa e instrutiva. Temos apenas tempo para analisar um termo dela - muitíssimo, termo que pode indicar a compreensão do texto todo: Se me abençoares muitíssimo! Eu o recomendo como uma oração para vocês mesmos, caros irmãos e irmãs; uma que estará disponível em todas as estações; uma oração para começar a vida cristã, uma oração para terminá-la, uma oração que nunca estará fora de contexto em suas alegrias e tristezas.
Oh que tu, o Deus de Israel, o Deus da aliança, me abençoes muitíssimo! A própria força da oração parece residir na palavra, muitíssimo. Existem muitos tipos de bênçãos. Algumas são bênçãos somente no nome: elas satisfazem os nossos desejos por um momento, mas desapontam permanentemente nossas expectativas. Elas fascinam os olhos, mas são insípidas ao paladar. Outras são apenas bênçãos temporárias: se gastam com o uso. Embora por um instante regalem os sentidos, não podem satisfazer os anseios mais elevados da alma. Mas, se me abençoares muitíssimo! Aprendi que, aquele que Deus abençoar será abençoado. Uma boa coisa será dada pela boa vontade do doador, e produzirá tão boa sorte ao receptor que será considerada abençoada muitíssimo, pois nada pode ser comparado a ela. Deixe que a graça de Deus aja, deixe que a escolha de Deus determine, deixe que a abundância de Deus quantifique, e então o presente será muitíssimo divino; uma coisa que valerá a pena ser dita como bênção, e realmente desejada por todos que procuram a honra que seja substancial e duradoura. Se me abençoares muitíssimo! Medite, e você verá que existe um significado profundo na expressão.
Vamos contrastá-la com algumas bênçãos humanas: Se me abençoares muitíssimo! É muito prazeroso sermos abençoados por nossos pais, e por aqueles amigos veneráveis cujas bênçãos vêem de seus corações, embrulhadas por suas orações. Muitos homens não têm outro legado para seus filhos a não ser a sua bênção; mas a bênção de um pai honesto, santo e cristão é um rico tesouro para seu filho. Você pode achar que é uma coisa deplorável para a vida ter perdido a bênção de seu pai. Nós a apreciamos. A bênção de nosso pai espiritual é consoladora. Apesar de não crermos em sacerdotalismo, gostamos de viver no afeto daqueles que foram os instrumentos para nos levar a Cristo, e daqueles lábios que fomos instruídos nas coisas de Deus. E, quão preciosa é a bênção dos pobres! Não imagino que Jó tenha entesourado isto como algo bom. "Quando o ouvido ouviu, então ele me abençoou". Se você consolou uma viúva ou um órfão, e seus agradecimentos voltam a você abençoando-o, não é uma recompensa vil. Mas, caros amigos, apesar de tudo que os pais, parentes, santos e pessoas agradecidas podem fazer com suas bênçãos são muito aquém do que desejamos ter. Oh, Senhor, mesmo tendo as bênçãos de nossos semelhantes, as bênçãos que vêem de seus corações; entretanto, se me abençoares muitíssimo!, pois tu podes abençoar com autoridade. As bênçãos deles podem ser com palavras, mas as tuas são eficazes. Eles podem desejar o que não podem fazer, e desejar dar o que não têm à disposição, mas Sua vontade é onipotente. Criaste o mundo com apenas tua palavra. Oh, que tal onipotência anuncie sua bênção! Outras bênçãos podem nos trazer pitadas de riso, mas no teu favor está a vida. Outras bênçãos são somente títulos comparadas com as suas bênçãos; pois sua bênção é o direito a "uma herança incorruptível" e que não desaparece, a "um reino que não será derrubado". Desta maneira, Davi apropriadamente orou em outro lugar, "com sua bênção seja a casa de teu servo abençoada para sempre". Talvez nesta hora, Jabez pode ter contrastado a bênção de Deus com as bênçãos dos homens. Os homens te abençoam quando você faz o bem. Eles louvam o homem que obtém sucesso nos negócios. Nada é tão vitorioso quanto o sucesso. Nada tem tanta aprovação do público em geral quanto a prosperidade do homem. Miseráveis! Não pesam as ações do homem na balança do santuário, mas em outras bem diferentes. Você encontrará aqueles que lhe recomendarão se você for próspero; ou, como os confortadores de Jó, te condenam se você estiver sofrendo adversidades. Talvez haja algumas características de suas bênçãos que podem agradá-lo, pois você acha que as merece. Você é condecorado por patriotismo: afinal, você foi um patriota. Você é recomendado por sua generosidade: você sabe o tamanho de seu auto-sacrifício. Bem, mas afinal, qual o veredicto do homem? Em um julgamento, o veredicto de um policial que está na corte, ou dos espectadores que sentam-se na sala de julgamento, somam a absolutamente nada. O homem que está sendo julgado sabe que a única coisa importante mesmo será o veredicto do júri, e a sentença do juiz. Portanto, será de pouca valia para nós o que fazemos, como os outros nos elogiam ou censuram. Suas bênçãos não têm valor. Mas, se me abençoares muitíssimo!, quer dizer, "muito bem, servo bom e fiel". Premias a frágil obra que através de tua graça meu coração te rendeu. Terei sido, então, muitíssimo abençoado.
Muitas vezes os homens são abençoados como um completo elogio. Sempre há daqueles que, tal como a raposa da fábula, esperam ganhar o queijo ao elogiar o corvo. Nunca viram plumagem igual, e nenhuma voz soou tão suave. Toda sua mente está voltada não a você, mas no que podem conseguir de você. A raça de elogiadores nunca será extinta, pois os elogiados também elogiam a si mesmo. Eles entendem que os homens se elogiam mutuamente, mas é palpável e transparente que, quando recebem tal presente, aceitam-no com uma grande porção de auto-complacência, como se fosse um exagero, mas, mesmo assim, muito próximo da verdade. Não somos aptos a dar descontos nos elogios que os outros nos oferecem; entretanto, se fossemos sábios, abraçaríamos os que nos censuram e manteríamos os que nos elogiam a um metro de distância, pois os que nos censuram face-a-face não estão nos mercadejando; mas quanto aos que nos louvam, logo se levantam e usam frases que nos exaltam, deveríamos suspeitar, e raramente seremos injustos na suspeita, de que existe um outro motivo além do que enxergamos por trás do louvor que eles nos rendem. Jovem, você está numa posição na qual Deus está te honrando? Cuidado com os que te elogiam. Você tem grandes propriedades? Tem abundância? Sempre há moscas onde há mel. Cuidado com os elogios. Mocinha, você é bonita? Haverá daqueles que terão seus desígnios, talvez desígnios malignos, ao falar de tua beleza. Cuidado com os que elogiam. Saia de perto de todos os que têm mel na língua, por causa do veneno das áspides que está em baixo dela. Medite na advertência de Salomão, "não se misture com os que elogiam com seus lábios". Peça a Deus, "Livre-me de toda essa adulação vã, que me enoja a alma". Assim você vai orar a ele com mais fervor, se me abençoares muitíssimo! Quero a bênção que nunca diz mais do que pretende; que nunca dá menos do que promete. Se você comparar a oração de Jabez com as bênçãos que vêm dos homens, você verá a força dela.
Mas nós podemos vê-la por outro ângulo e comparar a bênção que Jabez almejava com as bênçãos que são temporais e transitórias. Existem muitas riquezas dadas a nós pela misericórdia de Deus, pelas quais prostramo-nos agradecidos; mas não devemos nos garantir delas. Devemos aceitá-las com gratidão, mas não fazer delas ídolos. Quando as temos, temos a necessidade de clamar, abençoa-mes muitíssimo, transforme estas bênçãos menores em bênçãos reais, e se não as temos, com mais veemência ainda devemos clamar, oh, que possamos ser ricos na fé, e se não formos abençoados com estes favores externos, que possamos ser abençoados espiritualmente, então seremos abençoados muitíssimo!.
Vamos rever algumas destas misericórdias apenas para falar uma ou duas palavras sobre elas.
Um dos primeiros desejos do homem é por riqueza. Este desejo é tão universal que podemos praticamente dizer ser ele instintivo. Quantos não diriam que se possuíssem-na seriam muitíssimo abençoados! Mas existem dez mil provas que a alegria não consiste na abundância que o homem possui. Tantos exemplos são bem conhecidos que eu nem preciso citá-los para mostrar que quem tem riquezas não é muitíssimo abençoado. São mais aparência do que realmente são. Assim, já foi muito bem dito que, quando vemos o quanto um homem tem, nós o invejamos; mas se pudéssemos ver o quão pouco ele aproveita, nós teríamos pena dele. Muitos dos que tiveram as circunstâncias mais fáceis tiveram as mentes mais difíceis. Aqueles que conseguiram o que queriam, fossem seus desejos sadios, foram conduzidos pela posse do que os deixava infelizes pois não tinham mais.
"O avarento tem fome em seu celeiro,
Choca seu ouro, querendo mais,
Senta-se tristemente sem se mover, acredita ser pobre".
Nada é mais claro para alguém que queira investigar que, as riquezas não são o bem principal do qual a tristeza foge, e na presença da qual a alegria eterna brota. Muito freqüentemente a riqueza engana seu possuidor. Delícias são esparramadas em sua mesa, mas seu apetite desaparece, músicos aguardam seu comando, mas seus ouvidos estão surdos para qualquer tipo de música; tem quantos feriados quiser, mas para ele a recreação perdeu seu encanto; se for jovem, a fortuna veio a ele por herança, e ele aproveita seu ganho até que o esporte se torne mais enfadonho do que o trabalho, e a dissipação pior do que o trabalho pesado. Vocês sabem como a riqueza pode fabricar asas, como um pássaro que descansa na árvore, ela voa para longe. Na doença ou nos momentos de desânimo, estes amplos recursos que antes sussurravam, "Alma, descansa", provam ser confortos nada eficientes. Na morte, elas fazem o choque das separações parecer mais fortes, pois quanto mais você deixa, mais você perde. Podemos dizer, se tivermos riquezas, Deus meu, não me deixe perturbar por estas aparências, não deixe que eu transforme o ouro e a prata em deuses, os bens e possessões, minhas propriedades e investimentos, as quais me deste por sua providência. Eu te imploro, abençoa-me muitíssimo. Quanto às possessões terrenas, estas serão minha ruína a menos que eu veja a sua graça nelas. E se você não tiver riquezas, e provavelmente a maioria de vocês nunca terá, diga, Pai, negaste-me este bem externo e aparente, enriqueça-me com seu amor, dê-me o ouro de tua aprovação, abençoa-me muitíssimo; então distribua aos outros conforme tua vontade, divida a minha porção, minha alma espera pela tua determinação diária; assim me abençoas muitíssimo, e eu serei contente.
Outra bênção transitória que nossa pobre humanidade deseja desesperadamente e procura ardentemente é a fama. A este respeito nos ufanamos de ser mais ilustres que nossos irmãos, e ultrapassamos nossos competidores. Parece muito natural o desejo de fazer um nome, e ganhar reconhecimento no círculo ao qual pertencemos, qualquer que seja, e gostaríamos de ampliar seu perímetro, se pudéssemos. Mas aqui, como nas riquezas, é inquestionável que a fama não traz com ela nenhuma medida de gratificação. Os homens, ao procurar por notoriedade e honra, têm um grau de prazer na busca em si, que nem sempre possuem quando finalmente alcançam seu objetivo. Alguns dos homens mais famosos também foram os mais miseráveis da raça humana. Se você possui honra e fama, aceite, mas eleve esta oração a Deus, Meu Deus, abençoa-me muitíssimo, pois qual a vantagem se meu nome estivesse em milhares bocas, se você o vomitasse da sua? Que importa, se meu nome estivesse escrito no mármore, se não estivesse escrito no Livro da Vida do Cordeiro? Estas são bênçãos aparentes, bênçãos efêmeras, bênçãos enganadoras. Dê-me a tua bênção, então a honra que vem de ti fará de mim um homem muitíssimo abençoado. Se por acaso você vive na obscuridade, e nunca entrou na lista dos ilustres entre seus companheiros, contente-se em correr bem sua carreira e complete verdadeiramente sua vocação. Não ter fama não é a doença mais grave; é pior do que tê-la como a neve, que branqueia o chão de manhã, e desaparece no calor do dia. O que importa para um homem morto o que os homens falam dele? Que você seja muitíssimo abençoado.
Existe outra bênção temporal que os homens sábios desejam, e podem legitimamente ambicionar além destas duas - a bênção da saúde. Será que podemos valorizá-la devidamente? Desconsiderar tal favor é a loucura de um irracional. Os maiores elogios dados à saúde nunca seriam extravagantes. Os que têm corpos saudáveis são infinitamente mais abençoados do que os que estão doentes, em qualquer estágio possível. Assim, se eu tenho saúde, meus ossos estão ajustados, meus músculos estão fortes, se eu mal conheço um mal-estar ou dor mas posso me levantar de manhã com um passo ágil e ir ao trabalho, e deitar-me no sofá à noite, dormir o sono dos justos, ainda assim, não me deixe gloriar em minha força. Em um minuto ela pode me faltar. Algumas semanas podem reduzir a força de um homem a um esqueleto. O corpo pode minguar, a face empalidecer com a sombra da morte. Não permita ao homem saudável que se glorie em sua força. O Senhor, "se apraz não na força dos cavalos, e não tem prazer nas pernas de um homem". E não nos vangloriemos destas coisas. Digam, vocês que gozam de boa saúde, Deus meu, abençoa-me muitíssimo. Dê-me uma alma saudável. Cura-me de minhas doenças espirituais. Jeová Rafá venha, e limpe a lepra que está em meu coração por natureza: faça-me saudável da maneira celestial, que eu não seja colocado de lado com os impuros, mas que me seja permitido ficar com a congregação dos teus santos. Abençoa minha saúde corporal para que eu a use com retidão, usando a força que eu tenho no teu serviço e para a tua glória; de outro modo, apesar de abençoado com saúde, não seja abençoado muitíssimo. Alguns de vocês, queridos amigos, não possuem o grande tesouro da saúde. Dias e noites tediosos são destinados a vocês. Seus ossos tornaram-se um calendário, através dos quais você pode prever a mudança do tempo. Tem tanta coisa acontecendo com você que só pode mesmo causar pena. Mas eu oro que você seja muitíssimo abençoado, e eu sei do que estou falando. Eu posso me identificar com uma irmã que me disse outro dia, "Eu tinha tanta proximidade com Deus quando eu estava doente, tanta certeza, e tanta alegria no Senhor e agora eu lamento dizer que eu perdi tudo isso; eu quase desejo estar doente novamente, se desta maneira eu tivesse a renovação de minha comunhão com Deus". Muitas vezes eu agradecido olhei para trás para quando eu estive doente. Tenho certeza que eu nunca cresci na graça, nem a metade, o quanto eu o fiz quando estive na cama, doente. Não deveria ser assim. Nossas curas deviam ser alegres fertilizantes para nosso espírito; mas freqüentemente nossos sofrimentos são mais salutares que nossas alegrias. A tesoura de podar é melhor para alguns de nós. Bem, apesar de tudo, se você tiver que sofrer de fraqueza, de debilidade, de dor, de angústia, que o seja sob os cuidados da divina presença, que esta leve aflição se transforme num peso excessivo e eterno de glória, e então você será muitíssimo abençoado.
Me deterei em apenas mais uma bênção temporária - quero falar da bênção do lar. Não creio que alguém possa valorizá-lo demais ou falar tão bem quanto ele merece. Que bênção é ter um canto, e os queridos familiares que se reúnem ao redor da palavra "lar", esposa, filhos, pai, irmão, irmã! Ora, não existem canções em nenhuma língua que são mais cheias de musicalidade do que as que são dedicadas à "mãe". Gostamos dos sons que a palavra "pai" coloca na música. "Pai" é a chave da música. Muitos de nós, espero, são abençoados com muitos destes relacionamentos. Não nos contentemos em consolar nossas almas com ligações que logo serão rompidas. Peçamos por uma que nos abençoe muitíssimo. Te agradeço, meu Deus, por meu pai aqui na terra; mas oh, seja o meu Pai, então serei abençoado muitíssimo. Te agradeço, meu Deus, pelo amor de mãe; mas conforte minha alma como uma mãe confortaria, então serei abençoado muitíssimo. Eu te agradeço, Salvador, pelos laços do matrimônio; mas sejas tu o noivo de minha alma. Eu te agradeço pelos laços de amizade com os irmãos; mas sejas o meu irmão nascido da adversidade, osso de meu osso, e carne de minha carne. Eu valorizo o lar que me deste, e te agradeço por ele; mas vou morar na casa do Senhor para sempre, e serei um filho que nunca se perde, onde quer que meus pés me levem, da casa de meu Pai com suas muitas moradas. Assim seremos abençoados muitíssimo. Se você não reside sob os cuidados paternos do Todo-poderoso, mesmo a bênção do lar, com todos seus confortos familiares, não alcançará a bênção que Jabez desejava para si. Mas, estarei falando com aqueles que não possuem relacionamentos? Sei que alguns de vocês foram deixados nas trincheiras de vidas tão seriamente machucados, onde os pedaços de seus corações estão enterrados, e as sobras são apenas o sangrar de tantas feridas. Bem! Que o Senhor os abençoe muitíssimo! Viúva, seu criador é seu marido. Órfão, ele disse, "não os deixarei, virei buscá-los". Sejam todos os seus relacionamentos feitos nele, e você será abençoado muitíssimo! Talvez eu tenha tomado muito tempo nestas bênçãos temporais, então deixe-me mudar o ângulo sobre o assunto. Creio que tenhamos tido bênçãos humanas e temporais suficientes para encher nosso coração de contentamento, mas não para enganar nossos corações com coisas deste mundo, ou distrair nossa atenção das coisas que pertencem ao nosso bem-estar eterno.
Prossigamos, em terceiro lugar, falando das bênçãos imaginárias. Existem tais coisas no mundo. Que Deus nos livre delas. Se me abençoares muitíssimo! O fariseu, por exemplo; de pé, na casa do Senhor, pensou que tivesse a bênção do Senhor, que tinha transformado-o num homem corajoso, falava com uma auto-complacência melosa, "Deus, eu te agradeço, pois não sou como os outros homens", e assim por diante. Ele tinha a bênção, e cria piamente que a tivesse merecido. Jejuava duas vezes por semana, pagava o dízimo de tudo quanto possuía, mesmo os trocados pela hortelã, e os centavos pelo cominho que ele tinha usado. Achava que tinha feito tudo. Era sua a bênção de uma consciência tranqüila e quieta; um homem bom, flexível. O padrão da paróquia. Era uma pena que todos não vivessem como ele, se vivessem, não precisariam de polícia. Pilatos poderia ter demitido seus guardas, e Herodes seus soldados. Ele era uma das pessoas mais excelentes que jamais nascera. Ele adorava a cidade da qual ele era um dos pilares! Ai, mas ele não era abençoado muitíssimo. Tudo isso era seu próprio conceito arrogante. Ele era apenas um saco de vento, e talvez fosse melhor que e a bênção que ele desejava não tivesse vindo jamais. O pobre publicano que ele julgava amaldiçoado, foi para casa justificado e ele não. A bênção não caiu sobre o homem que julgava tê-la. Oh, que todos sintamos a ferroada desta reprimenda, e oremos: "Grande Deus, salve-nos de nos imputar uma justiça que não temos. Salve-nos de nos embrulharmos nos nossos próprios trapos, achando que estamos vestidos para um casamento. Abençoa-me muitíssimo. Que eu tenha a justiça verdadeira. Que eu tenha o valor que tu podes aceitar, que é a fé em Jesus Cristo".
Outra forma de bênção imaginária é encontrada em pessoas que negam ter justiça própria. Sua ilusão, entretanto, é similar. Ouço-os cantar:
"Eu creio, eu sempre vou crer
que Jesus morreu por mim,
e na sua cruz derramou seu sangue,
para me libertar do pecado."
Você crê. Sim, mas como você sabe? Sobre qual autoridade você pode ter tanta certeza? Quem te disse? "Ah, eu creio." Sim, mas precisamos ter cuidado no que cremos. Você tem alguma evidência clara no interesse especial pelo sangue de Jesus? Você pode dar razões espirituais para crer que Cristo te libertou do pecado? Sinto que muitos têm uma esperança sem fundamento, como uma âncora sem gancho - nenhum lugar para se fixar, nada para se segurar. Dizem estar salvos, permanecem lá, acham pecaminoso duvidar disso; mas mesmo assim não têm nenhuma razão para garantir sua confiança. Quando dos filhos de Corá carregaram a arca, e a tocaram com suas mãos, o fizeram corretamente; mas quando Uzá tocou-a, ele morreu. Existem uns que têm plena certeza, para outros será a morte falar sobre o assunto. Há uma grande diferença entre pressuposição e certeza absoluta. Certeza absoluta é racional: é baseada em chão firme. Pressuposição imagina, e com cara lavada anuncia ser sua uma coisa a qual ela não tem direito algum. Cuidado, eu rogo a vocês, de pressupor que vocês estão salvos. Se com o coração você crer em Jesus, então você está salvo; mas se você simplesmente disser, "Eu confio em Jesus", isto não o salvará. Se o seu coração foi regenerado, se você odiar as coisas que antes amava, e ama as coisas que antes odiava; se houve um arrependimento real; se houve uma mudança em sua mente; se você nasceu de novo, então você tem motivos para regozijar-se: mas se não há uma mudança vital, nenhuma santidade interior; se não há amor por Deus, nenhuma oração, nenhum fruto do Espírito, então ao dizer: "Estou salvo", será por seu próprio entendimento, e pode enganá-lo, mas não libertá-lo. Nossa oração deveria ser, Abençoares muitíssimo com a fé verdadeira, com a salvação real, com a confiança em Jesus que é a essência da fé; não com o conceitos que produzem credulidade. Deus, preserve-nos das bênçãos imaginárias! Já encontrei pessoas que dizem, "Eu creio que estou salvo, pois sonhei com isso." Ou, "Porque existe um texto na Bíblia que se aplica a meu caso. Tal pregador disse tal coisa em sua pregação", ou "Fui levada a um estado de choro e ânimo e me senti como nunca tinha sentido antes." Ah! Nada disso suporta julgamento, "Você rejeita toda sua confiança em tudo exceto na obra consumada de Jesus, e você vem a Cristo para ser reconciliado nele para com Deus?" Se não o fizer, teus sonhos, visões, caprichos são apenas sonhos, visões e caprichos, a não servirão quando você mais precisar deles. Ore para que o Senhor o abençoe muitíssimo, pois existe uma grande escassez de veracidade em todo o andar e falar.
Muitos, eu creio, mesmo aqueles que estão salvos - salvos agora e para sempre - precisam destas precauções, e têm um bom motivo para orar desta maneira para aprenderem a fazer a distinção entre algumas coisas que eles acham serem bênçãos espirituais e outras que abençoam muitíssimo. Deixe-me demostrar o que eu quero dizer. É realmente uma bênção a resposta a uma oração que veio de sua própria mente? Eu sempre gosto que qualificar minha oração mais pungente com, "Não a minha vontade, mas a tua". Não apenas devo fazer isto, mas gosto de fazê-lo, de outro modo eu posso pedir uma coisa que seria perigosa para mim. Deus pode me dá-la em sua ira, e eu posso encontrar amargura na oferta, muita dor no sofrimento que ela me causou. Você se lembra de como Israel pedia por carne, e Deus lhes deu as codornizes; mas enquanto a carne estava em sua boca, a ira de Deus veio sobre eles. Peça por carne, se você quiser, mas acrescente sempre: Senhor, se isto não for me abençoar muitíssimo, não me dê. Se me abençoares muitíssimo!. Eu dificilmente gosto de repetir a velha história da mulher cujo filho estava doente - uma criancinha às portas da morte - e ela implorou ao pastor, um puritano, para orar por sua vida. Ele orou intensamente, e terminou com "se for a tua vontade, salve esta criança". A mulher disse: "Não posso suportar isto: preciso que você ore para salvar a criança. Não ponha nenhum mas". "Mulher", disse o pastor, "pode ser que você viva para se arrepender do dia em que você pôs a sua vontade contra a vontade de Deus." Vinte anos depois, ela teve que ser carregada pois desmaiara ao ver o filho sendo enforcado como um criminoso. Apesar de ter visto o filho crescer e se tornar um homem, teria sido infinitamente melhor para ela se a criança tivesse morrido, e infinitamente mais sábio se ela tivesse deixado-o à vontade de Deus. Não tenha tanta certeza que uma resposta de oração pode ser uma prova de amor divino. Haverá mais lugar para buscar ao Senhor dizendo: Se me abençoares muitíssimo! Assim, algumas vezes um grande estertor espiritual, um excitamento no coração, mesmo sendo uma alegria religiosa, pode não ser uma bênção. Nós nos alegramos nela, e oh, algumas vezes quando nos unimos em oração o fogo ardeu, e nossas almas ferveram! Na hora pudemos cantar:
"Nossa alma desejosa ficaria
desta maneira como está,
sentada, até se esgotar, cantando
esta alegria permanente."
Mesmo sendo uma bênção, e sendo agradecidos por ela, não gostaria de manter estas sessões, como se meus prazeres fossem a moeda que compra os favores de Deus; ou como se eles fossem os sinais principais de suas bênçãos. Talvez seria uma bênção ainda maior um espírito quebrantado, prostrado diante do Senhor neste exato momento. Quando você pedir pela alegria suprema, e orar para estar no monte com Cristo, lembre-se que esta também pode ser uma bênção, sim, uma bênção real ser levado ao Vale da Humilhação, colocado abaixo de tudo e ser constrangido a clamar em angústia: "Senhor, salve-me ou morrerei!"
"Se hoje ele designou para nos abençoar,
no sentido de perdoar pecados,
ele amanhã pode nos angustiar
e fazer-nos sentir a praga que existe em nós
tudo para fazer-nos sentir
nojo de nós mesmos, e loucos por ele".
Estas experiências diferentes que temos podem realmente ser bênçãos para nós quando, se sempre estivemos regozijando, fossemos como Moabe, instalados em nossos fortes, e não esvaziados a cada nova circunstância. Tudo vai mal com os que não mudam; eles não têm medo de Deus. Algumas vezes nós não invejamos aquelas pessoas calmas e impassíveis, que nunca se perturbam? Bem, existem alguns cristãos cujo temperamento linear merece ser imitado. E, aquele calmo repouso, aquela segurança imutável que vem do Espírito de Deus é uma aquisição deliciosa; mas não tenho certeza se devemos invejar a sorte de alguém por ser mais tranqüila ou ter sido menos exposta aos ventos e tempestades do que a nossa. Há perigo ao dizer: "Paz, paz", quando não há paz, e existe uma calmaria que resulta das dificuldades. Tolos os que iludem sua própria alma. "Eles não têm dúvidas", dizem, mas por não buscarem com profundidade. Não têm ansiedades, pois não têm muito trabalho ou ocupações a lhes envolver. Talvez não sintam dor, por não terem vida. Melhor ir para o céu, aleijado e mutilado, do que marchar com confiança para o inferno. Se me abençoares muitíssimo! Deus meu, não invejarei ninguém por seus dons ou bênçãos, muito menos por seu humor interno ou suas circunstâncias exteriores, apenas se me abençoares muitíssimo! Não serei confortado a menos que tu me confortes, nem terei paz se Cristo não for minha paz, nem descanso senão o descanso que vem do doce sabor do sacrifício de Cristo. Cristo será tudo em todos, e ninguém será nada para mim a não ser ele mesmo. Oh, que nós possamos sentir sempre que não somos juizes das maneiras que as bênçãos vêm, mas que deixemos a Deus o dar o que ele acha que devemos ter, não as bênçãos imaginárias, as bênçãos superficiais e aparentes, mas ser abençoado muitíssimo!
Igualmente com relação ao nosso trabalho e serviço, acho que nossa oração deveria ser sempre: Oh, se me abençoares muitíssimo! É lamentável ver o trabalho de bons homens, apesar de que não cabe a nós julgá-los, ser tão pretensioso e irreal. É realmente chocante ver como alguns homens fingem construir uma igreja em duas ou três noites. Eles anunciarão, num canto de página de um jornal, que quarenta e três pessoas foram convencidas de seu pecado, e quarenta e seis justificadas, e, algumas vezes, trinta e oito santificadas; não sei o quê eles podem oferecer, além das estatísticas do que foi conseguido. Já observei congregações crescerem rapidamente, e grande número de pessoas ser acrescentado a igrejas de repente. E o que aconteceu depois? Onde estão estas igrejas neste exato momento? Os desertos mais áridos da cristandade são os lugares que foram fertilizados com os restos produzidos por alguns avivalistas. A igreja inteira parece ter gasto sua força em uma empreitada ou esforço atrás de alguma coisa, e esta busca resultou em nada. Construíram sua casa de madeira, e estocaram o feno, e fizeram uma torre de palha que parecia alcançar os céus, e ali caiu uma faísca, e tudo sumiu na fumaça; e aquele que veio em seguida - o sucessor do grande construtor - teve que varrer as cinzas antes de poder fazer qualquer outra coisa. A oração de todos os que servem a Deus deveria ser: Se me abençoares muitíssimo! Trabalhe, trabalhe. Se eu construir apenas um tijolo em minha vida, e nada mais, seja ele de ouro, prata, pedras preciosas, ou outra coisa parecida, o que já é um grande serviço; ou construir um cantinho que não aparece, tudo isso é um serviço valioso. Não se falará muito dele, mas ele vai durar. Aí está o ponto: vai durar. Estabeleça o trabalho de suas mãos em nossas vidas; sim, o trabalho de suas mãos o execute. Se não formos construtores em uma igreja reconhecida, então é inútil até tentar. O que Deus estabelece perdura, mas o que os homens constróem sem seu reconhecimento certamente terá o seu fim. Se me abençoares muitíssimo! Professor de escola dominical, seja esta sua oração. Distribuidor de folhetos na entrada, pregador, seja lá o que você for, querido irmão ou irmã, qualquer que seja sua maneira de servir, peça a Deus que você não seja um desses engessadores, que usam materiais de efeito que requerem apenas uma camada fina e que serão despedaçados com o tempo. Se você não puder construir uma catedral, construa ao menos um pedaço do templo maravilhoso que Deus está fazendo para a eternidade, que vai durar mais do que as estrelas.
Tenho ainda uma coisa mais para mencionar antes de terminar este sermão. As bênçãos da graça de Deus abençoam muitíssimo que devemos ansiosamente buscar. Estas são as marcas para que as reconheçamos. Somos abençoados muitíssimo quando tais bênçãos vêm de mãos marcadas pelos cravos; bênçãos que vêm da árvore sangrenta do Calvário, escorrendo da ferida no tórax do Salvador - seu perdão, sua aceitação, sua vida espiritual: o pão, na verdade é carne, o sangue que na verdade é bebida - a unidade com Cristo, e tudo o que vem disso - assim serei abençoado muitíssimo. Toda bênção que vem como resultado do trabalho do Espírito em nossa alma nos abençoa muitíssimo; apesar de te humilhar, apesar de te desnudar, apesar de te matar, serás abençoado muitíssimo. Apesar do arado passar muitas vezes sobre tua alma, e a patrola cortar seu coração; apesar de você ser mutilado e ferido, e deixado para morrer, se o Espírito de Deus o fizer, serás abençoado muitíssimo. Se ele te convenceu do pecado, da justiça e do juízo, mesmo que até agora ele não o tenha levado a Cristo, você será abençoado muitíssimo. As riquezas talvez não o façam. Talvez haja uma parede de ouro entre você e Deus. Saúde não o fará: mesmo a força e tutano de seus ossos podem mantê-lo distante de seu Deus. Mas tudo o que o atraia a Deus, o abençoará muitíssimo. E se uma cruz o levantar? Se o levantar até Deus, você será abençoado muitíssimo. Tudo o que alcançar a eternidade, com uma preparação para o mundo que há de vir, tudo o que pudermos carregar ao atravessar o rio, a alegria santa que vai brotar daqueles campos além da enchente, o amor sem nuvens dos irmãos que será a atmosfera de verdade para sempre - tudo o que tem a flecha eterna - a marca eterna - te abençoará muitíssimo. E tudo o que me ajudar a glorificar a Deus me abençoará muitíssimo. Se eu estiver doente, e isto me ajude a louvar a Deus, serei abençoado muitíssimo. Se eu for pobre, e puder servir a ele melhor na pobreza do que na riqueza, serei abençoado muitíssimo. Se eu for desprezado, me regozijarei neste dia e darei pulos de alegria, pois é por Cristo - serei abençoado muitíssimo. Sim, minha fé destitui o disfarce, remove a máscara da clara face da bênção, e computa tudo isto como alegria, como tribulações pelo amor de Jesus e a recompensa que ele prometeu. Se me abençoares muitíssimo!
Agora, eu me despeço com estas três palavras. "Busquem." Vejam se as bênçãos abençoam muitíssimo, e não fique satisfeito a menos que você saiba que elas vêm de Deus, prêmios de sua graça, e vales de seu propósito salvador. "Pesem." Esta deve ser a próxima coisa. Tudo o que você tiver, pese numa balança, e certifique-se se você é abençoado muitíssimo, conferindo se esta graça produz em você amor abundante, e abundância de boas palavras e boas obras. E finalmente, "Ore." Ore de uma maneira que esta oração se misture com todas as orações, para que qualquer coisa que Deus lhe dê ou não permita que você tenha o abençoe muitíssimo. Está passando por um tempo feliz? Oh, que Cristo possa enriquecer tua alegria, que evite a intoxicação com as bênçãos terrenas que o levarão para bem longe da comunhão com ele! Na noite de aflição, ore para que você seja abençoado muitíssimo, para que a amargura não o intoxique também, para que as aflições não o endureçam. Ore para que sejas abençoado; e quando tiver, seja rico no propósito da alegria, e se não tiver, seja pobre e destituído, apesar da plenitude encher teu depósito. Não: "Se tua presença não for comigo, não nos tire daqui" mas, se me abençoares muitíssimo!

Carta do Sr. Spurgeon, lida no Tabernáculo no dia do Senhor, dia 11 de junho.
Queridos amigos, em quem eu tenho em memória constante e com afeição sou obrigado a cantar a nota do lamento mais uma vez, pois estive sofrendo a semana toda, e passei a maior parte dela na cama. O clima horrível me fez piorar, e causou a repetição de todas as minhas dores.
Apesar de tudo, seja feita a vontade de Deus. Deixe que ele faça o seu caminho para mim, pois ele é amor. Estou impaciente para pregar de novo, mas talvez meu fracos Sábados foram decretados para meu castigo, e seu número ainda não se completou. Devemos trabalhar para Deus enquanto pudermos, pois nenhum de nós sabe quando ficaremos incapazes de oferecer nossos serviços. Ao mesmo tempo, quão sem importância nós somos! A obra de Deus segue adiante sem nós. Nós todos precisamos dEle, mas Ele não precisa de nenhum de nós.
Amados, até agora eu tive consolo ao ouvir que o trabalho do Senhor continua. Eu oro para que a sua intercessão intensa seja para que isto continue assim. Eu espero que os cultos dos dias de semana não sejam esvaziados. Se vocês se afastarem, que seja quando eu esteja aí, mas não agora. Que os Diáconos e os mais velhos estejam aí em todas as reuniões, e encontrem-se rodeados de um grupo unido de ajudantes.
Que a graça abundante repouse em todos vocês, especialmente nos doentes, pobres e os que sofreram perdas. Orem por mim, eu lhes peço. Se talvez a igreja se unisse em oração eu me recuperasse mais rapidamente. Eu sei que milhares oram, mas por que a igreja não o faz como igreja? Receio que deva desistir de pregar no dia 25; mas acredito que o Senhor será misericordioso comigo, e me mandará para junto de vocês no primeiro Sábado de Julho.
Domingo que vem deve haver uma coleta para a Associação, uma causa muito preciosa para mim. Com profundo amor cristão,
Seu Pastor que sofre,
C.H.Spurgeon



Jesus Cristo:
O Sermão da Montanha


BEM-AVENTURADOS os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos céus. Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados. Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra. Bem-aventura­dos os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos. Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus. Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados fi­lhos de Deus. Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o Reino dos céus. Bem-aventurados sois vós quando vos injuriarem, e perseguirem, e, mentindo, disserem todo o mal contra vós, por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós.
Vós sois o sal da terra; e, se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para nada mais presta, senão para se lançar fora e ser pisado pelos homens.
Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte. Nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas, no velador, e dá luz a todos que estão na casa. Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que está nos céus.
Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim ab-rogar, mas cumprir. Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til se omitirá da lei sem que tudo seja cumprido. Qualquer, pois, que violar um destes menores manda­mentos e assim ensinar aos homens será chamado o menor no Reino dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no Reino dos céus. Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no Reino dos céus.
Ou vistes que foi dito aos antigos: Não matarás; mas qualquer que matar será réu de juízo. Eu, porém, vos digo que qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmão será réu de juízo, e qualquer que chamar a seu irmão de raça será réu do Sinédrio; e qualquer que lhe chamar de louco será réu do fogo do inferno. Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão, e depois vem, e apresenta a tua oferta. Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no cami­nho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial, e te encerrem na prisão. Em verda­de te digo que, de maneira nenhuma, sairás dali, enquanto não pagares o último ceitil.
Ouvistes que foi dito aos antigos: Não cometerás adultério. Eu, porém, vos digo que qualquer que atentar numa mulher para a cobi­çar já em seu coração cometeu adultério com ela. Portanto, se o teu olho direito te escandalizar, arranca-o e atira-o para longe de ti, pois te é melhor que se perca um dos teus membros do que todo o teu corpo seja lançado no inferno. E, se a tua mão direita te escandalizar, corta-a e atira-a para longe de ti, porque te é melhor que um dos teus membros se perca do que todo o teu corpo seja lançado no inferno. Também foi dito: Qualquer que deixar sua mulher, que lhe dê carta de desquite. Eu, porém, vos digo que qualquer que repudiar sua mulher, a não ser por causa de prostituição, faz que ela cometa adul­tério; e qualquer que casar com a repudiada comete adultério.
Outrossim, ouvistes que foi dito aos antigos: Não perjurarás, mas cumprirás teus juramentos ao Senhor. Eu, porém, vos digo que, de maneira nenhuma, jureis nem pelo céu, porque é o trono de Deus, nem pela terra, porque é o escabelo de seus pés, nem por Jerusalém, porque é a cidade do grande Rei, nem jurarás pela tua cabeça, por­que não podes tornar um cabelo branco ou preto. Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; não, não, porque o que passa disso é de proce­dência maligna.
Ouvistes que foi dito: Olho por olho e dente por dente. Eu, po­rém, vos digo que não resistais ao mal; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra; e ao que quiser pleitear contigo e tirar-te a vestimenta, larga-lhe também a capa; e, se qual­quer te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas. Dá a quem te pedir e não te desvies daquele que quiser que lhe emprestes.
Ou vistes que foi dito: Amarás o teu próximo e aborrecerás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem, para que sejais filhos do Pai que está nos céus; porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons e a chuva desça sobre justos e injustos. Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo? E, se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fa­zem os publicanos também assim? Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai, que está nos céus.
Guardai-vos de fazer a vossa esmola diante dos homens, para serdes vistos por eles; aliás, não tereis galardão junto de vosso Pai, que está nos céus.
Quando, pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão. Mas, quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita, para que a tua esmola seja dada ocultamente, e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente.
E, quando orares, não sejas como os hipócritas, pois se comprazem em orar em pé nas sinagogas e às esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão. Mas tu, quando orares, entra no teu aposento e, fechando a tua porta, ora a teu Pai, que vê o que está oculto; e teu Pai, que vê o que está oculto, te recompensará. E, orando, não useis de vãs repeti­ções, como os gentios, que pensam que, por muito falarem, serão ouvidos. Não vos assemelheis, pois, a eles, porque vosso Pai sabe o que vos é necessário antes de vós lho pedirdes.
Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino. Seja feita a tua vontade, tanto na terra como no céu. O pão nosso de cada dia dá-nos hoje. Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores. E não nos induzas à tentação, mas livra-nos do mal; por­que teu é o Reino, e o poder, e a glória, para sempre. Amém! Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós. Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai vos não perdoará as vossas ofensas.
E, quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipó­critas, porque desfiguram o rosto, para que aos homens pareçam que jejuam. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão. Porém tu, quando jejuares, unge a cabeça e lava o rosto, para não pareceres aos homens que jejuas, mas sim a teu Pai, que está oculto; e teu Pai, que vê o que está oculto, te recompensará.
Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam. Mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam, nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesou­ro, aí estará também o vosso coração.
A candeia do corpo são os olhos; de sorte que, se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz. Se, porém, os teus olhos forem maus, o teu corpo será tenebroso. Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes serão tais trevas!
Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou há de odiar um e amar o outro ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom.
Por isso, vos digo: não andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quan­to ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo, mais do que a vestimenta? Olhai para as aves do céu, que não semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós mui­to mais valor do que elas? E qual de vós poderá, com todos os seus cuidados, acrescentar um côvado à sua estatura? E, quanto ao ves­tuário, porque andais solícitos? Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham, nem fiam. E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles. Pois, se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, não vos vestirá muito mais a vós, homens de pequena fé? Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos ou que beberemos ou com que nos vestiremos? (Por­que todas essas coisas os gentios procuram.) Decerto, vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas essas coisas; mas buscai primeiro o Reino de Deus, e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas.
Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal.
Não julgueis, para que não sejais julgados, porque com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós. E por que reparas tu no argueiro que está no olho do teu irmão e não vês a trave que está no teu olho? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, estan­do uma trave no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho e, então, cuidarás em tirar o argueiro do olho do teu irmão.
Não deis aos cães as coisas santas, nem deiteis aos porcos as vossas pérolas; para que não as pisem e, voltando-se, vos despeda­cem.
Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á. Porque aquele que pede recebe; e o que busca encontra; e, ao que bate, se abre. E qual dentre vós é o homem que, pedindo-lhe pão o seu filho, lhe dará uma pedra? E, pedindo-lhe peixe, lhe dará uma serpente? Se, vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará bens aos que lhe pedirem? Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os profetas.
Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela. E porque estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, poucos há que a encontrem.
Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vesti­dos como ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores. Por seus frutos os conhecereis. Porventura, colhem-se uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos? Assim, toda árvore boa produz bons frutos, e toda arvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa dar maus frutos, nem a árvore má dar frutos bons. Toda árvore que não dá bom fruto corta-se e lança-se no fogo. Portanto, pelos seus frutos os conhecereis.
Nem todo o que me diz-. Senhor, Senhor! entrará no Reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele Dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E, em teu nome, não expulsamos demônios? E, em teu nome, não fizemos muitas maravilhas? E, então, lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade.
Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha. E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e não caiu, porque estava edificada sobre a rocha. E aquele que ouve estas minhas palavras e as não cumpre, compará-lo-ei ao homem insensato, que edificou a sua casa sobre a areia. E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e com­bateram aquela casa, e caiu, e foi grande a sua queda.



Profeta Isaías:
Livro de Isaías, Capítulos 63 e 64


QUEM é este que vem de Edom, de Bozra, com vestes tintas? Este que é glorioso em sua vestidura, que mar­cha com a sua grande força? Eu, que falo em justiça, poderoso para salvar. Por que está vermelha a tua ves­tidura? E as tuas vestes, como as daquele que pisa uvas no lagar? Eu sozinho pisei no lagar, e dos povos ninguém se achava comigo; e os pisei na minha ira e os esmaguei no meu furor; e o seu sangue salpi­cou as minhas vestes, e manchei toda a minha vestidura. Porque o dia da vingança estava no meu coração, e o ano dos meus redimidos é chegado. E olhei, e não havia quem me ajudasse; e espantei-me de não haver quem me sustivesse; pelo que o meu braço me trouxe a salvação, e o meu furor me susteve. E pisei os povos na minha ira e os embriaguei no meu furor, e a sua força derribei por terra.
As benignidades do Senhor mencionarei e os muitos louvores do Senhor, consoante tudo o que o Senhor nos concedeu, e a grande bondade para com a casa de Israel, que usou com eles segundo as suas misericórdias e segundo a multidão das suas benignidades. Por­que o Senhor dizia: Certamente, eles são meu povo, filhos que não mentirão. Assim ele foi seu Salvador. Em toda a angústia deles foi ele angustiado, e o Anjo da sua presença os salvou; pelo seu amor e pela sua compaixão, ele os remiu, e os tomou, e os conduziu todos os dias da antigüidade. Mas eles foram rebeldes e contristaram o seu Espírito Santo-, pelo que se lhes tornou em inimigo e ele mesmo pelejou con­tra eles. Todavia, se lembrou dos dias da antigüidade, de Moisés e do seu povo, dizendo: Onde está aquele que os fez subir do mar com os pastores do seu rebanho? Onde está aquele que pôs no meio deles o seu Espírito Santo, aquele cujo braço glorioso ele fez andar à mão direita de Moisés? Que fendeu as águas diante deles, para criar um nome eterno? Aquele que os guiou pelos abismos, como o cavalo, no deserto, de modo que nunca tropeçaram? Como ao animal que desce aos vales, o Espírito do Senhor lhes deu descanso; assim guiaste ao teu povo, para criares um nome glorioso.
Atenta desde os céus e olha desde a tua santa e gloriosa habita­ção. Onde estão o teu zelo e as tuas obras poderosas? A ternura das tuas entranhas e das tuas misericórdias detém-se para comigo! Mas tu és nosso Pai, ainda que Abraão nos não conhece, e Israel não nos reconhece. Tu, ó Senhor, és nosso Pai; nosso Redentor desde a anti­güidade é o teu nome. Por que, ó Senhor, nos fazes desviar dos teus caminhos? Por que endureces o nosso coração, para que te não tema­mos? Faz voltar, por amor dos teus servos, as tribos da tua herança. Só por um pouco de tempo, foi possuída pelo teu santo povo; nossos adversários pisaram o teu santuário. Tornamo-nos como aqueles so­bre quem tu nunca dominaste e como aqueles que nunca se chama­ram pelo teu nome.
Ó! Se fendesses os céus e descesses! Se os montes se escoassem diante da tua face! Como quando o fogo inflama a lenha e faz ferver as águas, para fazeres notório o teu nome aos teus adversários, assim as nações tremessem da tua presença! Quando fazias coisas terríveis, que não esperávamos, descias, e os montes se escoavam diante da tua face. Porque desde a antigüidade não se ouviu, nem com ouvidos se percebeu, nem com os olhos se viu um Deus além de ti, que trabalhe para aquele que nele espera. Saíste ao encontro daquele que se alegrava e praticava justiça, daqueles que se lembram de ti nos teus caminhos; eis que te iraste, porque pecamos; neles há eternida­de, para que sejamos salvos. Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia; e todos nós caímos como a folha, e as nossas culpas, como um vento, nos arrebatam. E já ninguém há que invoque o teu nome, que desperte e te detenha; porque escondes de nós o rosto e nos fazes derreter, por causa das nossas iniqüidades.
Mas, agora, ó Senhor, tu és o nosso Pai; nós, o barro, e tu, o nosso oleiro; e todos nós, obra das tuas mãos. Não te enfureças tanto, ó Senhor, nem perpetuamente te lembres da iniqüidade; eis, olha, nós te pedimos, todos nós somos o teu povo. As tuas santas cidades estão feitas um deserto; Sião está feita um deserto, Jerusalém está assolada. A nossa santa e gloriosa casa, em que te louvavam nossos pais, foi queimada; e todas as nossas coisas mais aprazíveis se tornaram em assolação. Conter-te-ias tu ainda sobre estas calamidades, ó Senhor? Ficadas calado, e nos afligidas tanto?


Apóstolo Pedro:
0 Sermão que Ganhou Três Mil Alma
s

O Sermão de Pedro no Dia de Pentecostes (At 2.14 -36, 38b, 39)

VARÕES judeus e todos os que habitais em Jerusalém, seja-vos isto notório, e escutai as minhas palavras. Estes homens não estão embriagados, como vós pensais, sen­do esta a terceira hora do dia. Mas isto é o que foi dito pelo profeta Joel:
E nos últimos dias acontecerá, diz Deus, que do meu Espírito derramarei sobre toda a carne; e os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, os vossos jovens terão visões, e os vossos velhos sonharão sonhos; e também do meu Espírito derramarei sobre os meus servos e minhas servas, naqueles dias, e profetiza­rão; e farei aparecer prodígios em cima no céu e sinais em baixo na terra: sangue, fogo e vapor de fumaça. O sol se converterá em trevas, e a lua, em sangue, antes de chegar o grande e glorioso Dia do Senhor; e acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.
Varões israelitas, escutai estas palavras: A Jesus Nazareno, varão aprovado por Deus entre vós com maravilhas, prodígios e sinais, que Deus por ele fez no meio de vós, como vós mesmos bem sabeis; a este que vos foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, tomando-o vós, o crucificastes e matastes pelas mãos de injustos; ao qual Deus ressuscitou, soltas as ânsias da morte, pois não era possível que fosse retido por ela. Porque dele disse Davi:
Sempre via diante de mim o Senhor, porque está à minha direita, para que eu não seja comovido. Por isso, se alegrou o meu coração, e a minha língua exultou; e ainda a minha carne há de repousar em esperança. Pois não deixarás a minha alma no Hades, nem permitirás que o teu Santo veja a corrupção. Fizeste-me conhecidos os caminhos da vida; com a tua face me encherás de júbilo.
Varões irmãos, seja-me lícito dizer-vos livremente acerca do patri­arca Davi que ele morreu e foi sepultado, e entre nós está até hoje a sua sepultura. Sendo, pois, ele profeta e sabendo que Deus lhe havia prometido com juramento que do fruto de seus lombos, segundo a carne, levantaria o Cristo, para o assentar sobre o seu trono, nesta previsão, disse da ressurreição de Cristo, que a sua alma não foi dei­xada no Hades, nem a sua carne viu a corrupção. Deus ressuscitou a este Jesus, do que todos nós somos testemunhas. De sorte que, exal­tado pela destra de Deus e tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vós agora vedes e ouvis. Porque Davi não subiu aos céus, mas ele próprio diz:
Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que ponha os teus inimigos por escabelo de teus pés.
Saiba, pois, com certeza, toda a casa de Israel que a esse Jesus, a quem vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo.
Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para perdão dos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo. Porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos e a todos os que estão longe: a tantos quantos Deus, nosso Senhor, cha­mar.



Clemente de Roma:
Cristo e a Igreja


O mais antigo exemplo de pregação cristã, fora do Novo Testamento, é a denominada Segunda Epístola de Clemente, endereçada à Igreja em Corinto. Como o leitor perceberá, esta epístola é na verdade um sermão dirigido a seus "irmãos e irmãs". Clemente de Roma foi uma das grandes figuras da Igreja Primitiva e bem pode ter sido este Cle­mente a quem Paulo se refere na Epístola aos Filipenses como seu "cooperador". Ele é considerado um dos Pais Apostólicos e o segun­do ou terceiro bispo de Roma. Eusébio o faz bispo de Roma de 92 a 101 d.C. De Clemente temos uma Epístola aos Coríntios, a qual é de grande importância como testemunho primitivo das grandes doutri­nas cristãs, como a Trindade, a expiação e a justificação pela graça. Mas a Segunda Epístola aos Coríntios atribuída a Clemente de Roma é considerada uma falsificação. Algum pregador ou escritor desejou dar aceitação à sua produção servindo-se do peso do nome Clemen­te. Não obstante, a Epístola, na verdade, o sermão, é de imenso inte­resse para a Igreja de hoje como o mais antigo exemplo de pregação pós-apostólica. Suas declarações, um tanto quanto comuns, pulsam com vida, porque nos são as mais antigas inflexões do púlpito cris­tão. Neste sermão o pregador cita duas declarações de Cristo, as quais eram evidentemente correntes naquela época, mas que não foram registradas no Novo Testamento.
Este primeiro dos sermões cristãos mostra como os temas do pregador — Deus, Cristo, a alma, o julgamento, o céu e o inferno — não mudam de geração em geração, e como o Cristo encontrado na pregação deste desconhecido dos primórdios do Cristianismo é igual ao Cristo pregado hoje — Jesus Cristo é o mesmo ontem, e hoje, e eternamente.



Cristo e a Igreja

PRECISAMOS pensar em Cristo em termos elogiosos. Irmãos, é adequado que vocês pensem em Cristo como pensam em Deus — como o Juiz dos vivos e dos mortos. E não nos convém pensar levianamente de nossa salvação; se pensamos pouco nEle, também esperaremos obter senão pouco dEle. E aqueles de nós que ouvem falar negligentemente des­tas coisas, como se fossem de pequena monta, pecam, não sabendo de onde fomos chamados, por quem e para que lugar, e o quanto Jesus Cristo se submeteu para sofrer por nossa causa. Que retorno lhe daremos, ou que fruto será digno do que Ele nos deu? Pois quão grandes são os benefícios que lhe devemos! Ele nos tem dado luz graciosamente; como Pai, Ele nos chamou de filhos; Ele nos salvou quando estávamos prestes a perecer. Que louvor lhe ofereceremos, ou que lhe daremos pelas coisas que recebemos? Éramos deficientes no entendimento, adorando pedras, madeira, ouro, prata e metal, trabalhos das mãos de homens; e nossa vida era nada mais que mor­te. Envolvidos em cegueira e com tais trevas diante dos olhos, recebe­mos visão e, por sua vontade, pusemos de lado aquela nuvem em que estávamos envolvidos. Ele teve compaixão de nós e misericordi­osamente nos salvou, observando os muitos erros nos quais estáva­mos emaranhados, bem como a destruição a qual estávamos expos­tos e da qual não tínhamos esperança de salvação, exceto a que nos deu. Ele nos chamou quando ainda não existíamos e nos quis para que do nada alcançássemos uma existência real.
A verdadeira confissão de Cristo. Vamos não só chamá-lo Senhor, pois isso não nos salvará. Ele disse: "Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor, será salvo, mas aquele que pratica a justiça". Portanto, ir­mãos, vamos confessá-lo por nossas obras, amando-nos uns aos ou­tros, não cometendo adultério, não falando mal uns dos outros ou apreciando a inveja, mas sendo moderados, compassivos e bons. Tam­bém devemos partilhar o que temos uns com os outros e não sermos avarentos. Mediante tais obras, vamos confessá-lo, e não por aquelas obras que, ao contrário, não o glorificam. E não é adequado que temamos aos homens, mas antes a Deus. Por isso, se fizermos tais coisas más, o Senhor diz: "Ainda que vós estivésseis reunidos comigo em meu próprio seio, contudo se vós não guardásseis os meus man­damentos, eu vos lançaria fora e vos diria: Apartai-vos de mim; não sei de onde sois, vós, obreiros da iniqüidade".
Este mundo deve ser menosprezado. Portanto, irmãos, deixando de boa vontade nossa peregrinação neste presente mundo, façamos a vontade daquEle que nos chamou e não temamos nos apartar deste mundo. O Senhor disse: "Vós sereis como cordeiros no meio de lo­bos". E Pedro respondeu e lhe disse: "E se os lobos despedaçarem os cordeiros?" Jesus disse a Pedro: "Os cordeiros, depois que estão mor­tos, não têm motivo para temer os lobos; e do mesmo modo, não temeis aqueles que vos matam e não podem fazer mais nada convosco; mas temei aquele que, depois que vós estais mortos, tem poder sobre a alma e o corpo para lançá-los no fogo do inferno". E considerem, irmãos, que a peregrinação na carne neste mundo é breve e passagei­ra, mas a promessa de Cristo é grande e maravilhosa, até o restante do Reino por vir e da vida eterna. Por que curso de conduta, então, devemos alcançar estas coisas, senão levando uma vida santa e ínte­gra, julgando estas coisas mundanas como não pertencentes a nós e não fixando nosso desejo nelas? Pois se desejamos possuí-las, aban­donamos o caminho da retidão.
Os mundos presente e futuro são inimigos entre si. Agora o Senhor declara: "Ninguém pode servir a dois senhores". Se desejamos, então, servir a Deus e a Mamom, não nos será proveitoso. "Pois que aproveita­ria ao homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma?" (Mc 8.36). Este mundo e o seguinte são dois inimigos. Um instiga ao adultério e à corrup­ção, à avareza e ao engano; o outro diz adeus a essas coisas. Não pode­mos ser amigos de ambos; e nos cabe, ao renunciar um, nos assegurar do outro. Consideremos que é melhor odiar as coisas presentes, visto que são insignificantes, transitórias e corruptíveis, e amar as que estão por vir como sendo boas e incorruptíveis. Se fizermos a vontade de Cristo, encontraremos descanso; caso contrário, nada nos livrará do cas­tigo eterno se desobedecermos os seus mandamentos. Assim também diz a Escritura em Ezequiel: "Ainda que Noé, Daniel e Jó estivessem no meio dela, vivo eu, diz o Senhor Jeová, que nem filho nem filha eles livrariam" (Ez 14.20). Se homens tão eminentemente justos são incapazes por sua justiça de livrar os próprios filhos, como podemos esperar entrar na residência real de Deus, a menos que mantenhamos nosso batismo santo e imaculado? Ou quem será nosso defensor, a não ser que sejamos achados possuidores de obras de santidade e justiça?
Temos de nos esforçar para sermos coroados. Portanto, meus ir­mãos, lutemos com todo o empenho, sabendo que, em nosso caso, a disputa está bem à mão e que muitos empreendem longas viagens para lutar por uma recompensa corruptível; contudo, nem todos são coroados, mas só aqueles que laboram duramente e se esforçam glo­riosamente. Esforcemo-nos, então, de modo que sejamos coroados. Corramos o caminho reto da corrida que é incorruptível, e nos empe­nhemos para que sejamos coroados. Temos de nos lembrar de que aquele que se esforça na competição corruptível, se for descoberto que agiu incorretamente, é preso e açoitado, e seu nome retirado de todos os registros. O que vocês acham disso? Acerca daqueles que não preservam o selo irrompível, a Escritura diz: "... o seu verme nunca morrerá, nem o seu fogo se apagará; e serão um horror para toda a carne" (Is 66.24).
A necessidade de arrependimento enquanto estamos na terra. Durante o tempo em que estamos na terra, pratiquemos o arrependi­mento, porque somos como barro nas mãos do artífice. Se o oleiro faz um vaso e este fica torcido ou se quebra em suas mãos, ele o molda de novo; mas se antes disso ele o lançou na fornalha, ele já não pode mais ajudá-lo. Assim, enquanto estamos neste mundo, arrependamo-nos de todo o coração das más ações que fizemos na carne para que sejamos salvos pelo Senhor, enquanto ainda temos oportunidade de arrependimento. Depois que deixarmos o mundo, o poder de confessar ou arrepender-se já não nos pertencerá. Portanto, irmãos, ao fazermos a vontade do Pai, ao conservarmos a carne santa e ao observarmos os mandamentos do Senhor, obteremos a vida eter­na. O Senhor diz no Evangelho: "Se vós não guardastes o que era pequeno, quem vos entregará o que é grande? Pois eu vos digo que aquele que é fiel no mínimo, também é fiel no muito". É isto o que Ele quer dizer: "Mantende a carne santa e o selo livre de contamina­ção para que recebais a vida eterna".
Seremos julgados na carne. E que ninguém diga que esta mesma carne não será julgada nem ressuscitará. Considerem em que estado vocês foram salvos, em que estado receberam a visão, se não foi quando estavam nesta carne. Temos de preservar a carne como o templo de Deus. Assim como vocês foram chamados na carne, assim também serão julgados na carne. Assim como Cristo, o Senhor, que nos salvou, embora fosse primeiramente Espírito, tornou-se carne, e desse modo nos chamou, assim também receberemos a recompensa nesta carne. Amemo-nos uns aos outros para que todos alcancemos o Reino de Deus. Enquanto temos oportunidade de sermos curados, rendamo-nos a Deus, que nos ouve, e lhe retribuamos. De que for­ma? Através do arrependimento de corações sinceros; Ele sabe todas as coisas de antemão e conhece o que está em nosso coração. Renda­mos a Ele louvor, não só com nossos lábios, mas também com o coração, para que Ele nos aceite como filhos. O Senhor disse: "Estes são meus irmãos: os que fazem a vontade de meu Pai".
O vício deve ser abandonado e a virtude, seguida. Portanto, meus irmãos, façamos a vontade do Pai que nos chamou, para que viva­mos. Sigamos com veemência a virtude, mas abandonemos toda ten­dência má que nos leve à transgressão, e fujamos da impiedade, para que males não nos alcancem. Se formos diligentes em fazer o bem, a paz nos seguirá. Por esta causa, tais homens não podem encontrar paz, os quais são influenciados pelos terrores humanos e preferem o prazer momentâneo à promessa que será cumprida depois. Eles des­conhecem que tormento o atual prazer incorre ou que felicidade está envolvida na promessa futura. E se na verdade eles fizessem apenas tais coisas, seria o mais tolerável. Mas eles persistem em saturar almas inocentes com suas doutrinas perniciosas, não sabendo que eles re­ceberão uma dupla condenação, tanto eles quanto aqueles que os ouvem.
Devemos servir a Deus, confiando nas suas promessas. Sirvamos a Deus com coração puro e seremos justos; mas se não o servimos, por­que não cremos nas suas promessas, seremos miseráveis. A palavra profética também declara: "Miseráveis são aqueles de mente dupla e que duvidam em seu coração, dizendo: 'Todas estas coisas ouvimos falar até nos dias de nossos pais; mas, embora esperemos dia-a-dia, não vimos nenhuma delas se realizar'. Tolos! Comparai-vos a uma ár­vore; por exemplo, a videira. Em primeiro lugar, vêm as folhas, então o broto aparece; depois, a uva verde, e em seguida, o fruto completamente maduro. Assim, da mesma forma, meu povo suporta perturba­ções e aflições, mas depois receberá suas boas dádivas". Portanto, meus irmãos, não sejamos de mente dobre, mas esperemos e suportemos, para que também obtenhamos a recompensa. Pois Ele é fiel, aquEle que prometeu que dará a todos uma recompensa de acordo com as suas obras. Se praticarmos a justiça à vista de Deus, entraremos no seu Reino e receberemos as promessas: "... o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem..." (1 Co 2.9).
Devemos buscar constantemente o Reino de Deus. Esperemos, momento a momento, o Reino de Deus em amor e justiça, visto que não sabemos o Dia do Senhor. O próprio Jesus, sendo perguntado pelos fariseus sobre quando viria o seu Reino, respondeu: "O Reino de Deus não vem com aparência exterior. Nem dirão: Ei-lo aqui! Ou: Ei-lo ali! Porque eis que o Reino de Deus está entre vós. E como aconteceu nos dias de Noé, assim será também no dia do Filho do Homem. Comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca, e veio o dilúvio e consumiu a todos Como também da mesma maneira aconteceu nos dias de Ló: comiam, bebiam. compravam, vendiam, plantavam e edificavam. Mas, no dia cm que Ló saiu de Sodoma, choveu do céu fogo e enxofre, consumin­do a todos. Assim será no dia em que o Filho do Homem se há de manifestar" (Lc 17.20,21,26-29).
A Igreja viva é o Corpo de Cristo. Portanto, irmãos, se fizermos a vontade de Deus, nosso Pai, seremos da primeira Igreja, quer dizer, a espiritual, que foi criada antes do sol e da lua; mas se não fizermos a vontade do Senhor, seremos da Escritura que diz: "Minha casa foi feita em covil de ladrões". Escolhamos, então, ser da Igreja da vida para que sejamos salvos. Não suponho, porém, que vocês ignoram que a Igreja viva é o Corpo de Cristo; pois a Escritura diz: "Deus fez o homem, macho e fêmea". E os livros e os apóstolos claramente decla­ram que a Igreja não é do presente, mas desde o princípio. Ela era espiritual, como nosso Jesus também o era, mas foi manifesta nos últimos dias para que Ele nos salvasse. Agora a igreja, sendo espiritu­al, foi manifesta na carne de Cristo, querendo nos dizer que se qual­quer um de nós a mantiver na carne e não a corromper, Ele a recebe­rá novamente no Espírito Santo: pois esta carne é a cópia do espírito. Ninguém que corrompa a cópia participará da original. É isto o que Ele quer dizer: "Guardai a carne, para que vós participeis do espírito". Mas se dizemos que a carne é a Igreja e o espírito, Cristo, então aquele que usou vergonhosamente a carne usou vergonhosamente a Igreja. Tal indivíduo não participará do espírito, que é Cristo. Esta carne pode participar de tal vida e incorrupção, quando o Espírito Santo for unido a ela. Ninguém pode declarar ou dizer "o que o Senhor preparou" para os seus eleitos.
Fé e amor, o apropriado retorno a Deus. Agora, não penso que lhes dei conselho trivial em relação ao autocontrole, o qual se alguém o fizer não se arrependerá, mas salvará a si mesmo e a mim, que o aconselho. Não é pequena recompensa fazer voltar uma alma pere­grina e perecível para que seja salva. Esta é a recompensa que temos para retornar a Deus que nos criou, se aquele que fala e ouve, fala e ouve com fé e amor. Permaneçamos nas coisas em que cremos, justos e santos, para que com ousadia pecamos a Deus, que disse: "Enquan­to tu ainda estiveres falando, eu direi: Eis-me aqui, eu estou aqui". Esta declaração é o sinal de grande promessa: o Senhor diz de si mesmo que Ele está mais pronto a dar, do que aquele que pede, de pedir. Sendo participantes de tão grande generosidade, não sejamos invejosos uns dos outros na obtenção de tantas coisas boas. Pois tão grande quanto é o prazer que estas declarações têm por eles que as fizeram, tão grande é a condenação para aqueles que são desobedi-entes.
A excelência da caridade. Portanto, irmãos, tendo recebido não pequena ocasião de arrependimento, enquanto temos oportunidade, voltemo-nos a Deus que nos chamou, enquanto ainda o temos como aquEle que nos recebe. Se renunciarmos estes prazeres e conquistar­mos nossas almas, não fazendo nossos desejos maus, participaremos da misericórdia de Jesus. Mas vocês sabem que o Dia do Julgamento "vem como fogo ardente", e algumas partes "dos céus derreterão". Toda a terra será como chumbo derretido no fogo, e então as obras ocultas e abertas dos homens aparecerão. A caridade, por conseguin­te, é coisa boa, assim como o arrependimento de pecados; o jejum é melhor que a oração, mas a caridade é melhor que ambos; "mas o amor cobre uma multidão de pecados". A oração proveniente de uma consciência boa liberta da morte. Bendito é todo aquele que está cheio destas coisas, pois a caridade alivia o fardo do pecado.
O perigo de impenitência. Arrependamo-nos de todo o coração, a fim de que nenhum de nós pereça no caminho. Se temos mandamen­tos dizendo-nos para afastar os homens dos ídolos e instruí-los, quan­to mais não deve a alma que já conhece a Deus perecer! Ajudemo-nos uns aos outros para que também ajudemos os fracos quanto ao que é bom, a fim de que todos sejam salvos; e vamos nos converter e admo­estar uns aos outros. Não pensemos em dar atenção e acreditar agora somente quando somos admoestados pelos presbíteros, mas também quando voltamos para casa, lembrando-nos dos mandamentos do Senhor. Não sejamos arrastados por luxúrias mundanas, mas busque­mos progredir nos mandamentos do Senhor, para que todos tenha­mos a mesma mente, sejamos unidos à vida. O Senhor disse: "Eu vim para reunir todas as nações, tribos e línguas". Ele fala acerca do dia da sua manifestação, quando virá e nos remirá, cada um de acordo com suas obras. E os incrédulos "verão a sua glória" e força. Eles acharão estranho quando virem a soberania do mundo em Jesus, dizendo: "Ai de nós! Tu eras aquele, e nós não sabíamos, não cremos, e não obe­decemos aos presbíteros quando eles declaravam as coisas concernentes à nossa salvação". E "o seu verme nunca morrerá, nem o seu fogo se apagará; e serão um horror para toda a carne". Ele fala acerca daquele Dia do Julgamento quando eles verão aqueles entre nós que eram descrentes e agiam enganosamente com os manda­mentos do Senhor. Mas quando os justos, que fizeram o bem, supor­taram tormentos e odiaram os prazeres da alma, virem aqueles que se desviaram e negaram a Jesus mediante palavras ou ações, o quanto eles são castigados com tormentos atrozes num fogo inextinguível, darão glória a Deus, dizendo: "Haverá esperança para aquele que, de todo o coração, serviu a Deus".
O pregador confessa sua própria pecaminosidade. Sejamos do número daqueles que dão graças e servem a Deus, não dos descren­tes que já estão julgados. Eu também, sendo completo pecador e até agora não livre da tentação, mas ainda estando cercado pelas maqui­nações do Diabo, emprego diligência para seguir a justiça, a fim de que tenha forças para chegar nem que seja perto dela, temendo o julgamento por vir.
Ele Justifica sua exortação. Irmãos e irmãs, depois que o Deus da verdade foi ouvido, leio para vocês uma solicitação para que dêem atenção às coisas que estão escritas, a fim de que se salvem a si mesmos e salvem aquele que lê entre vocês. Como retribuição, peço-lhes que se arrependam de todo o coração, recebendo a salvação e a vida. Fazendo isto, teremos estabelecido uma meta para que todo jovem se empenhe pela devoção e bondade de Deus. E, insensatos que somos, não nos sintamos afrontados e desagradados, sempre que alguém nos admoesta e nos faz voltar da iniqüidade para a justiça. Às vezes, quando estamos praticando coisas más, não o percebemos, por causa da disposição dobre e incredulidade que estão em nosso peito, e por estarmos "obscurecidos em nosso entendimento" por nossas vãs concupiscências. Pratiquemos a justiça para que sejamos salvos até o fim. Benditos são aqueles que obedecem estes manda­mentos. Mesmo que por um pouco de tempo sofram o mal no mun­do, eles desfrutarão o fruto imortal da ressurreição. Que o piedoso não se lamente, se for desgraçado nos tempos atuais; uma época bendita o aguarda. Ele, vivendo novamente nas alturas com o Senhor, estará alegre por uma eternidade sem pesar.
Palavras finais de consolação. Doxologia. Nem seus entendimen­tos fiquem perturbados ao verem os injustos tendo riquezas e os ser­vos de Deus, pobreza duradoura. Sejamos crentes, irmãos e irmãs. Estamos nos esforçando na lida do Deus vivo; somos disciplinados pela vida presente para que sejamos coroados na vida futura. Ne­nhum dos justos recebeu fruto de imediato, mas esperou por ele. Se Deus desse recompensa imediata aos justos, estaríamos nos exerci­tando no assunto e não na santidade. Pareceríamos ser justos, ao mesmo tempo que buscaríamos o que não é santo, mas o que é lucrativo. E por conta disso, o julgamento divino surpreendeu um espírito que não era justo e o prendeu com correntes.
Ao único Deus invisível, o Pai da verdade, que nos enviou o Salvador e Príncipe da incorrupção, por meio de quem Ele nos mani­festou a verdade e a vida celestial, a Ele seja a glória para sempre e sempre. Amém.


João Crisóstomo:
A Grandeza do Apóstolo Paulo


João Crisóstomo (conhecido como "Boca de ouro") é, depois dos apóstolos, o pregador mais famoso na história do Cristianismo. Nas­ceu em Antioquia, em 347, e morreu em Ponto, em 407. Começou o estudo da retórica e mostrou grande promessa para o futuro, mas, mediante os esforços piedosos de sua mãe, Antusa, ele abraçou o Cristianismo e se retirou para o deserto, onde passou dez anos em meditação e renúncia. Depois, tornou-se diácono e, mais tarde, presbítero em Antioquia. Logo chamou a atenção como pregador, sobretudo através de uma série de sermões sobre as estátuas, prega­do numa época em que o imperador Teodósio pretendia lançar seve­ras represálias contra o populacho de Antioquia, onde suas estátuas haviam sido destruídas numa revolta.
Como arcebispo de Constantinopla, Crisóstomo pregou corajo­samente contra as políticas da imperatriz Eudoxia. Sua atitude inflexí­vel para com o tribunal e os clérigos licenciosos e avarentos fizeram-no vítima de uma conspiração eclesiástica, e ele foi condenado por contumácia pelo sínodo conclamado pelos seus inimigos e levado a Bitínia. A fúria popular era tão grande que o imperador teve de chamá-lo de volta. Mas logo o enviaram para o exílio outra vez e, depois de ser levado de lugar em lugar, faleceu a caminho do deserto de Pítio.
Seus sermões são na maioria expositivos ou comentários fluen­tes sobre o texto de uma passagem bíblica. Deste modo, ele cobriu grandes porções do Novo Testamento. Crisóstomo linha amplo al­cance e poderia dedilhar cada nota do coração humano. Um dos exemplos mais nobres de sua eloqüência é sua última homília sobre a Epístola aos Romanos. Não é apenas um dos melhores exemplos de eloqüência patrística, mas talvez o maior tributo que jamais foi dado ao apóstolo Paulo.


A Grandeza do Apóstolo Paulo

QUEM há de orar por nós, desde que Paulo partiu? Estes que são os imitadores de Paulo.
Apenas nos consideremos dignos de tal intercessão a fim de que não seja que ouçamos só a voz de Paulo aqui, mas que, no futuro, quando tivermos partido, sejamos também contados dignos de ver o lutador de Cristo. Ou, antes, se o ouvirmos aqui. certamente o veremos no outro mundo, se não perto dele, ainda o veremos com certeza, brilhando perto do trono do Rei. Onde os querubins cantam a glória, onde voam os serafins, lá veremos Paulo, com Pedro, e como chefe e líder do coro dos santos, e desfrutaremos seu amor generoso. Pois se quando estava aqui ele amava tanto os homens, que, tendo a escolha de partir e estar com Cristo, escolheu ficar aqui, muito mais ali ele mostrará um afeto mais caloroso.
Eu amo Roma até por isso, embora tenha-se de fato outra base para louvá-la, por sua grandeza, antigüidade, beleza, população nu­merosa, poder, riqueza e sucessos na guerra. Mas deixei passar tudo, e a estimo abençoada por conta disto: que em sua vida ele lhes escre­veu, amou-os tanto, falou com eles enquanto estava conosco e sua vida chegou a um fim ali. Portanto, a cidade é mais notável sob este aspecto do que sob todos os outros juntos. E como corpo grande e forte, tem como dois olhos brilhando os corpos desses santos. O céu não é tão luminoso, quando o sol envia seus raios, como é a cidade de Roma enviando estas duas luzes a todas as partes do mundo. Daquele lugar Paulo será tomado, como também Pedro. Apenas con­sidere e estremeça com o pensamento de que visão Roma verá, quan­do Paulo surgir de repente daquele depósito, junto com Pedro, e for elevado para o encontro com o Senhor. Que rosa Roma enviará para Cristo! Que duas coroas a cidade terá! Com que correntes douradas ela será cingida! Que fundações possuem! Portanto, eu admiro a cida­de, não pelo muito ouro, nem pelas colunas, nem por outro aparato ali encontrado, mas por estes pilares da Igreja.
O que seria se me fosse dado lançar-me em volta do corpo de Paulo, ser cravado ao túmulo e ver o pó daquele corpo que "supria o que estava faltando" de Cristo, que trazia "as marcas", que semeou o Evangelho em todos os lugares, sim, o pó daquele corpo pelo qual ele andou por todos os lugares! O pó daquele corpo pelo qual Cristo falou e a luz brilhou mais luminosa que um raio, e a voz saiu (mais terrível que um trovão para os demônios!), pelo qual ele arti­culou aquela voz abençoada, dizendo: "Eu mesmo poderia desejar ser amaldiçoado, por meus irmãos", com a qual ele falou: "Perante reis, eu não me envergonhei", com a qual viremos a conhecer Pau­lo, com a qual também viremos a conhecer o Mestre de Paulo. Não nos é tão terrível o trovão, como foi essa voz aos demônios! Pois se eles estremeciam ao ver as roupas dele, muito mais estremeciam diante de sua voz. Esta voz os levou cativos, limpou o mundo, pôs um basta às doenças, expulsou vícios, elevou a verdade bem alto, fez Cristo cavalgar sobre ela e em todos os lugares saiu com ele; e como de querubim era a voz de Paulo, pois assim como o querubim estava assentado sobre esses poderes, assim ele estava na língua de Paulo. Porque tinha se tornado merecedor de receber Cristo falando somente as coisas que eram aceitáveis a Cristo, e voando como serafim a alturas indizíveis! Pois que mais sublime do que aquela voz que diz: "Porque estou certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o pre­sente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor!" (Rm 8.38,39)? Que remígios este discur­so não parece ter a vocês? Que olhos? Era devido a isso que ele disse: "Porque não ignoramos os seus ardis" (2 Co 2.11). Por causa disso, os demônios não só fogem ao ouvi-lo falar, mas até ao verem as suas roupas.
Esta é a boca, de cujo pó eu gostaria de ver, pela qual Cristo falou coisas grandiosas e secretas e maiores do que em sua própria pessoa (pois assim como Ele fez, assim Ele também falou maiores coisas pelos discípulos), pela qual o Espírito deu ao mundo esses oráculos maravilhosos. Por qual coisa boa essa boca não operou? Por ela os demônios foram expulsos, os pecados libertados, os tiranos amorda­çados, as bocas de filósofos caladas, o mundo levado para Deus, os selvagens persuadidos a aprender sabedoria, a ordem da terra foi alterada. As coisas no céu também ela dispôs do modo como quis, prendendo quem seria preso e soltando no outro mundo "de acordo com o poder que lhe foi dado".
Não só da boca, mas do coração também eu gostaria de ver o pó, o qual o homem não erraria em chamar o coração do mundo, fonte de bênçãos incontáveis e um começo e elemento de nossa vida. Pois o espírito de vida foi abastecido de tudo isso, e distribuído pelos membros de Cristo, não como sendo enviado pelas artérias, mas por livre escolha de boas ações. Esse coração era tão grande quanto a abranger cidades, povos e nações inteiras. "Pois o meu coração", diz ele, 'está aumentado". Contudo, até um coração tão grande assim, a caridade que o aumentou muitas vezes o deixou apertado e oprimi­do. Pois ele diz: "Porque, em muita tributação e angústia do coração, vos escrevi, com muitas lágrimas" (2 Co 2.4). Eu desejaria ver esse coração mesmo depois de sua decomposição, que ardia por todo aquele que estava perdido, que sofria dores de parto uma segunda vez pelos filhos que tinham provado o aborto, que via a Deus ("pois os puros de coração", diz ele, "verão a Deus"), que se tornou um sacrifício ("pois o sacrifício para Deus é um coração contrito"), que era mais sublime que os céus, que era mais largo que o mundo, que era mais brilhante que os raios do sol, que era mais quente que o fogo, que era mais forte que o diamante, que enviou rios ("pois rios", diz ele, "de água viva fluirão do seu ventre"), nos quais estava uma fonte que brota e dá de beber, não à face da terra, mas às almas dos homens, dos quais não só rios, más até fontes de lágrimas vertiam dia e noite, que viviam a vida nova, não esta nossa (porque "eu vivo", diz ele, "ainda que não eu, mas Cristo vive cm mim", assim o coração de Paulo era o seu coração, uma tábua do Espírito Santo e um livro da graça); que tremia pelos pecados dos outros (pois "eu temo", diz ele, "que por algum meio eu vos tenha labutado em vão; para que como a serpente iludiu Eva; temendo que quando eu vier não vos ache como eu quereria"); o qual temeu por si mesmo c também estava confiante (porque eu temo, diz ele, "para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado", 1 Co 9.27). E, "estou certo de que nem [...] os anjos, [...] nem as potestades [...! nos poderá separar" (Rm 8.38,39); que foi contado digno de amar a Cristo como nenhum outro homem o amou; que menosprezou a morte e o inferno, não obstante ficou quebrantado pelas lágrimas de irmãos (pois ele diz: "Que fazeis vós, chorando e magoando-me o coração?", At 21.13); que sofria com paciência, ainda que não podia suportar estar ausente dos tessalonicenses pelo espaço de uma hora!
Anseio ver o pó das mãos que estavam em correntes, por cuja imposição o Espírito foi concedido, através das quais os escritos divi­nos chegaram até nós, pois: "Vede com que grandes letras vos escrevi por minha mão" (Gl 6.11), e, novamente: "Saudação da minha pró­pria mão, de mim, Paulo" (2 Ts 3-17); dessas mãos à vista das quais a serpente "caiu no fogo".
Almejo ver o pó dos olhos que ficaram cegos gloriosamente, que recuperaram a visão para a salvação do mundo; que até no corpo foram contados dignos de ver a Cristo, que viu coisas terrestres, em­bora não as visse, que viu as coisas que não se vêem, que não viu sono, que estavam alertas à meia-noite, que não foram afetados como os nossos olhos o são.
Também veria o pó dos pés que percorreram o mundo e não se cansaram, que estavam presos no tronco quando a prisão foi sacudi­da, que passaram por regiões habitadas ou despovoadas, que cami­nharam em tantas jornadas.
E por que preciso falar dos membros? Eu veria o túmulo onde a armadura da justiça foi posta, as armas da luz, os membros que agora vivem, mas que em vida foram mortificados; e em todos os membros de quem Cristo vivia, que estavam crucificados para o mundo, que eram membros de Cristo, que eram revestidos em Cristo, eram templo do Espírito, edifício santo, "unidos no Espírito", cravados ao temor de Deus, que tinham as marcas de Cristo. Este corpo é um muro para aquela cidade, que é mais segura que todas as torres e que milhares de ameias. E com ele está o túmulo de Pedro. Ele o honrou enquanto vivia. Ele "subiu para ver Pedro" e, então, mesmo quando faleceu, a graça o permitiu ficar com ele.
Eu veria o leão espiritual. Assim como o leão respira fogo sobre bandos de raposas, assim ele se arrojou sobre o clã de demônios e filósofos, e como o estouro de um raio foram derrotadas as hostes do Diabo. Pois ele nem mesmo veio para dispor a batalha em ordem contra si, visto que ele temeu tanto e tremeu diante dEle, como se visse sua sombra e ouvisse sua voz, ele fugiu até certa distância. E assim livrou de si o fornicador, embora a certa distância, e outra vez o arrebatou das suas mãos; e assim outros também, para que fossem ensinados a "não blasfemar". E considerem como Ele enviou seus próprios seguidores contra ele, despertando-os, provendo-os. E certa vez ele diz aos efésios: "Não temos que lutar contra carne e sangue, mas. sim, contra os principados, contra as potestades" (Ef 6.12). Então ele também põe nosso prêmio nas regiões celestiais. Pois não luta­mos pelas coisas da terra, diz ele, mas pelo céu e as coisas dos céus, E para os outros, ele diz: "Não sabeis vós que havemos de julgar os anjos? Quanto mais as coisas pertencentes a esta vida?" (1 Co 6.3).
Sejamos nobres, pondo tudo isso no coração; pois Paulo era ho­mem, participante da mesma natureza conosco e tendo tudo o mais em comum conosco. Mas pelo fato de ter mostrado tão grande amor por Cristo, ele foi acima dos céus e ficou com os anjos. E assim tam­bém se nós nos despertarmos um pouco e nos inflamarmos nesse fogo santo, poderemos emular esse homem santo. Fosse isso impos­sível, ele nunca teria bradado a plenos pulmões e dito: "Sede meus imitadores, como também eu, de Cristo" (1 Co 11.1). Não nos colo­quemos tão somente a admirá-lo, ou fiquemos apenas impressiona­dos com ele, mas o imitemos para que também nós, quando partir­mos, sejamos contados dignos de ver e compartilhar a glória indescritível, a qual Deus conceda que todos a alcancemos pela graça e amor para com o homem de nosso Senhor Jesus Cristo, por quem e com quem seja a glória ao Pai, com o Espírito Santo, agora e eterna­mente. Amém.


Agostinho:
As Dez Virgens


Agostinho i um dos maiores nomes na história da Igreja cristã. Ele era um tição arrancado do fogo, como o próprio Paulo, podero­so troféu do Espírito Santo. Nasceu em Tagasta, África (atual Souk-Ahras, Argélia), em 13 de novembro de 354, e morreu em Hipona, África, em 28 de agosto de 430. Seu pai era pagão, mas sua mãe, Mônica, era cristã de maravilhosa beleza de caráter e profundidade de fé. Quando jovem, Agostinho foi treinado para a carreira da retórica. Ele viveu em pecado com uma moça que lhe deu um filho, a quem era profundamente dedicado, dando-lhe o nome de Adeodato. "dado por Deus". Durante esses anos de vida licenciosa, sua mãe nunca deixou de orar e se esforçar pela conversão dele. Foi a ela que o bispo de Tagasta fez a célebre observação, que tem consolado tantas mães ansiosas, que "um filho de tantas lágrimas não pode ser perdido'.
Quando seguia sua profissão de retórica em Milão, Agostinho pôs-se sob a influência de Ambrósio, bispo de Milão, e foi levado à vida cristã. Mas ele estava tão enredado na sensualidade, que se es­quivava de sacrifício que envolvesse uma confissão de fé. Depois de intensas lutas espirituais, descritas graficamente na sua obra Confis­sões, Agostinho finalmente achou Cristo e a paz. Em 396, foi feito bispo da sede episcopal de Hipona, na África. Daí em diante, tornou-se uma das grandes figuras da Igreja daqueles tempos, na verdade, de todos os tempos. Sua mente poderosa criou uma série de livros, sendo o maior deles A Cidade de Deus, obra vasta na qual ele procu­ra vindicar o Cristianismo e concebe a Igreja como uma ordem nova e divina que surge das ruínas do Império Romano. Engajou-se em muitas controvérsias, sendo a mais importante a controvérsia com Pelágio e os pelagianos. Contra Pelágio, que afirmava ser o pecado de Adão puramente pessoal, e afetava só a ele, Agostinho defendeu a doutrina do pecado original, que os homens herdam de Adão uma natureza pecadora e. assim, estão sob condenação. Agostinho é acla­mado por todas as escolas da Igreja Crista, e tanto católicos quanto protestantes o consideram, ao lado do apóstolo Paulo, como o gran­de mestre em relação ao significado do pecado e ao passado da natureza humana.
Seu sermão sobre "As Dez Virgens" é um interessante tratado de um dos grandes temas de púlpito: a Segundo Vinda de Cristo. Espe­cialmente belas são as palavras finais: "As nossas lâmpadas alumiam entre os ventos e as tentações desta vida. Mas deixemos que nossa chama queime fortemente, que o vento da tentação aumente o fogo, em vez de apagá-lo".


As Dez Virgens


Então, o Reino dos céus será semelhante a dez virgens..." (Mt 25-1)

VOCÊS que estavam presentes ontem se lembram de minha promessa, a qual, com a ajuda do Senhor, será cumprida hoje, não somente a vocês, mas aos muitos outros que também se reuniram aqui. Não é questão fácil dizer quem são as dez virgens, cinco das quais são sábias e as outras cinco, tolas. Não obstante, de acordo com o contexto desta passagem a qual desejei que fosse lida hoje novamente a vocês, ama­dos, não penso, até onde o Senhor me conceder entendimento, que esta parábola ou similitude relacione-se somente com essas mulheres. Estas, por uma santidade peculiar e mais excelente, são chamadas virgens na igreja, as quais, por um termo mais habitual, também cha­mamos "as religiosas"; mas, se não me engano, esta parábola se rela­ciona com a totalidade da Igreja. No entanto, embora devamos entendê-la somente acerca daquelas que são chamadas "as religiosas", não são dez? Deus proíba que tão grande companhia de virgens seja reduzida a tão pequeno número! Porém, talvez alguém diga: "Mas, e se embora sejam tantas em profissão exterior, contudo, na verdade sejam tão poucas, que escassas dez podem ser encontradas!" Não é assim. Pois se Ele tivesse querido dizer que as virgens boas só deveriam ser en­tendidas pelas dez. Ele não teria representado cinco tolas entre elas. Se este é o número das virgens que são chamadas, por que as portas são fechadas contra as cinco?
Entendamos, amados irmãos, que esta parábola se relaciona com todos nós, isto é, com toda a Igreja, não somente com o clero de quem falamos ontem; nem somente com o laicato, mas com todos em geral. Então, por que as virgens são dois grupos de cinco? Estas vir­gens são todas as almas cristãs. Mas para que eu possa lhes dizer o que pela inspiração do Senhor penso, não são almas de todo tipo, mas as almas que têm fé e parecem ter boas obras na Igreja de Deus; e, não obstante, até entre elas, "cinco são sábias e cinco são tolas". Primeiro, vejamos por que são chamadas "cinco" e por que "virgens" e, depois, consideremos o restante. Cada alma no corpo é denotada pelo número cinco, porque faz uso dos cinco sentidos. Não há nada de que tenhamos percepção pelo corpo, senão pela porta de cinco dobras: a visão, a audição, o olfato, o paladar ou o tato. Aqueles que se privam da visão ilícita, da audição ilícita, do olfato ilícito, do pala­dar ilícito e do tato ilícito, por causa da sua incorrupção, receberam o nome de virgens.
Mas se é bom abster-se dos estímulos ilícitos dos sentidos e. por conta disso cada alma cristã recebeu o nome de virgem, por que cinco são admitidas e cinco rejeitadas? Todas são virgens e, não obstante, cinco são rejeitadas. Não é o bastante que sejam virgens e que tenham lâmpadas. São virgens por causa da abstinência do uso ilícito dos sentidos; têm lâmpadas por causa das boas obras. De cujas boas obras o Senhor disse: "Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que está nos céus" (Mt 5.16). Outra vez Ele diz aos discípulos: "Estejam cingidos os vossos lombos, e acesas as vossas candeias" (Lc 12.35). Nos "lombos cingidos" está a virgindade; nas "candeias ace­sas", as boas obras.
O título de virgindade não é normalmente aplicado aos casados; contudo, até neles há certa virgindade de fé que produz castidade de casados. Saibam, santos irmãos, que todo aquele que, como a tocar a alma, tem fé incorrupta, pratica abstinência de coisas ilícitas e faz boas obras, não é adequadamente chamado de "virgem". Toda a Igre­ja, que consiste em virgens, meninos, homens casados e mulheres casadas, é por um nome chamada de virgem. Como provamos isso? Ouçam a declaração do apóstolo Paulo, que diz não somente às mu­lheres religiosas, mas a toda a Igreja: "... porque vos tenho preparado para vos apresentar como uma virgem pura a um marido, a saber, a Cristo" (2 Co 11.2). E porque devemos nos precaver contra o Diabo, o corruptor desta virgindade, o apóstolo acrescentou: "Mas temo que, assim como a serpente enganou Eva com a sua astúcia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos sentidos e se apartem da simplicidade que há em Cristo" (v. 3). Poucos têm virgindade físi­ca; no coração, todos devemos tê-la. Se a abstinência do que é ilícito é bom, pelo que recebeu o nome de virgindade, e as boas obras são louváveis, que são significadas pelas lâmpadas, por que cinco são admitidas e cinco rejeitadas? Se há uma virgem e uma que leva lâmpa­da, que contudo não é admitida, onde ela se verá, que nem preserva a virgindade das coisas ilícitas e que nem desejando ter boas obras anda em trevas?
Destes, meus irmãos, sim, destes vamos tratar. Aquele que não vê o que é mau, aquele que não ouve o que é mau, aquele que desvia seu olfato dos fumos ilícitos e seu paladar da comida ilícita dos sacri­fícios, aquele que recusa o abraço da esposa de outro homem, repar­te o pão com os famintos, traz o estranho à sua casa, veste os desnu­dos, reconcilia os litigiosos, visita os doentes, sepulta os mortos; ele com certeza é uma virgem, ele com certeza tem lâmpadas. O que mais buscamos? Algo, contudo, ainda busco. O santo Evangelho me colocou nesta busca. Está escrito que até entre estas virgens que le­vam lâmpadas, algumas são sábias e algumas tolas. Como vemos isso? Como fazemos distinção? Através do óleo. Alguma coisa grande, algu­ma coisa sumamente grande significa este óleo. Vocês acham que não é o amor? Isto dizemos à medida que investigamos o que é; não nos aventuramos a julgamento precipitado. Eu lhes direi por que o amor parece estar significado pelo óleo. O apóstolo diz: "... e eu vos mos­trarei um caminho ainda mais excelente. Ainda que eu falasse as lín­guas dos homens e dos anjos e não tivesse caridade, seria como o metal que soa ou como o sino que tine" (1 Co 12.31b; 13-1). A carida­de é o caminho acima dos demais, a qual com boa razão está significada pelo óleo, pois o óleo mantém-se acima de todos os líquidos. Colo­que água, derrame óleo, e este se manterá sobre a água. Coloque óleo, derrame água, e o óleo ainda assim permanecerá sobre a água. Se você mantiver a ordem habitual, ele ficará no ponto mais alto; se você mudar a ordem, ele continuará no ponto mais alto. "A caridade nunca falha".
Tratemos agora das cinco virgens sábias e das cinco virgens to­las. Elas desejavam ir ao encontro do Esposo. Qual é o significado de "sair ao encontro do Esposo?" Ir com o coração, estar esperando por sua vinda. Mas Ele tarda. "E, tardando o esposo, tosquenejaram todas". O que significa "todas"? Tanto as tolas quanto as sábias "tosquenejaram todas e adormeceram". Este sono é bom? O que quer dizer este sono? É que com a tardança do Esposo, "por se multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos se esfriará" (Mt 24.12)? Devemos entender este sono assim? Não gosto disso. Eu lhes direi por quê. Porque entre elas estão as virgens sábias; e, certamente, quando o Senhor disse: "E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos se esfriará", Ele continuou, dizendo: "Mas aquele que perseverar até ao fim será salvo" (v. 13). Onde estariam essas vir­gens sábias? Elas não estão entre aquelas que vão **perseverar até ao fim"? Elas não seriam admitidas entre todas, irmãos, por nenhuma outra razão senão porque elas perseverariam até o fim. Nenhuma frieza de amor se insinuou sobre elas; nelas o amor não esfriou, mas conserva seu brilho ainda até o fim. E porque brilham até o fim, as portas do Esposo estão abertas para elas. É dito a elas que entrem, como àquele servo excelente: "Entra no gozo do teu senhor" (Mt 25-21). Qual é o significado de "todas dormiram"? Há outro sono do qual ninguém escapa. Lembram-se da declaração do apóstolo: "Não quero, porém, irmãos, que sejais ignorantes acerca dos que já dor­mem, para que não vos entristeçais, como os demais, que não têm esperança" (1 Ts 4.13), ou seja, concernente àqueles que estão mor­tos? Por que eles são chamados 'os que já dormem", mas estão no seu próprio dia? Então, "todas dormiram". Vocês acham que pelo fato de alguém ser sábio, não morre? Seja a virgem tola ou a sábia, todas sofrem o sono de morte igualmente.
Mas os homens dizem continuamente para si mesmos: "Eis que o Dia do Julgamento está vindo. Tantos males estão acontecendo, tan­tas tribulações se multiplicam; vejam, todas as coisas que os profetas disseram estão quase cumpridas. O Dia do Julgamento já está às por­tas". Aqueles que falam assim, em fé, superam astuciosamente tais pensamentos para "encontrarem-se com o Esposo". Mas, vejam! guer­ra sobre guerra, tributação sobre tribulação, terremoto sobre terremo­to, fome sobre fome, nação contra nação e o Esposo ainda não veio. Enquanto se espera que Ele venha, todos os que dizem: "Vejam, Ele está vindo, e o Dia do Julgamento nos encontrará aqui", dormem. Enquanto dizem isto, continuam a dormir. Que cada um de nós tenha em vista este seu sono e persevere até ao seu sono de amor; que o sono o ache esperando assim. Pois, suponha que ele dormiu. "Aquele que dorme não ressuscitará?" Então, "todas dormiram". Tanto as sábi­as quanto as virgens tolas, na parábola, todas dormiram.
"Mas, à meia-noite, ouviu-se um clamor". O que é "à meia-noite"? Quando não há nenhuma expectativa, absolutamente nenhuma con­vicção. A noite indica ignorância. O indivíduo faz um cálculo consigo mesmo: "Vejam, tantos anos se passaram desde Adão, e os seis mil anos estão se completando, e então imediatamente de acordo com a computação de certos expositores, o Dia do Julgamento virá". Contu­do, estes cálculos vêm e passam, e ainda a chegada do Esposo tarda, e as virgens que haviam ido encontrá-lo, dormem. E, vejam, quando Ele não é esperado, quando os homens dizem: "Os seis mil anos foram esperados, e, passaram-se. Como saberemos quando Ele virá?" Ele virá à meia-noite. O que significa "virá à meia-noite"? Virá quando vocês não estiverem cientes. Por que Ele virá quando vocês não esti­verem cientes? Ouçam o próprio Senhor: "Não vos pertence saber os tempos ou as estações que o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder" (At 1.7). "O Dia do Senhor", diz o apóstolo, "virá como o ladrão de noite" (1 Ts 5-2). Portanto, vigiem de noite para que não sejam sur­preendidos pelo ladrão. Pois o sono da morte — quer vocês durmam ou não — virá.
Mas, à meia-noite, ouviu-se um clamor" (Mt 25.6). Que clamor foi este. senão acerca do qual o apóstolo diz: "Num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta"? "... porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados" (1 Co 15-52). E quando o clamor foi dado à meia-noite: "Aí vem o espo­so!", o que se segue? "Então, todas aquelas virgens se levantaram". O que significa todas "elas" se levantaram? "Vem a hora", disse o próprio Senhor, "em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz [...1 [e] sairão" (Jo 5.28,29). Então, ante a última trombeta. todos se levantarão. "As loucas, tomando as suas lâmpadas, não levaram azeite consigo. Mas as prudentes levaram azeite em suas vasilhas, com as suas lâmpadas" (Mt 25.3,4). Qual é o significado de "não levaram óleo em suas vasilhas"? O que quer dizer "em suas vasilhas"? Em seus corações. O apóstolo diz: "Nossa glória é esta, o testemunho de nossa consciência". Há o óleo, o óleo precioso; este óleo é proveniente do dom de Deus. Os homens podem pôr óleo em suas vasilhas, mas não podem criar a azeitona. Vejam, eu tenho óleo, mas vocês criaram o óleo? É proveniente do dom de Deus. Vocês têm óleo. Levem-no consigo. O que é "levá-lo convosco"? Tenham-no dentro de si para agradar a Deus.
Essas virgens tolas que não levaram óleo consigo desejam agradar os homens mediante essa abstinência, por meio da qual são chamadas virgens, e mediante suas boas obras, quando parecem levar lâm­padas. E se desejam agradar os homens, e por conta disso fazem todas essas obras louváveis, elas não levam óleo consigo. Se vocês levam-no consigo, levam-no no interior onde Deus vê; ali levam o testemunho de sua consciência. Pois aquele que anda para ganhar o testemunho de outrem não leva óleo consigo. Se vocês se privam das coisas ilícitas e fazem boas obras para serem louvados pelos homens, não há óleo interior. E assim, quando os homens começam a deixar seus louvores, as lâmpadas falham. Observem, amados, antes que essas virgens dormissem, não está escrito que as lâmpadas se apaga­vam. As lâmpadas das virgens sábias queimavam com um óleo interi­or, com a garantia de uma boa consciência, com uma glória interior, com uma caridade interna. Contudo, as lâmpadas das virgens tolas também queimavam. Por que queimavam? Porque ainda não havia falta dos louvores dos homens. Mas depois que se levantaram, na ressurreição dos mortos, elas começaram a preparar as lâmpadas, ou seja, começaram a se preparar para prestar contas a Deus das suas obras. E porque não há ninguém a louvar, cada um está inteiramente engajado em sua própria causa, não há ninguém que não pense em si mesmo, então não havia ninguém para lhes vender óleo; assim as lâmpadas começaram a falhar, e as tolas correram até as cinco sábias e disseram: "Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas lâmpadas se apagam" (Mt 25.8). Elas procuravam o que se acostumaram a buscar, para brilhar com o óleo de outrem, para andar segundo os louvores de outrem.
Porém, as sábias disseram: "Não seja caso que nos falte a nós e a vós; ide, antes, aos que o vendem e comprai-o para vós" (v. 9). Esta não era a resposta daqueles que dão conselho, mas daqueles que escarnecem. Por que elas escarnecem? Porque eram sábias, porque a sabedoria estava nelas. Porque elas não eram sábias de si mesmas; mas essa sabedoria estava nelas, acerca da qual está escrito em certo livro, ela dirá àqueles que a menosprezaram, quando eles caíram nos males que ela as prenunciou: "Eu rirei em sua destruição". O que significa, então, esta zombaria das virgens sábias diante das tolas?
"Ide. antes, aos que o vendem e comprai-o para vós", vocês que nunca viveram bem, mas pelo fato de os homens os louvarem, eles lhes vendiam óleo. O que significa "lhes vendiam óleo"? Vendiam louvores, elogios. Quem vende elogios, senão os lisonjeiros? O quan­to teria sido melhor vocês não terem aquiescido com os lisonjeiros e terem levado óleo consigo, e em prol de uma boa consciência terem feito todas as boas obras. Então vocês podem dizer: "O justo me corrigirá em misericórdia e me reprovará, mas o óleo do pecador não engordará minha cabeça". Antes, ele diz, que o justo me corrija, que o justo me reprove, que o justo me esbofeteie, que o óleo do pecador engorde minha cabeça. O que é o óleo do pecador, a não ser as blandícias do lisonjeiro?
Então, "ide, antes, aos que o vendem"; isto vocês se acostumaram a fazer. Mas nós não lhes daremos. Por quê? 'Não seja caso que nos falte a nós e a vós". O que significa 'não seja caso que nos falte"? Isto não foi falado em falta de esperança, mas em humildade sóbria e piedosa. Pois embora o homem bom tenha uma boa consciência, como ele sabe como Deus pode julgar quem não é enganado por ninguém? Ele tem uma boa consciência, nenhum pecado concebido no coração o solicita, contudo, ainda que sua consciência seja boa, por causa dos pecados diários da vida humana, ele disse a Deus: "Perdoa-nos as nossas dívidas"; considerando que ele fez o que vem a seguir, "assim como nós perdoamos aos nossos devedores". Ele repartiu o pão aos famintos de coração, de coração ele vestiu os desnudos; daquele óleo interior ele fez boas obras, e contudo nesse julgamento até sua boa consciência treme.
Vejam então o que significa "dai-nos do vosso azeite". Foi dito a cias: "Ide, antes, aos que o vendem". Considerando que vocês esta­vam acostumados a viver segundo os louvores dos homens, vocês não levam óleo consigo; mas não lhes podemos dar nada, para que "não seja caso que nos falte a nós e a vós". Pois dificilmente julgamos a nós mesmos, quanto menos julgaremos vocês? O que significa "difi­cilmente julgamos a nós mesmos"? Porque "quando o Rei justo se assentar no trono, quem se gloriará que o seu coração é puro?" Pode ser que você não descubra nada em sua própria consciência. Mas aquele que vê melhor, cujo olhar divino penetra as coisas mais pro­fundas, descobre algo; Ele vê que pode ser algo, Ele descobre algo. Quanto é melhor você lhe dizer: "Não entres agora em julgamento com o teu servo", quanto melhor: "Perdoa-nos as nossas dívidas". Porque também lhe será dito por causa dessas tochas, por causa dessas lâmpadas, "tive fome, e deste-me de comer". E então? As virgens tolas também não fizeram o mesmo? Sim, mas elas não o fizeram diante dEle. Como o fizeram? Conforme, que Deus nos livre, Ele dis­se: "Guardai-vos de fazer a vossa esmola diante dos homens, para serdes vistos por eles; aliás, não tereis galardão junto de vosso Pai, que está nos céus. [...] E, quando orares, não sejas como os hipócritas, pois se comprazem em orar em pé nas sinagogas e às esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão" (Mt 6.1,5). Elas compraram óleo, deram o preço, não foram defraudadas pelos louvores dos homens: buscaram os louvores dos homens e os tiveram. Estes louvores dos homens não as ajudaram no Dia do Julgamento. Mas as outras virgens, como o fizeram? "Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que está nos céus" (Mt 5.16). Ele não disse: 'podem glorificar você". Porque você tem óleo de si mesmo. Orgulhe-se e diga: Eu o tenho; mas tenho o óleo dEle, "e que tens tu que não tenhas recebido?" Assim desse modo agiu uma, e de outro, a outra.
Não é de se admirar que "tendo elas ido comprá-lo", enquanto buscavam por pessoas por quem serem louvadas, não acharam ne­nhuma; enquanto estão buscando por pessoas por quem serem con­soladas, não acham nenhuma; que a porta é aberta e "o esposo che­ga"? A Noiva, a Igreja, é glorificada com Cristo, para que os vários membros se reúnam no seu todo. "... e as que estavam preparadas entraram com ele para as bodas, e fechou-se a porta" (Mt 25.10). Então as virgens tolas vieram cm seguida; mas tinham comprado ou encontrado óleo de quem pudessem comprar? Portanto, acharam as portas fechadas; passaram a bater, mas era muito tarde.
É dito, e é verdade, não se trata de declaração enganosa: "Batei, e abrir-se-vos-á"; mas agora quando é o tempo da misericórdia e não quando é o tempo do julgamento. Pois esses tempos não podem ser confundidos, visto que a Igreja canta ao seu Senhor da "misericórdia e julgamento". É o tempo da misericórdia; arrependam-se. Vocês po­dem se arrepender no tempo do julgamento? Então, vocês serão como essas virgens contra quem a porta estava fechada. "Senhor, senhor. abre-nos a porta!" O quê! Elas não se arrependeram por não terem levado óleo consigo? Sim, mas de que proveito foi o seu último arrependimento, quando a verdadeira sabedoria escarneceu delas? Por­tanto, 'a porta estava fechada". E o que lhes foi dito? "Eu não vos conheço". Ele não as conhecia, aquEle que conhece todas as coisas? O que Ele quer dizer com "eu não vos conheço"? Eu as repilo, Eu rejeito vocês. Segundo meu conhecimento, Eu não as reconheço; meu conhecimento não conhece vícios. Agora, isto é coisa maravilhosa, não conhece vícios e julga os vícios. Não os conhece na prática; julga reprovando-os. Assim, "não vos conheço".
As cinco virgens sábias vieram e "entraram". Quantos de vocês, meus irmãos, estão na profissão do nome de Cristo! Que haja entre vocês as cinco sábias, mas que não sejam somente cinco. Que haja entre vocês as cinco sábias que pertencem a esta sabedoria do núme­ro cinco. Pois a hora virá, e vem quando não sabemos. Virá à meia-noite; vigiem. Assim o Evangelho conclui: "Vigiai, pois, porque não sabeis o Dia nem a hora" (Mt 25.13). Mas se todos dormirmos, como vigiaremos? Vigiem com o coração, vigiem com fé, vigiem com espe­rança, vigiem com amor, vigiem com boas obras; e então, quando dormirem no corpo, virá o tempo em que vocês ressuscitarão. E quando vocês tiverem ressuscitado, preparem as lâmpadas. Então não se apa­garão mais, serão renovadas com o óleo interno da consciência; o Noivo os abraçará no seu abraço espiritual, Ele os trará à sua casa, onde vocês nunca dormirão, onde sua lâmpada nunca se apagará. Porém, no momento estamos no trabalho, e as nossas lâmpadas alumiam entre os ventos e as tentações desta vida. Mas deixemos que nossa chama queime fortemente, que o vento da tentação aumente o fogo, em vez de apagá-lo.


John Wesley:

O Grande Julgamento


“Todos havemos de comparecer ante o tribunal de Cristo." (Rm 14.10)

QUANTAS circunstâncias concorrem para levantar a terribilidade da presente solenidade! A multidão geral de pessoas de todas as idades, sexo, classe social e condição de vida, reunidas de boa ou má vontade, não só das vizinhanças, mas também de regiões distantes. Crimino­sos, para prontamente serem levados à frente e sem meio de fuga; oficiais, esperando em seus vários postos para executar as ordens que lhes serão dadas; e o representante de nosso Soberano gracioso, a quem tão altamente honramos e reverenciamos. Outrossim, a ocasião desta assembléia muito acrescenta à solenidade: ouvir e determinar as causas de todo tipo, algumas das quais são da mais importante natureza, cuja causa depende não menos que a vida ou a morte — morte que revela a face da eternidade! Sem dúvida que foi para au­mentar o sentimento sério destas coisas, e não apenas na mente do povo. que a sabedoria de nossos antepassados não desdenhou desig­nar até as diminutas circunstâncias desta solenidade. Para esses tam­bém, pelos olhos ou pelos ouvidos, pode afetar o coração mais pro­fundamente; e quando visto sob esta luz, trombetas, estrofes, vestuá­rio já não são mais fúteis ou significantes, mas servis, em tipo e grau, para os mais valiosos fins da sociedade.
Mas, tão terrível quanto é esta solenidade, outra mais terrível esta à mão. Pois ainda por um pouco de tempo e todos havemos de comparecer ante o tribunal de Cristo. Porque está escrito: Pela minha vida, diz o Senhor, todo joelho se dobrará diante de mim, e toda língua confessará a Deus. De maneira que cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus" (Rm 14.10-12).
Tivessem todos os homens um profundo senso dessa realidade, quanto efetivamente garantiria os interesses da sociedade! Pois que motivo mais convincente haveria para a prática da moralidade genu­ína, para uma busca firme da virtude sólida e um andar uniforme na justiça, misericórdia e verdade? O que fortaleceria nossas mãos em tudo o que é bom e nos dissuadiria de tudo o que é mau, senão uma convicção forte disto: "Eis que o juiz está à porta" (Tg 5-9), e que breve estaremos diante dEle?
Pode não ser impróprio ou inadequado ao desígnio da presente assembléia considerarmos:

I. As principais circunstâncias que precederão nossa posição perante o Tribunal de Cristo.
II. O próprio julgamento; e
III. Algumas circunstâncias que o seguirão.

I. Consideremos, primeiramente, as principais circunstâncias que precederão nossa posição perante o Tribunal de Cristo.
1. "Deus mostrará sinais na terra", particularmente Ele se levanta­rá "para assombrar a terra" (Is 2.19). "'De todo vacilará a terra como o ébrio e será movida e removida como a choça de noite" (Is 24.20). "Haverá terremotos" (não somente em diversos, mas) "em todos os lugares"; não apenas em uma, nem em algumas, mas em todas as partes do mundo habitável, "como nunca tinha havido desde que há homens sobre a terra; tal foi este tão grande terremoto". Em um deles, "toda ilha fugiu, e os montes não se acharam" (Ap 16.18,20).
Entrementes, todas as águas do globo sentirão a violência desses choques; "o mar e as ondas rugindo" com tal agitação como nunca se soubera antes desde o momento em que "as fontes do grande abismo se romperam" para destruir a terra, que então "subsistia na água e pela água". O ar será todo tempestade e tormenta, cheio de vapores escuros e colunas de fumaça, ressoando com trovões de pólo a pólo e rasgado com dez mil raios. Mas a comoção não parará na região do ar; "as potências dos céus serão abaladas" (Mt 24.29). "E haverá sinais no sol, e na lua, e nas estrelas" (Lc 21.25), as coisas fixas como tam­bém as que se movem ao redor delas. "O sol se converterá em trevas, e a lua, em sangue, antes de chegar o grande e glorioso Dia do Se­nhor" (At 2.20). "As estrelas retirarão seu brilho" e "cairão do céu", sendo lançadas de suas órbitas. E então será ouvido o clamor univer­sal de todas as companhias celestiais, seguido pela "voz do arcanjo", proclamando a vinda do Filho de Deus e do Homem, "e a trombeta de Deus" soando um alarme a todos os que dormem no pó da terra. Por esta causa, todos os sepulcros se abrirão e os corpos das pessoas ressuscitarão. O mar também entregará os mortos que nele houver e todos ressuscitarão com "o seu próprio corpo', o seu próprio em substância, embora tão mudados em suas propriedades que não po­demos conceber agora. "Porque convém que isto que é corruptível se revista da incorruptibilidade e que isto que é mortal se revista da imortalidade" (1 Co 15.53). "A morte e o Hades", o mundo invisível, "entregarão os mortos que neles houver", de forma que todos os que já viveram e morreram desde que Deus criou o homem serão ressus­citados incorruptíveis e imortais.
2. Ao mesmo tempo, o Filho do Homem "enviará os seus anjos" sobre toda a terra, "os quais ajuntarão os seus escolhidos desde os quatro ventos, de uma à outra extremidade dos céus" (Mt 24.31). E o próprio Senhor virá com nuvens na sua glória e na glória de seu Pai, com dez mil dos seus santos, miríades de anjos, e se assentará no trono da sua glória. "E todas as nações serão reunidas diante dele, e apartará uns dos outros, como o pastor aparta dos bodes as ovelhas. E porá as ovelhas [os bons] à sua direita, mas os bodes [os maus] à esquerda" (Mt 25.32.33). Concernente a esta assembléia geral, o discí­pulo amado fala: "E vi os mortos [todos os que morreram], grandes e pequenos, que estavam diante do trono, e abriram-se os livros [ex­pressão figurativa, referindo-se ao modo de proceder entre os ho­mens]. E abriu-se outro livro, que é o da vida. E os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras" (Ap 20.12).

II. Estas são as principais circunstâncias que estão registradas nos oráculos de Deus, que precederão o julgamento geral. Em segundo lugar, consideraremos o próprio julgamento, tanto quanto agradou a Deus revelá-lo.
1. A pessoa por quem Deus julgará o mundo é o seu Filho unigênito, cujas "saídas são desde a eternidade"; "que é Deus sobre todos, bendito para sempre". A Ele, sendo o brilho resplandecente da glória do Pai, "a imagem expressa da sua pessoa", o Pai "entregou todo o julgamento, porque ele é o Filho do Homem"; porque, embora sendo Ele "em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus. Mas aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fa­zendo-se semelhante aos homens"; porque, "achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte e morte de cruz. Pelo que também Deus o exaltou soberanamente" (Fp 2.6-9), até em sua natureza humana, e "ordenou-o", como homem, a levar em juízo os filhos dos homens, a ser o Juiz dos vivos e dos mortos, tanto os que forem achados vivos na sua vinda, quanto os que já terão sido reunidos a seus pais.
2. O tempo, denominado pelo profeta como "o grande e terrível Dia", é intitulado nas Escrituras como "o Dia do Senhor'. O espaço desde a criação do homem na terra até o fim de todas as coisas é "o Dia dos filhos dos homens"; o tempo que agora está passando é apropriadamente "os nossos dias". Quando este terminar virá o Dia do Senhor. Mas quem pode dizer por quanto tempo continuará? "Mas, amados, não ignoreis uma coisa: que um dia para o Senhor é como mil anos, e mi! anos, como um dia" (2 Pe 3-8). E desta mesma expres­são alguns pais da antigüidade chegaram à conclusão de que o que é chamado o Dia do Julgamento seria mil anos; e parece que eles não foram além da verdade; muito provavelmente não atingiram o ponto. Pois, se considerarmos o número de pessoas que deverão ser julgadas, e as ações que deverão ser investigadas, não parece que mil anos bastarão para tudo o que está reservado àquele dia; portanto, não é improvável que inclua vários milhares de anos. Mas Deus também revelará isto a seu tempo.
3. Com respeito ao lugar onde o gênero humano será julgado, não temos relato explícito na Escritura. O eminente escritor (que não está só; muitos são da mesma opinião) supõe que será na terra onde as obras foram feitas, de acordo com as quais as pessoas serão julgadas; e que Deus empregará, para essa ordem, os anjos do seu exército:

Para alisar e alongar o espaço ilimitado,
E espraiar uma área para o gênero humano.

Mas talvez esteja mais de acordo à contagem de nosso Senhor, quanto à sua vinda nas nuvens, supor que será na terra, se não "duas vezes a altura planetária". E esta suposição não é pouco favorecida pelo que o apóstolo Paulo escreve aos tessalonicenses: "Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus, e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor" (1 Ts 4.16,17).
Assim parece muito provável que o grande trono branco será exal­tado sobre a terra.
4. Quem pode contar as pessoas a serem julgadas, mais do que se pode contar as gotas da chuva ou a areia do mar? "Olhei", disse o apóstolo João, "e eis aqui uma multidão, a qual ninguém podia con­tar, [...] trajando vestes brancas e com palmas nas suas mãos" (Ap 7.9). Quão imensa deve ser a multidão total de todas as nações, famílias, povos e línguas; todos que saíram dos lombos de Adão desde que o mundo começou até o tempo que não será mais! Se admitirmos a suposição comum, que não parece de modo algum absurda, de que a terra suportaria ao mesmo tempo não menos que quatrocentas mi­lhões de almas viventes — homens, mulheres e crianças —, que con­gregação todas estas gerações farão, pois que se sucederam umas às outras durante sete mil anos!

O mundo em exércitos do grande Xerxes,
o orgulhoso exército de Canas,
Todos eles estão aqui; e aqui estão todos os perdidos,
Seu número se avulta para ser discernido em vão,
Perdido como uma gota no alto-mar desmedido.

Todo homem, toda mulher, toda criança de dias que já respiraram o ar vital ouvirão a voz do Filho de Deus, sairão à vida e aparecerão diante dEle. E este é o significado natural desta expressão: "os mor­tos, pequenos e grandes". Todos universalmente, todos sem exceção, todos de toda idade, sexo ou posição social, todos que já viveram e morreram ou sofreram a mudança que será o equivalente da morte. Por muito tempo antes daquele dia, o fantasma da grandeza some e reduz-se a nada, mesmo no momento da morte que desaparece. Quem é rico ou grande no sepulcro?
5. E todo homem ali 'dará conta de si mesmo a Deus" (Rm 14.12). Sim, uma total e verdadeira conta de tudo o que fez quando estava no corpo, quer bem quer mal.
Nem só todas as ações de todos os filhos dos homens serão leva­das à contemplação pública, mas todas as palavras; "toda palavra ociosa que os homens disserem hão de dar conta no Dia do Juízo", de modo que "por tuas palavras", como também por tuas obras, "serás justificado e por tuas palavras serás condenado" (Mt 12.36,37). Então
Deus não trará à luz cada circunstância que acompanhou cada pala­vra ou ação, e se não alterou a natureza, pelo menos diminuiu ou aumentou a bondade ou maldade delas? E o quanto isto lhe é fácil, pois está perto de nossa cama e em volta de nosso caminho, e espia tudo o que fazemos! Sabemos que a escuridão não é escura para Ele, "mas a noite resplandece como o dia" (Si 139.12).
6. Ele trará à luz as obras ocultas das trevas e até os pensamentos e intentos do coração. E não é de admirar, pois Ele "esquadrinha todos os corações e entende todas as imaginações dos pensamentos1'. Todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar" (Hb 4.13). "O inferno e a perdição estão perante o Senhor; quanto mais o coração dos filhos dos homens!" (Pv 15.11).
7. Naquele dia será revelada cada obra interior de toda alma hu­mana; cada apetite, paixão, inclinação, afeto, com suas várias combi­nações, com cada temperamento e disposição que constituem o cará­ter complexo de cada indivíduo. Assim estará claro e infalivelmente visto quem era justo e quem era injusto, e em que grau cada ação, pessoa ou caráter era ou boa ou má.
8. "Então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, bendi­tos de meu Pai, [...] porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me-, estava nu, e vestistes-me" (Mt 25.34-36). Da mesma forma, todo o bem que eles fizeram na terra será recitado diante dos homens e dos anjos; tudo o que eles tinham feito em palavra ou ação, no nome ou no interesse do Senhor Jesus. Todos os desejos, intenções e pensamen­tos bons e todas as disposições santas também serão lembrados. Pa­recerá que embora fossem desconhecidos ou estivessem esquecidos entre os homens, Deus os anotou em seu livro. Outrossim, todos os sofrimentos pelo nome de Jesus e pelo testemunho de uma boa cons­ciência serão mostrados para louvor do Juiz justo, honra diante dos santos e anjos, e aumento do "peso eterno de glória mui excelente" (2 Co 4.17).
9. Porém, as más ações (considerando que, se tomarmos a vida inteira, não há homem na terra que viva e não peque) também serão lembradas naquele dia e mencionadas na grande congregação? Mui­tos acreditam que sim e perguntam: "Isto não implicaria que os sofri­mentos não estavam completos, mesmo quando a vida terminou, visto que eles ainda teriam tristeza, vergonha e confusão de face para suportar?" E perguntam ainda mais: "Como pode ser isso reconciliado com a declaração de Deus feita pelo profeta: Se o ímpio se converter de todos os seus pecados que cometeu, e guardar todos os meus estatutos, e fizer juízo e justiça. [...] De todas as suas transgressões que cometeu não haverá lembrança contra ele' (Ez 18.21,22)? Como isso é consistente com a promessa que Deus fez a todos os que aceitam o concerto do Evangelho: 'Perdoarei a sua maldade e nunca mais me lembrarei dos seus pecados' (Jr 31.34), ou como expressa o apóstolo: 'Serei misericordioso para com as suas iniqüidades e de seus pecados e de suas prevaricações não me lembrarei mais1 (Hb 8.12)?"
10. Podemos responder que é evidente e absolutamente necessá­rio para a plena glória de Deus, para a manifestação clara e perfeita da sua sabedoria, justiça, poder e misericórdia para com os herdeiros da salvação, que todas as circunstâncias desta vida sejam colocadas em exibição pública, junto com todos os temperamentos, desejos, pensamentos e intentos do coração; caso contrário, como se tornaria visível a profundidade de pecado e miséria da qual a graça de Deus os tinha livrado? E. com efeito, se a vida de todos os filhos dos ho­mens não fosse revelada publicamente, a surpreendente contextura da providência divina não seria notória, nem em mil instâncias pode­ríamos "justificar os caminhos de Deus para com os homens", a me­nos que as palavras de nosso Senhor fossem cumpridas no seu senti­do extremo, sem restrição ou limitação: "Portanto, não os temais, porque nada há encoberto que não haja de revelar-se, nem oculto que não haja de saber-se" (Mt 10.26). A abundância das dispensações de Deus sob o sol ainda pareceria sem razão. E então só quando Deus trouxer à luz todas as coisas escondidas da escuridão, quem quer que sejam os atores, serão vistos quão sábios e bons são todos os seus caminhos, que Ele viu através da nuvem espessa e governou todas as coisas pelos sábios conselhos da sua própria vontade, que nada foi deixado à sorte ou capricho dos homens, mas firme e terna-Wente disposto por Deus, e por Ele forjado numa cadeia relacionada de justiça, misericórdia e verdade.
11. Na revelação das perfeições divinas, os justos se regozijarão com alegria indizível, longe de sentirem tristeza ou vergonha doloridas Por qualquer uma das transgressões passadas que há muito foram obliteradas como nuvem e lavadas pelo sangue do Cordeiro. Será abun­dantemente suficiente para eles que todas as transgressões que come­teram não sejam nunca mencionadas para seu prejuízo; que os peca­dos, transgressões e iniqüidades não sejam mais lembrados para sua condenação. Este é o significado claro da promessa, e isto todos os filhos de Deus considerarão verdadeiro, para o seu consolo perpétuo.
12. Depois que os justos forem julgados, o Rei se voltará para os que estiverem à sua mão esquerda, e eles também serão julgados, cada um de acordo com suas obras. Não só as obras exteriores serão levadas em conta, como todas as palavras más que eles alguma vez falaram, sim, todos os desejos, afetos, temperamentos maus que têm ou tiveram lugar na alma, e todos os pensamentos ou desígnios maus que foram apreciados no coração. A alegre sentença de absolvição será pronunciada para os que estiverem à mão direita, a terrível sen­tença de condenação para os que estiverem à esquerda, ambas as quais têm de permanecer fixas e imutáveis como o trono de Deus.

III. Em terceiro lugar, consideremos algumas das circunstâncias que seguirão o julgamento geral.
1. A primeira circunstância é a execução da sentença pronunciada sobre os maus e os bons. "E irão estes para o tormento eterno, mas os justos, para a vida eterna" (Mt 25.46). Observe que é usada a mesma palavra, tanto na cláusula primeira quanto na cláusula última: conclu­ímos que ou a punição dura para sempre, ou a recompensa também virá a ter um fim. Não, nunca, a menos que Deus tivesse fim, ou sua misericórdia e verdade pudessem falhar. "Então, os justos resplande­cerão como o sol, no Reino de seu Pai" (Mt 1343) e beberão dos rios de delícias que estão eternamente à mão direita de Deus. Porém aqui todas as descrições ficam aquém do alvo, todas as linguagens huma­nas falham. Somente aquele que é levado ao terceiro céu pode ter uma concepção justa dessa cena. Mas mesmo tal pessoa não pode expressar o que viu; não é possível ao homem exprimir tais coisas.
Os ímpios, nesse entretempo, serão lançados no inferno, até to­dos os indivíduos que se esquecem de Deus. Eles "padecerão eterna perdição, ante a face do Senhor e a glória do seu poder" (2 Ts 19) Eles serão "lançados vivos no ardente lago de fogo e de enxofre" (Ap 19.20), originalmente preparado para o Diabo e os seus anjos, onde eles morderão a língua pela angústia e dor. Eles amaldiçoarão a Deus e olharão para cima. Ali os cães do inferno, orgulho, malícia, vingan­ça, ira, horror, desespero, continuamente os devoram. Ali "a fumaça do seu tormento sobe para todo o sempre; e não têm repouso, nem de dia nem de noite" (Ap 14.11). Pois "o seu bicho não morre, e o fogo nunca se apaga" (Mc 9.44).
2. Então os céus serão enrolados como um rolo de pergaminho e passarão com grande ruído; eles fugirão da face daquEle que se as­senta no trono, e não haverá lugar para eles. O mesmo modo de extinção dos céus nos é revelado pelo apóstolo Pedro: "O Dia de Deus, em que os céus, em fogo, se desfarão, e os elementos, arden­do, se fundirão" (2 Pe 3.12). Toda construção será subvertida por aquele elemento furioso, a ligação de todas as suas partes será destruída e todo átomo será rompido à parte dos outros. Pelo mesmo processo, "a terra c as obras que nela há se queimarão" (2 Pe 3-10). As grandi­osas obras da natureza, os montes perpétuos, as montanhas que de­safiaram a fúria do tempo e mantiveram-se impassíveis por tantos milhares de anos, desmoronarão em mina abrasadora. Quanto menos as obras de arte, embora de tipo mais durável, o esforço extremo da indústria humana, tumbas, pilares, arcos triunfais, castelos, pirâmides, poderão resistir ao conquistador flamejante! Tudo, tudo morrerá, pe­recerá, desaparecerá como um sonho do qual alguém desperta!
3. Alguns grandes e bons homens imaginaram que assim como se exige o mesmo Poder Todo-poderoso para aniquilar as coisas quanto para criar, falar dentro ou fora do nada, assim nenhuma parte de um átomo no universo será total ou finalmente destruída. Antes, eles su­põem que a última operação do fogo, que já observamos, é reduzir em vidro o que, por uma força menor, tinha sido reduzido a cinzas. Assim, no dia que Deus ordenou, toda a terra, se não os céus materi­ais também, sofrerão esta mudança, depois da qual o fogo não pode ter mais poder sobre os resíduos. Eles reputam que isto está insinua­do pela expressão na revelação feita ao apóstolo João: "E havia diante do trono um como mar de vidro, semelhante ao cristal" (Ap 4.6). Por ora, não podemos afirmar ou negar tal idéia, mas saberemos mais adiante.
4. Se é inquirido por zombadores, por filósofos insignificantes, tomo estas coisas podem ser? De onde viria tamanha quantidade de fogo que consumiria os céus e toda a terra? Primeiramente, nós os lembraríamos que esta dificuldade não é peculiar ao sistema cristão. A mesma opinião é quase universalmente mantida entre os pagãos tolerantes. Mas, em segundo lugar, é fácil responder, mesmo com nosso conhecimento pequeno e superficial das coisas naturais, que há depósitos abundantes de fogo prontamente preparados e armaze­nados para o Dia do Senhor. Quão rápido um cometa, comissionado por Ele, pode deslocar-se das regiões mais distantes do universo? E se ele se dirigisse à terra em seu retorno do sol, quando é algumas milhares de vezes mais quente que uma bala de canhão incandescente, quem não perceberia qual seria a conseqüência imediata? Mas para não irmos tão alto quanto aos céus etéreos, não poderiam os mesmos raios que dão brilho ao mundo, se ordenados pelo Senhor da nature­za, trazer ruína e destruição absolutas? Ou para não irmos mais longe que o próprio globo, quem sabe que enormes reservatórios de fogo líquido estão contidos, de século em século, nas entranhas da terra? Etna, Hecla, Vesúvio e todos os outros vulcões que arrojam chamas e brasas de fogo; que são eles senão as provas e bocas dessas fornalhas ardentes, e ao mesmo tempo as provas de que Deus tem em pronti­dão meios para cumprir sua palavra? Se observássemos não mais que a superfície da terra e as coisas que nos cercam por todos os lados, é muito certo (como milhares de experiências provam, além da possibi­lidade de negação) que nós, nós mesmos, nosso corpo inteiro, estamos cheios de fogo, como também tudo o que nos rodeia. Não é fácil tornar este fogo etéreo visível ao olho nu e produzir desse modo os mesmos efeitos na matéria combustível, que é produzida pelo fogo culinário? Deus não precisa mais que soltar essa cadeia secreta por meio da qual este agente irresistível está agora preso e acha-se aquiescente em cada partícula da matéria? E quão rápido a estrutura universal se partiria em pedaços e envolveria tudo em uma ruína comum!
5. Há mais uma circunstância que se seguirá ao julgamento, a qual merece nossa séria consideração: "Segundo a sua promessa", diz o apóstolo Pedro, "aguardamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça" (2 Pe 3.13). A promessa está na profecia de Isaías: "Porque eis que eu crio céus novos e nova terra; e não haverá lem­brança das coisas passadas, nem mais se recordarão" (Is 65.17). tão grande será a glória das últimas coisas. Estas o apóstolo João viu nas visões de Deus: "E vi", disse ele, "um novo céu e uma nova terra, porque já o primeiro céu e a primeira terra passaram. [...] E ouvi uma grande voz do [terceiro] céu, que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles e será o seu Deus" (Ap 21.1,3)-Então, todos eles inevitavelmente estarão alegres: "E Deus limpará de seus olhos toda lágrima, e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor, porque já as primeiras coisas são passadas" (Ap 21.4). "E ali nunca mais haverá maldição contra alguém; e nela estará o trono de Deus e do Cordeiro" (Ap 22.3); eles terão o mais próximo acesso e. dali. à sua semelhança mais sublime. Esta é a expressão mais forte na linguagem da Escritura para denotar a felicidade mais perfeita. "E verão o seu rosto, e na sua testa estará o seu nome" (Ap 22.4); eles serão abertamente reconhecidos como propriedade de Deus e sua natureza gloriosa brilhará visivelmente neles. "E ali não haverá mais noite, e não necessitarão de lâmpada nem de luz do sol, porque o Senhor Deus os alumia, e reinarão para todo o sempre" (Ap 22.5). Sofro ao acrescentar algumas palavras a todos os que estão neste momento diante do Senhor. Ao longo do dia vocês não manteriam em mente que um dia mais terrível está vindo? Que grande assem­bléia é esta! Mas o que é para aquEle que todo o olho o verá, esta assembléia geral de todos os filhos dos homens que já viveram na face da terra! Alguns estarão diante do tribunal nesse dia para serem julgados quanto às acusações; e agora estão reservados na prisão, talvez em cadeias, até que sejam levados a julgamento e condenados. Porém, cada um de nós — eu que falo c vocês que ouvem — "dará conta de si mesmo a Deus" (Rm 14.10). E agora estamos reservados nesta terra, que não é nossa casa, nesta prisão de carne e sangue; talvez muitos de nós em cadeias das trevas também, até que receba­mos a ordem de sermos transportados. Aqui alguém está questionan­do a respeito de um ou dois atos que lhe é suposto ter cometido. Ali temos de dar conta de todas as nossas obras desde o berço até o sepulcro; de todas as palavras; de todos os desejos e temperamentos; de todos os pensamentos e intenções do coração; de todos os usos que fizemos de nossos vários talentos, quer da mente, corpo ou fortu­na, até que Deus diga: "Presta contas da tua mordomia, porque já não poderás ser mais meu mordomo" (Lc 16.2). Em nossa contabilidade é possível que alguns que são culpados escapem por falta de provas; mas não há falta de provas nesse tribunal. Todas as pessoas com as quais você teve 0 mais secreto intercurso, que eram conhecedoras de todos os seus desígnios e ações, estão prontas diante de sua face. Assim estão todos os espíritos das trevas que inspiraram desígnios maus e ajudaram em sua execução. Assim estão todos os anjos de Deus, os olhos do Senhor que percorrem toda a terra de um lado ao outro, que cuidavam da sua alma e trabalhavam para o seu bem, tanto quanto você permitia. Assim é a sua própria consciência, mil testemunhas em uma, agora não mais capaz de ser abafada ou silen­ciada, mas constrangida a saber e falar a verdade nua, referindo-se a todos os pensamentos, palavras e ações. E a consciência não é como mil testemunhas? Sim, mas Deus é como mil testemunhas. Quem pode estar perante a face do grande Deus, mesmo nosso Salvador Jesus Cristo?
Vejam! Vejam! Ele fez das nuvens sua carruagem! Ele cavalga nas asas do vento! Um fogo voraz vai diante dEle, e após Ele uma chama que queima! Vejam! Ele se assenta no trono, vestido com luz como de uma veste, adornado com majestade e honra! Vejam, os seus olhos são como chama de fogo; sua voz como o som de muitas águas! Como vocês escaparão? Vocês chamarão as montanhas para que cai­am sobre vocês, e as pedras para os cobrirem? Ai, as próprias monta­nhas, as pedras, a terra, os céus, estão prontos a fugir! Vocês podem evitar a sentença? Com quê? Com toda a fazenda de sua casa, com milhares em ouro e prata? Cegos miseráveis! Vocês chegaram nus do ventre de sua mãe e mais nus à eternidade. Ouçam o Senhor, o Juiz! "Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o Reino que vos está preparado desde a fundação do mundo" (Mt 25.34). Som jubiloso! Quanto é extensamente diferente daquela voz que ecoa pela expan­são do céu: 'Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, prepa­rado para o diabo e seus anjos" (Mt 25.41)! E quem pode evitar ou retardar a plena execução de qualquer uma das sentenças? Vã espe­rança! O inferno é removido de baixo para receber os que estão prontos para a destruição. E as portas eternas descerram-se para que os herdeiros da glória entrem!
"Que pessoas vos convém ser em santo trato e piedade?" (2 Pe 3.11) Sabemos que não pode ser muito tempo antes que o Senhor desça com a voz do arcanjo e a trombeta de Deus, quando cada um de nós comparecerá diante dEle e prestará contas das suas obras. "Pelo que, amados, aguardando estas coisas", vendo que vós sabeis que Ele virá e não tardará, "procurai que dele sejais achados imaculados e irrepreensíveis em paz" (2 Pe 3.14). Por que não deveríamos? Por que um de vós seria achado à mão esquerda quando Ele vier? Ele não deseja que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao arrependi­mento; pelo arrependimento, à fé num Senhor sangrento; pela fé, ao amor imaculado; à plena imagem de Deus renovada no coração e produzindo toda a santidade de convivência. Você pode duvidar, quan­do se lembra que o Juiz de todos é igualmente o Salvador de todos? Ele não o comprou com o seu próprio sangue para que você não perecesse, mas tivesse a vida eterna?
Faca prova de sua misericórdia, em vez da sua justiça; do seu amor, em vez do trovão do seu poder! Ele não está longe de cada um de nós; e hoje Ele vem, não para condenar, mas para salvar o mundo. Ele está entre nós! Pecador, Ele não bate agora mesmo à porta do seu coração? Que você saiba, pelo menos neste dia, as coisas que perten­cem à sua paz. Que agora você se entregue a Ele, que se deu por você. em fé humilde, em amor santo, ativo e paciente! Assim você se regozijará com suprema alegria pelo Dia de Cristo, quando Ele vier nas nuvens do céu!

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Martinho Lutero:
Estêvã
o

Martinho Lutero nasceu em 10 de novembro de 1483, em Eisleben, Alemanha, e morreu na mesma cidade em 18 de fevereiro de 1546. Depois de receber o ensino fundamental em Eisenach e o ensino superior em Erfurt, onde colou grau de bacharel, Lutero foi como professor para a nova Universidade de Wittenberg. No Dia de Todos os Santos, em 1517, ele pregou nas portas da catedral de Wittenberg as suas "Noventa e Cinco Teses" e, assim, inaugurou o grandioso protesto da Reforma. Antes da Dieta de Worms, ele assumiu em 16 de outubro de 1521 firme posição em favor do grande princípio protes­tante: a supremacia das Escrituras. Lutero era preeminentemente um gênio, e todo o seu trabalho — ensinamento, pregação, debate, panfletagem, tradução e autoria de hinos —, é prova disso. Se na igreja protestante o púlpito é o trono do pregador e pastor, Lutero muito contribuiu para que assim o seja. Ele era pregador infatigável e popular, um Boanerges no pleno sentido da palavra. Grande parte do poder dos grandes locutores e pregadores é devido à ocasião incomum. Lutero pregou em tempos de tremenda agitação, e suas denúncias violentas e convicção ardente refletem o espírito da épo­ca. Para os leitores de hoje. seus sermões são um tanto quanto desfi­gurados por sua invectiva e denúncia. Mas no meio desta filípica violenta, descobrem-se passagens primorosas de ensino cristão. Seu plano homilético foi resumido por ele em três regras: "Levante-se com renomado vigor, abra bem a boca, aja depressa".
Em seu comovente sermão sobre Estêvão, Lutero faz uso efetivo da bela idéia, emprestada de Agostinho, de que a oração do mártir agonizante por aqueles que o apedrejavam foi o meio da conversão do apóstolo Paulo.


Estevão

O TEXTO epistolar não parece ser difícil; está claro. Apresenta em Estêvão um exemplo da fé de Cristo. Pouco comentário é necessário. Faremos um breve exame. O primeiro princípio que ensina é que não podemos as­segurar o favor de Deus erguendo igrejas e outras instituições. Estê­vão deixa este fato evidente com sua citação de Isaías.
Contudo, não devemos ser levados a concluir que é errado cons­truir e aparelhar igrejas. Mas é errado ir ao extremo de perder a fé e o amor na execução do empreendimento, presumindo com isso que fazer boas obras merece o favor de Deus. Resulta em abusos que impedem toda a moderação. Todo canto e recanto está cheio de igre­jas e conventos, independente do objetivo que temos em construir igrejas.
Não há outra razão para construirmos igrejas senão proporcionar­mos um lugar onde os cristãos se reúnam para orar, ouvir o Evange­lho e receber os sacramentos, se é que há uma razão. Quando as igrejas deixam de ser usadas para esse propósito, devem ser demoli­das, como o são os outros edifícios quando não servem para mais nada. Como é agora, o desejo de todo indivíduo no mundo é estabe­lecer a própria capela ou altar, até a própria missa, com vistas a garan­tir a salvação, de comprar o céu.
Não é deplorável e miserável erro e ilusão ensinar pessoas ino­centes a depender de suas obras para a grande depreciação de sua fé cristã? Melhor destruir todas as igrejas e catedrais do mundo, queimá-las até virarem cinzas — é menos pecaminoso mesmo quando feito por malícia —, do que permitir que uma alma seja enganada e se perca por tal erro. Deus não deu mandamento especial concernente ao edifício das igrejas, mas emitiu seus mandamentos cm referência à nossa alma — suas igrejas reais e peculiares. Paulo diz concernente a elas: "... sois o templo de Deus. [...1 Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá" (1 Co 316,17).
Eu continuo afirmando que no interesse de exterminar o erro mencionado, seria bom derrubar de vez todas as igrejas do mundo e utilizar habitações comuns ou lugares ao ar livre para pregar, orar e batizar, e para todas as exigências cristãs.
Há especialmente justificação para fazer isso, por causa da razão desprezível que os papistas dão para construir igrejas. Cristo pregou por mais de três anos, mas por apenas três dias no templo em Jerusa­lém. O restante do tempo, Ele falou nas escolas dos judeus, no deser­to, nas montanhas, em barcos, nas festas e, quando não, em habita­ções particulares. João Batista nunca entrou no templo; ele pregou pelas cercanias do rio Jordão e em todos os lugares. Os apóstolos pregaram nos mercados e ruas de Jerusalém no dia de Pentecostes. Filipe pregou ao eunuco numa carruagem. Paulo pregou ao povo à beira de um rio, na cadeia em Filipos e em várias casas particulares. De fato, Cristo ordenou que os apóstolos pregassem em casas parti­culares. Tenho para mim que os pregadores mencionados eram igual­mente bons como os de hoje.
Agora vocês percebem por que os raios caem com mais freqüên­cia nas suntuosas igrejas papistas do que em outros edifícios. Aparen­temente, a ira de Deus repousa sobretudo nelas, porque ali são come­tidos mais pecados, são ditas mais blasfêmias e é feita mais destruição de almas e de igrejas do que em bordéis e antros de ladrões. O guar­da de um bordel público é menos pecador que o pregador que não entrega o verdadeiro Evangelho, e o bordel não é tão ruim assim como a igreja do falso pregador. Mesmo se o proprietário do bordel prostituísse diariamente virgens, esposas religiosas e freiras — por mais terrível e abominável que sejam tais coisas —, ele não seria pior nem causaria mais dano que esses pregadores papistas.
Isto os surpreende? Lembrem-se de que a doutrina do falso pregador não causa nada mais que dia-a-dia desviar e violar almas recém-nascidas no batismo — cristãos jovens, almas tenras, noivas virgens, puras e con­sagradas a Cristo. Considerando que o mal é feito espiritualmente e não fisicamente, ninguém o observa; mas Deus está incomensuravelmente descontente. Em sua ira, Ele clama através dos profetas em termos incon­fundíveis: 'Tu, meretriz, que convidas todo transeunte!" Deus tolera tão pouco a pregação falsa, que Jeremias em sua oração faz esta reclamação: "Forçaram as mulheres em Sião; as virgens, nas cidades de Judá" (Lm 5.11). Agora, a virgindade espiritual, a fé cristã, é imensuravelmente superior à pureza tísica; pois ela sozinha pode ganhar o céu.
Então, amigos amados, sejamos sábios; a sabedoria é essencial. Verdadeiramente nos conscientizemos de que somos salvos pela fé em Cristo e somente por ela. Este fato foi suficientemente manifesto. Então. que ninguém confie em suas próprias obras. Engajemo-nos em nossa vida apenas em obras que tragam proveito ao próximo, sendo indiferentes à vontade e instituição, e encetamos nossos esforços para melhorar o pleno curso da vida do próximo.
Está escrito que uma mulher piedosa, Elizabete, ao entrar certa vez num convento c ver na parede uma excelente pintura retratando os sofrimentos de nosso Senhor, exclamou: "O custo desta pintura deveria ter sido reservado para o alimento do corpo; os sofrimentos de Cristo devem ser pintados no coração". Quão violentamente esta declaração religiosa é dirigida contra as coisas em geral consideradas preciosas! Falasse Elizabete hoje assim, com certeza os papistas a queimariam por blasfemar contra os sofrimentos de Cristo e por con­denar as boas obras. Ela seria denunciada como herege, embora seus méritos ultrapassassem os méritos de dez santos juntos.
Estêvão não só rejeita as concepções dos judeus com respeito a igrejas e sua construção, mas também denuncia todas as suas obras, dizendo que eles receberam a Lei pela disposição de anjos e não a guardaram. Então, os judeus, em troca, reprovam Estêvão como se ele tivesse falado contra o templo e, além disso, blasfemado da Lei de Moisés e ensinado obras estranhas. Com efeito. Estêvão não poderia tê-los corretamente acusado de fracassarem em observar a Lei na medida em que obras exteriores são consideradas. Pois eles eram circuncidados e observavam as leis com respeito a alimentos, roupas, festas e todos os mandamentos de Moisés. Foi a consciência de terem observado a Lei que os levou a apedrejá-lo.
Mas as palavras de Estêvão foram instigadas pelo mesmo espírito que moveu Paulo, quando ele disse que pelas obras da Lei ninguém é justificado aos olhos de Deus. sendo somente a fé a justificadora. Onde o Espírito Santo não está presente para conceder graça, o cora­ção do homem não pode favorecer a lei de Deus; ele preferiria que a lei não existisse, lodo indivíduo está consciente de sua própria apatia e aversão ao que é bom, e de sua prontidão em fazer o mal. Como Moisés diz: "... a imaginação do coração do homem é má desde a sua meninice..." (Gn 8.21).
Quando Estêvão declara que os judeus sempre resistem ao Espíri­to Santo, ele implica que pelas obras eles tornam-se presunçosos, não ficam inclinados a aceitar a ajuda do Espírito e relutam que suas obras sejam rejeitadas como ineficazes. Sempre trabalhando para satisfazer as demandas da Lei, mas sem cumprir sua mínima exigência, eles permanecem hipócritas até o fim. Pouco dispostos a abraçar a fé por meio da qual realizariam boas obras, e a graça do Espírito que criaria um amor pela Lei, eles tornam impossível sua observância livre e espontânea. Mas o observador voluntário da Lei, e nenhum outro, Deus aceita.
Estêvão chama os judeus de "homens de dura cerviz e incircuncisos de coração e ouvido", porque recusam ouvir e entender. Eles clamam continuamente: "Boas obras, boas obras! Lei, Lei!", embora não efetu­ando a menor delas. Exatamente dessa forma agem os papistas. Como os antepassados, assim fazem os descendentes, a massa desta gera­ção; eles perseguem os justos e se gloriam de o fazerem por ampr a Deus e sua Lei. Agora temos a substância desta lição. Mas vamos examiná-la um pouco mais.
Em primeiro lugar, vemos na conduta de Estevão amor,a Deus e aos homens. Ele manifesta seu amor a Deus censurando os judeus séria e duramente, chamando-os de traidores, assassinos e transgressores de toda a Lei, sim. teimosos, e dizendo que resistem ao cumprimento da Lei e resistem também ao próprio Espírito Santo. Mais do que isso, ele os chama de incircuncisos de coração e ouvi­do". Como ele poderia tê-los censurado mais severamente? Tão com­pletamente ele os despoja de toda coisa respeitável, que parece ter sido movido por impaciência e ira.
Mas a quem o mundo hoje toleraria, se alguém tentasse fazer tal censura dos papistas? O amor de Estêvão a Deus o constrangeu a seu ato. Ninguém que possui o mesmo grau de amor pode ficar calado e calmamente permitir a rejeição dos mandamentos de Deus. Ele não pode disfarçar. Tal indivíduo tem de censurar e reprovar todo opositor de Deus. Ele não pode permitir tal conduta, mesmo arriscando a vida para reprová-la.
Temos de deduzir do exemplo de Estêvão que aquele que caladamente ignora a transgressão dos mandamentos de Deus ou qualquer pecado não tem amor a Ele. Então como é com os hipócritas que aplaudem a transgressão, os caluniadores e os que riem e avidamente ouvem e falam sobre as faltas dos outros?
Já tivemos ocasião de declarar que Estêvão era leigo, um cristão comum, não um sacerdote. Mas os papistas cantam seus elogios como levita, que no altar lia a Epístola ou a lição do Evangelho. Os papistas pervertem totalmente a verdade. É-nos necessário, então, saber o que Lucas diz. Ele conta como os cristãos no começo da Igreja em Jerusa­lém tornaram todas as suas possessões propriedade comum, e os apóstolos distribuíram a cada membro da congregação conforme a necessidade. Mas, como aconteceu, as viúvas dos judeus gregos não eram supridas como o eram as viúvas hebréias; por conseguinte, hou­ve reclamações. Os apóstolos, vendo como o dever de prover a sub­sistência destas coisas seria tão penoso quanto a, em certa medida, interferir com seus deveres de pregar e orar, reuniram a multidão dos discípulos e disseram: "Não é razoável que nós deixemos a palavra de Deus e sirvamos às mesas. Escolhei, pois, irmãos, dentre vós. sete varões de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais constituamos sobre este importante negócio. Mas nós perseveraremos na oração e no ministério da palavra" (At 6.2-4).
Assim Estêvão, juntamente com os outros seis, foi escolhido para distribuir os bens. Daí vem a palavra "diácono", servo ou ministro. Esses homens serviam a congregação, ministrando suas necessidades temporais.
Está claro que Estêvão era mordomo ou administrador e guardião dos bens temporais dos cristãos; seu dever era administrá-los aos que estavam em necessidade. No decurso do tempo, seu ofício foi perver­tido na função do sacerdote que lê a Epístola e as lições do Evange­lho. O único traço que restou do ofício de Estêvão é a leve semelhan­ça encontrada no dever dos prepósitos das freiras, e no dos adminis­tradores de hospitais e dos guardiões dos pobres. Os leitores da Epís­tola e seleções do Evangelho deveriam ser, não os consagrados, os tosquiados, os portadores das dalmáticas e polidores de carruagens no altar, mas os leigos comuns e religiosos que mantêm um registro dos necessitados e têm o encargo do capital comum para distribuição conforme requer a necessidade. Esse era o verdadeiro ofício de Estê­vão. Ele nunca sonhou em ler as epístolas e evangelhos, de solidéu e dalmática. Tudo isso são dispositivos humanos.
Quanto à possível questão sobre a permissão de um leigo pregar ou não: Embora Estêvão não fosse designado a pregar — os apósto­los, como declarado, reservaram esse ofício para si mesmos —, mas a executar os deveres de mordomo, não obstante, quando foi ao mer­cado e se misturou entre o povo, ele imediatamente criou alvoroço fazendo sinais e maravilhas, como diz a epístola, chegando até a cen­surar os governantes. Caso estivessem o papa e seus seguidores pre­sentes, eles certamente o teriam inquirido sobre suas credenciais — o passaporte da igreja e o caráter eclesiástico. E se ele estivesse sem solidéu e um livro de orações, indubitavelmente teria sido entregue às chamas como herege, visto que não era sacerdote nem clérigo. Estes títulos, que as Escrituras outorgam a todos os cristãos, os papistas apropriaram-se para si mesmos, denominando todos os outros de "o laicato" e a si mesmos de i4a igreja"; como se o laicato não fizesse parte da Igreja. Ao mesmo tempo, estas pessoas de refinamento e nobreza jactanciosos não cumprem em uma única ocasião o ofício ou trabalho de sacerdote, de clérigo ou da igreja. Eles estão senão a tapear o mundo com seus dispositivos humanos.
O precedente de Estêvão é válido. Seu exemplo dá a todos os homens a autoridade de pregar onde quer que encontrem ouvintes, quer seja num edifício ou no mercado. Ele não limita a pregação da Palavra de Deus a solidéus e batas longas. Ao mesmo tempo, ele não interfere com a pregação dos apóstolos. Ele atende os deveres do seu ofício e fica prontamente calado onde é o lugar dos apóstolos pregar.
Em segundo lugar, a conduta de Estêvão é um belo exemplo de amor ao semelhante por não usar de má vontade até mesmo para com seus assassinos. Não obstante, em seu zelo pela honra de Deus, ele os reprova severamente, tal é o sentimento humano que tem por eles. E mesmo na agonia da morte, tendo feito provisão para si entre­gando o espírito a Deus, ele não tem outro pensamento sobre si mesmo, mas manifesta sua preocupação para com eles. Sob a influên­cia desse amor, ele rende o espírito. Não impremeditadamente Lucas coloca a oração de Estevão por seus assassinos no fim da narrativa. Notem, também, que quando ora por si mesmo e entrega o espírito a Deus, ele está de pé, mas ao orar por seus assassinos ele se ajoelha. Além disso, ele clamou em alta voz quando orou por eles, o que não fez por si mesmo.
Quanto mais fervorosamente ele orou por seus inimigos do que por si mesmo! O quanto seu coração deve ter ardido, os olhos inun­dado e o corpo inteiro agitado e movido pela compaixão quando viu a miséria dos seus inimigos! É opinião de Agostinho que Paulo foi salvo por esta oração. E não é desarrazoado acreditar que Deus de fato a ouviu e que desde a eternidade Ele previu um grande resultado desta dispensação. A pessoa de Paulo é evidência da resposta de Deus à oração de Estêvão. Isso não pode ser negado, embora nem todos possam ter sido salvos.
Estêvão escolhe habilmente as palavras, dizendo: "Senhor, não lhes imputes este pecado" (At 7.60), ou seja, não faça que os pecados deles sejam irremovíveis, como um pilar ou fundação. Por estas pala­vras. Estêvão faz confissão, arrepende-se e compensa o pecado no interesse dos seus assassinos. Suas palavras implicam: "Senhor ama­do, é verdade que eles cometem pecado, que fazem um mal. Isso não pode ser negado". Exatamente como é costumeiro no arrependimen­to e confissão simplesmente lamentar e confessar a culpa. Estêvão então ora, oferecendo-se; esta abundante compensação pode segura­mente ser feita pelo pecado.
Observem quão grande inimigo e, ao mesmo tempo, quão grande amigo o verdadeiro amor pode ser; quão severas são suas censuras e quão doce é sua ajuda. É como uma noz com casca dura e semente doce. Amargo à nossa velha natureza adâmica, é sumamente doce ao novo homem em nós.
Esta lição epistolar, pelo exemplo dado, instila a poderosa doutri­na da fé e do amor; e mais, proporciona consolo e encorajamento. Não só ensina; encoraja e impele. A morte, o terror do mundo, estiliza um sono; Lucas diz: "[Ele] adormeceu", isto é, a morte de Estêvão foi serena e indolor; ele partiu como alguém que vai dormir, não saben­do como, e dorme inconscientemente.
A teoria de que a morte do cristão é um sono, uma passagem tranqüila, tem fundamentos seguros na declaração do Espírito. O Es­pírito não nos enganará. A graça e poder de Cristo tornam a morte tranqüila. Sua amargura é removida para longe pela morte de Cristo quando cremos nEle. Ele diz-. "Se alguém guardar a minha palavra, nunca verá a morte" (Jo 8.51). Por que ele não a verá? Porque a alma, abraçada à sua palavra viva e cheia dessa vida, não pode ter consciência da morte. A palavra vive e não conhece a morte; assim a alma que crê igualmente nessa palavra e vive nela não prova a morte. É por isso que as palavras de Jesus são chamadas de palavras de vida. Aquele que nelas confia, que nelas crê, tem de viver.
Consolo e encorajamento são ainda mais reforçados pela afirmação de Estêvão: "Eis que vejo os céus abertos c o Filho do Homem, que está em pé à mão direita de Deus" (At 7.56). Aqui vemos quão fiel e amorosamente Jesus cuida de nós e o quanto Ele está pronto a nos ajudar se nós tão-somente crermos nEle c alegremente arriscar­mos a vida por Ele. A visão não foi dada somente por causa de Estê­vão; não foi registrada para proveito próprio. Foi para nossa consola­ção, para tirar toda a dúvida de nosso privilégio, a fim de gozarmos os mesmos resultados felizes, desde que procedamos como Estêvão.
O fato de os céus estarem abertos proporciona-nos o maior con­solo e tira todo o terror da morte. O que não nos estará aberto e pronto para nós, quando até os céus, a suprema obra da criação, estão abertamente nos esperando e regozijando-se com nossa aproxi­mação? Pode ser seu desejo vê-los visivelmente abertos para você. Mas, se todos o vissem, onde estaria a fé? Que a visão fói dada aos homens é o bastante para consolo de todos os cristãos, para consolo e fortalecimento da fé c para a retirada de todos os terrores da morte. Pois, assim como cremos, assim experimentaremos, ainda que não vejamos fisicamente.
Não prestariam os anjos, sim. todas as criaturas, ajuda voluntária quando o próprio Senhor se levanta pronto a ajudar? Notavelmente. Estêvão não viu um anjo, nem o próprio Deus. mas o Homem Cristo. aquEle que mais causa deleite à humanidade e que proporciona ao homem o mais forte consolo. O homem, sobretudo quando em an­gústia, dá as boas-vindas à visão de outro homem em preferência à de anjos ou outras criaturas.
Nossos ardilosos mestres, que mediriam as obras de Deus pela razão ou os mares com uma colher, perguntam: “Como Estêvão pôde olhar nos céus, quando nossa visão não discerne um pássaro quando plana em altitudes um pouco altas? Como ele pôde ver Jesus distinta­mente o bastante para reconhecê-lo sem sombra de dúvida? Um ho­mem num campanário alto nos parece uma criança, e não podemos lhe reconhecer a pessoa". Eles tentam resolver a questão declarando que a visão de Estêvào deve ter sido sobrenaturalmente estimulada, permitindo-o ver claramente no espaço infinito. Mas suponha que Estêvão estivesse debaixo de um telhado ou dentro de uma abóbada? Mão nos devemos ater a esta tolice humana! Paulo, quando estava perto de Damasco, certamente ouviu a voz de Jesus proveniente do céu, e sua audição não foi estimulada para a ocasião. Os apóstolos no monte Tabor. João Batista, e novamente o povo — todos ouviram a voz do Pai. Não é mais difícil ouvir uma voz a grande distância do que ver um objeto no mesmo lugar? O alcance de nossa visão e imensuravelmente mais amplo do que o âmbito de nossa audição.
Quando Deus deseja revelar-se, o céu e tudo o mais estão próxi­mos. Não importa se Estêvão estava debaixo de um telhado ou ao ar livre; o céu estava perto dele. Não se fez necessária visão anormal. Deus está em todos os lugares; não há necessidade de Ele descer do céu. Uma visão muito próxima de Deus, que de fato está no céu, é facilmente possível sem o estímulo ou perversão dos sentidos.
Não importa se compreendemos ou não como essa visão se reali­zou. Não é necessário que as maravilhas de Deus sejam colocadas dentro de nossa compreensão; elas são manifestas para induzir em DÓS a convicção e a confiança. Expliquem-me, vocês de sabedoria jactanciosa, como a comparativamente grande maçã, ou pêra, ou ce­reja pode crescer pelo talo minúsculo; ou pelo mesmo expliquem coisas menos misteriosas. Mas deixem Deus trabalhar; creiam em suas maravilhas e não presumam colocá-lo dentro de sua compreensão.
Quem pode numerar as virtudes ilustradas no exemplo de Estê­vão? Ali manifesta-se o fruto do Espírito. Encontramos amor, fé, longanimidade, paz, gozo, mansidão, benignidade, temperança e bon­dade. Vemos também ódio e censura de todas as formas de mal. Notamos uma disposição em não estimar as vantagens mundanas, nem temer os terrores da morte. A liberdade, a tranqüilidade e todas as virtudes nobres e graças estão em evidência. Não há virtude que não seja ilustrada neste exemplo; não há vício que não seja reprova­do. Que o evangelista diga que Estêvão era cheio de fé e poder. O poder aqui implica atividade. Lucas diria: "Sua fé era grande; conse­qüentemente, suas muitas e poderosas obras". Pois quando a fé existe de fato, seus frutos têm de se seguir. Quanto maior a fé, mais abun­dantes os frutos.
A fé verdadeira é um princípio forte, ativo e eficaz. Nada lhe é impossível. Não descansa nem vacila. Estêvão, por causa da atividade superior de sua fé, realizou não meramente obras comuns, mas fez maravilhas e sinais publicamente — grandes maravilhas e sinais, como Lucas declara. Isto está escrito para sinal de que o indivíduo inativo carece de fé, e não tem direito de se gloriar disso. Não é sem propó­sito que a palavra t;fé" é colocada antes da palavra "poder". A inten­ção era mostrar que as obras são evidências de fé, e que sem fé, nada de bom podemos realizar. A fé deve ser primária em todo ato. Para esse fim, que Deus nos ajude. Amém.





João Calvino:
Suportando a Perseguiçã
o

João Calvino nasceu em Noyon, França, em 1509, e morreu em Genebra, cm 1564. Depois de Martinho Lutero, Calvino é a maior figura na história do protestantismo. Com vinte e sete anos, publicou suas céle­bres Institutos, profundo tratado teológico. Km 1536, Calvino visitou Genebra e foi persuadido por Fartei, o reformador suíço, a unir-se com os protestantes daquela cidade. Ali Calvino fez de Genebra a luz brilhan­te e radiante do mundo protestante. Genebra se tornou a casa de refugio para protestantes perseguidos de todas as panes da Europa, e Calvino, o pai e conselheiro espiritual das igrejas na França. Holanda e Grã-Bretanha. Foi sua a mente organizadora das igrejas protestantes; na educação, governo civil, teologia e organização eclesiástica. Sua influência foi sen­tida por todo o mundo. Um sistema de teologia, o calvinismo, leva seu nome e ainda domina grandes porções do mundo protestante.
Bancroft presta a Calvino este bem merecido tributo: "Assim ele prosseguiu ano após ano. solitário e fraco, labutando pela humanida­de, até que, depois de uma vida de glória, ele deu a seus herdeiros pessoais uma fortuna em livros e mobília, ações e dinheiro, não ex­cedendo a duzentos dólares, e ao mundo uma reforma mais pura, um espírito republicano na religião, com os análogos princípios da liberdade republicana".
A maioria dos sermões de Calvino foi pregado na Igreja de São Pedro, em Genebra. Associamos Calvino com os grandes e difíceis temas dos decretos soberanos de Deus e a predestinação. Mas no ser­mão que se segue, "Suportando a Perseguição", vemo-lo como o pas­tor e pregador. O sermão é compreensível por todos, contudo mostra o funcionamento fluente deste intelecto maravilhoso. A perseguição pela causa de Cristo não era então um tema abstrato, pois aqueles a quem Calvino pregou estavam diariamente em perigo de vida.





Suportando a Perseguição

“Saiamos, pois, a ele [Jesus] fora do arraial, levando o seu vitupério." (Hb 13-13)

TODAS as exortações que nos são dadas para padecer-, mos pacientemente pelo nome de Jesus Cristo e em defesa do Evangelho não terão efeito, se não nos sen­tirmos seguros da causa pela qual lutamos. Quando somos chamados a nos desfazer da vida, é absolutamente necessário saber em que base. Não podemos possuir a firmeza necessária, a menos que esteja fundamentada na certeza da fé.
É verdade que há pessoas que se expõem tolamente à morte, na defesa de algumas opiniões absurdas e devaneios concebidos pelo próprio cérebro, mas tal impetuosidade deve ser considerada mais como frenesi do que zelo cristão; e, de fato, não há firmeza nem bom senso naqueles que, em certo tipo de casualidade, se empolgam des­sa maneira. Mas embora isso ocorra, é somente numa boa causa que Deus nos reconhece como seus mártires. A morte é comum a todos, e os filhos de Deus são condenados à ignomínia c torturas exatamente como os criminosos o são; mas Deus faz a distinção entre eles, já que Ele não pode negar sua verdade. De nossa parte, exige-se que tenha­mos provas firmes e infalíveis da doutrina que defendemos; e, por conseguinte, como eu disse, não podemos ser racionalmente impres­sionados pela exortação-que recebemos para sofrer perseguição pelo Evangelho, se nenhuma certeza verdadeira de fé foi impressa em nosso coração. Arriscar a vida numa incerteza não é natural, e ainda que o fizéssemos, seria só precipitação e não coragem cristã. Numa palavra, nada que fazemos será aprovado por Deus, se não estiver­mos completamente persuadidos de que é para Ele e sua causa que sofremos perseguição e o mundo é nosso inimigo.
Quando falo de tal persuasão, não quero dizer meramente que temos de saber distinguir entre a verdadeira religião e os abusos ou loucuras dos homens, mas também que devemos estar inteira­mente persuadidos da vida divina e da coroa, que nos é prometida nos céus, depois que tivermos lutado aqui na terra. Entendamos que estes requisitos são necessários e não podem ser separados um do outro.
For conseguinte, os pontos com os quais devemos começar são estes: Temos de saber bem qual é o nosso cristianismo, qual é a fé que temos de defender e seguir — qual é a regra que Deus nos deu; e, assim, temos de estar bem inteirados de tal instrução para que sejamos capazes de condenar com ousadia todas as falsidades, erros e superstições que Satanás introduziu para corromper a pura simplici­dade da doutrina de Deus.
Veremos agora o verdadeiro método de nos preparar para sofrer pelo Evangelho. Primeiramente, devemos estar nos beneficiando até aqui na escola de Deus quanto a estarmos decididos com relação à verdadeira religião e à doutrina que vamos defender. Temos de me­nosprezar todos os artifícios e imposturas de Satanás e todas as inven­ções humanas como coisas frívolas e carnais, já que corrompem a pureza cristã; nesse particular diferindo, como verdadeiros mártires de Cristo, das pessoas irracionais que sofrem por meras absurdidades. Em segundo lugar, assegurando-nos da boa causa, conseqüentemen­te, temos de ser inflamados para seguir a Deus aonde quer formos por Ele chamados. Sua Palavra tem de ter tal autoridade para conosco como ela merece, e, havendo-nos retirado deste mundo, temos de nos sentir arrebatados na busca da vida santificada.
Porém, é mais que estranho que, embora a luz de Deus esteja brilhando mais radiantemente que nunca, haja uma lamentável' falta de zelo. Em resumo, é impossível negar que é para nossa grande vergonha, para não dizer temível condenação, que conhecemos tão bem a verdade de Deus e temos tão pouca coragem em defendê-la.
Acima de tudo, quando olhamos para os mártires do passado, nos envergonhamos de nossa covardia! Em sua maioria não eram pessoas muito versadas nas Santas Escrituras para poderem disputar cm todos os assuntos. Eles sabiam que havia um Deus, a quem convinham adorar e servir; que haviam sido remidos pelo sangue de Jesus Cristo a fim de colocarem a confiança de salvação nEle e em sua graça; e que todas as invenções dos homens, sendo mera inutilidade e lixo. eles deviam condenar todas as idolatrias e superstições. Numa pala­vra, sua teologia era, em substância, esta: Há um Deus que criou todo o mundo e nos declarou sua vontade por Moisés e pelos profetas, e, finalmente, por Jesus Cristo e seus apóstolos; e temos um Redentor exclusivo, que nos comprou por seu sangue e por cuja graça espera­mos ser salvos. Todos os ídolos do mundo são amaldiçoados e mere­cem abominação.
Com um sistema abarcando nenhum outro ponto que não esses, eles foram corajosamente às chamas ou a qualquer outro tipo de morte. Não entravam de dois em dois ou de três em três, mas em tamanhos grupos, cujo número dos que caíram pelas mãos dos tira­nos é quase infinito.
O que então deve ser feito para inspirar nosso peito com a verda­deira coragem? Temos, em primeiro lugar, de considerar quão precio­sa é a confissão de nossa fé aos olhos de Deus. Pouco sabemos o quanto Deus preza isso, se nossa vida, que não é nada, é estimada mais altamente por nós. Quando isso se dá, manifestamos maravilho­so grau de estupidez. Não podemos salvar nossa vida às custas de nossa confissão sem reconhecermos que a mantemos em mais alta estima que a honra de Deus e a salvação de nossa alma.
Um pagão poderia dizer: "Foi coisa miserável salvar a vida dei­xando as únicas coisas que tornavam a vida desejável!" E, não obstante, tal indivíduo e outros como ele nunca souberam por que propósito os homens são colocados no mundo, e por que vivem aqui. Sabemos muito bem qual deve ser a principal meta de vida, isto é, glorificar a Deus, para que Ele seja nossa glória. Quando isso não é feito, ai de nós! Não podemos continuar vivendo por um único momento na terra sem amontoarmos outras maldições sobre nossas cabeças. Con­tudo, não estamos envergonhados de obter alguns dias para nos enlanguescer aqui embaixo, renunciando o Reino eterno ao nos se­pararmos dEle, por cuja energia somos sustentados em vida.
Mas como a perseguição sempre é severa e amarga, considere­mos: Como e por quais meios os cristãos podem se fortalecer com paciência, para resolutamente exporem a vida pela verdade de Deus. O texto que lemos em voz alta, quando corretamente compreendido, é suficiente para nos induzir a agirmos assim. O apóstolo diz: ''Saia­mos da cidade para o Senhor Jesus, levando seu vitupério". Em pri­meiro lugar, Ele nos lembra que, embora as espadas não sejam desembainhadas contra nós, nem o fogo aceso para nos queimar, não podemos ser verdadeiramente unidos ao Filho de Deus, enquanto estamos arraigados neste mundo. Portanto, um cristão, mesmo em repouso, sempre tem de ter um pé pronto a marchar para a batalha, e não só isso, mas tem de ter seus afetos retirados do mundo, ainda que o corpo esteja habitando aqui.
Enquanto isso, para consolar nossas enfermidades e mitigar a vexação e tristeza que a perseguição nos causa, é-nos oferecida uma boa recompensa. Sofrendo pela causa de Deus, estamos caminhando passo a passo após o Filho de Deus e o temos por nosso Guia. Fosse dito simplesmente que para sermos cristãos tivéssemos de corajosa­mente passar por todos os insultos do mundo, encontrar a morte em todo momento e da maneira que Deus se agradasse designar, tería­mos aparentemente algum pretexto para replicar. É um caminho des­conhecido para irmos na dúvida. Mas quando somos ordenados a seguir o Senhor Jesus, sua direção é muito boa e honrada para ser recusada.
Somos tão melindrosos quanto à disposição de suportar qualquer coisa? Então temos de renunciar a graça de Deus pela qual Ele nos chamou à esperança de salvação. Há duas coisas que não podem ser separadas — ser membro de Cristo e ser provado por muitas aflições.
Quem dera fosse realmente fácil, mesmo para Deus, nos coroar imediatamente sem exigir que sustentássemos qualquer combate. Mas assim como é seu prazer que Cristo reine em meio aos seus inimigos, assim também é sua vontade que nós, sendo colocados no meio de­les, soframos a opressão e violência que nos infligem até que "Ele nos liberte. Sei, de fato, que a carne esperneia quando deve ser levada a este ponto, mas não obstante a vontade de Deus tem de sobrepor-se.
Em tempos passados, muitas pessoas, para obter simples coroas de folhas, não recusavam o trabalho duro, a dor e a dificuldade. Até mesmo a morte não lhes era grande preço, e, ainda assim, cada um deles disputava uma corrida, não sabendo se iria ganhar ou perder o prêmio. Deus nos oferece a coroa imortal pela qual nos tornarmos participantes da sua glória. Ele não quer dizer que devemos lutar a esmo, mas todos temos a promessa do prêmio pelo qual nos empe­nhamos. Temos algum motivo para nos recusarmos a lutar? Achamos que foi dito em vão: "Se morremos com Jesus, também com ele vive­remos"? Nosso triunfo está preparado, e contudo fazemos tudo o que podemos para evitar o combate.
para não deixar meios sem serem empregados que sejam adequa­dos para nos estimular, Deus coloca diante de nós Promessas, de um lado, e Ameaças, do outro. Sentindo que as promessas não têm influ­ência suficiente, fortaleçamo-nos acrescentando as ameaças. É verda­de que devemos ser obstinados no extremo de não pôr mais fé nas promessas de Deus, quando o Senhor Jesus diz que Ele nos confessa­rá como seus diante de seu Pai, contanto que o confessemos diante dos homens.
Mas se Deus não pode nos alcançar por meios gentis, não deve­mos ser meros obstáculos se suas ameaças também falham? Jesus convoca todos aqueles que, por medo da morte temporal, negam a verdade, a comparecerem no tribunal de seu Pai, e diz que então o corpo e a alma serão entregues à perdição. Em outra passagem, Ele afirma que negará todos o que o tiverem negado diante dos homens. Estas palavras, se não somos completamente impérvios para sentir, bem que podem fazer nossos cabelos se levantarem enfim!
É em vão alegarmos que piedade deve nos ser mostrada, já que nossas naturezas são tão delicadas; pois é dito, pelo contrário, que Moisés, tendo buscado a Deus pela fé, foi fortalecido para não se entregar sob tentação. Portanto, quando somos flexíveis e fáceis de dobrar, é sinal manifesto. Não estou dizendo que não temos zelo, nem firmeza, mas que não sabemos nada de Deus ou de seu Reino.
Há dois pontos a considerar. O primeiro é que todo o Corpo da Igreja em geral sempre esteve, e até ao fim estará, sujeito a ser afligido pelos ímpios. Vendo como a Igreja de Deus é pisoteada nos dias atuais pelos orgulhosos indivíduos mundanos, como um late e outro morde, como torturam, como conspiram contra ela. como ela é assaltada inces­santemente por cães raivosos e bestas selvagens, não nos esqueçamos de que a mesma coisa foi feita em todos os tempos passados.
Enquanto isso, o assunto de suas aflições sempre foi afortunado. Em todos os eventos, Deus fez com que, embora fosse oprimida por muitas calamidades, ela nunca tenha sido completamente esmagada; como está escrito: "Os ímpios com todos os seus esforços não tiveram sucesso no que intentaram". O apóstolo Paulo se gloria no fato e mostra que este é o curso que Deus, em misericórdia, sempre toma. Ele diz: "Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados; perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos; trazendo sempre por toda parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também em nossos corpos" (2 Co 4.8-10).
Só menciono brevemente neste sermão para ir ao segundo ponto, que está mais a nosso propósito, que devemos tirar vantagem dos exemplos particulares dos mártires que foram antes de nós. Não são limitados a dois ou três, mas são, como diz o apóstolo, "uma tão grande nuvem". Com esta expressão, ele intima que o número é tão grande que deve ocupar toda nossa visão. Para não ser tedioso, men­cionarei somente os judeus, que foram perseguidos pela verdadeira religião, não apenas sob a tirania do rei Antioco, mas também um pouco depois da sua morte. Não podemos alegar que o número dos sofredores foi pequeno, pois formava um grande exército de márti­res. Não podemos dizer que consistia em profetas a quem Deus tinha separado das pessoas comuns, pois mulheres e criancinhas faziam parte do grupo. Não podemos dizer que eles escaparam por pouca coisa, porque foram torturados tão cruelmente quanto possível. Por conseguinte, ouvimos o que o apóstolo diz: "Uns foram torturados, não aceitando o seu livramento, para alcançarem uma melhor ressur­reição; e outros experimentaram escárnios e açoites, e até cadeias e prisões. Foram apedrejados, serrados, tentados, mortos a fio de espa­da; andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabras, desamparados, aflitos e maltratados (homens dos quais o mundo não era digno), errantes pelos desertos, e montes, e pelas covas e cavernas da terra (Hb 11.35-38).
Comparemos agora o caso deles com o nosso. Se eles suportaram tais coisas pela verdade, que naquela época era tão obscura, o que devemos fazer com a luz que agora brilha? Deus nos fala claramente; a grande porta do Reino dos céus foi aberta, c Jesus Cristo nos chama para si mesmo, depois de ter descido até nós para que pudéssemos tê-lo presente diante dos olhos. Que repreensão nos seria suficiente para termos menos zelo para sofrer pelo Evangelho do que eles, que só tinham saudado as promessas de longe, que só tinham um peque­no postigo aberto para entrar no Reino de Deus e que só tinham um memorial e símbolo de Jesus Cristo? Estas coisas não podem ser ex­pressas em palavras como merecem, e, então, deixo cada um a pon­derar sobre elas consigo mesmo.
Em primeiro lugar, onde quer que esteja, o cristão tem de resol­ver, apesar dos perigos ou ameaças, andar em simplicidade como Deus ordenou. Que ele se guarde tanto quanto possa contra a voraci­dade dos lobos, mas que não seja com astúcia carnal. Acima de tudo, que ele coloque a vida nas mãos de Deus. Ele fez assim? Então, se acaso vier a cair nas mãos do inimigo, que ele saiba que Deus, tendo arranjado as coisas deste modo, se agrada de tê-lo como testemunha de seu Filho. Portanto, ele não tem meios de recuar sem quebrar a fé em Deus, a quem prometemos todo o dever na vida e na morte; Ele de quem somos e a quem pertencemos, ainda que não tenhamos feito nenhuma promessa.
Que seja mantido como ponto fixo entre todos os cristãos, que eles não devem considerar a vida mais preciosa do que o testemunho da verdade, já que Deus deseja ser glorificado assim. É em vão que Ele dá o nome de testemunhas (pois este é o significado da palavra mártir) a todos os que têm de responder perante os inimigos da fé? Aqui cada um não deve olhar para seu companheiro, pois Deus não honra a todos igualmente com a chamada. E como somos inclinados a olhar, devemos estar muito mais em guarda contra isso. Pedro, ten­do ouvido dos lábios de Jesus que na velhice seria levado para onde não quereria ir. perguntou o que aconteceria com seu companheiro João. Não há nenhum de nós que não teria prontamente feito a mes­ma pergunta, pois o pensamento que imediatamente nos vem é: Por que sofro em lugar dos outros? Pelo contrário. Jesus Cristo nos exorta — não só a todos em geral, mas a cada um em particular — a nos mantermos "'prontos", a fim de que conforme Ele for chamando este ou aquele, marchemos avante por nossa vez.
Expliquei acima quão pouco preparados estaremos para sofrer martírio, se não estivermos armados com as promessas divinas. Agora resta mostrar um pouco mais completamente quais são o propósito e o alvo destas promessas — não para especificar todos em detalhes, mas para mostrar o que Deus deseja que esperemos dEle a fim de que nos consolemos em nossas aflições. Considerando-se sumariamente, podemos citar três coisas. A primeira, é que já que nossa vida e morte estão em suas mãos, Ele nos preservará por seu poder, de modo que nem um fio de cabelo será arrancado de nossa cabeça sem a sua permissão. Portanto, os crentes devem se sentir seguros em quaisquer mãos que venham a cair, pois Deus não está despojado da tutela que Ele exerce sobre seu povo. Estivesse tal persuasão bem impressa em nosso coração, ficaríamos livres da maior parte das dúvidas e perple­xidades que nos atormentam e nos obstruem em nossos deveres.
Vemos tiranos livres; a esse respeito, parece-nos que Deus já não possui meio de nos salvar, e somos tentados a cuidar de nossos própri­os interesses, como se nada mais se esperasse dEle. Pelo contrário, sua providência, à medida que Ele a revela, deve ser considerada por nós como fortaleza inconquistável. Trabalhemos, então, para nos conscientizarmos da plena importância da expressão que nosso corpo está em suas mãos, que o criaram. Por isso. às vezes Ele libertou seu povo de maneira milagrosa e além de toda expectativa humana, como se deu a Sadraque, Mesaque e Abede-Nego na fornalha ardente; a Daniel, na cova dos leões; a Pedro, na prisão de Herodes, onde estava preso, acorrentado e rigorosamente guardado. Por estes exemplos, Ele quis testificar que Ele mantém nossos inimigos sob controle, embora possa não parecer, e que. quando quer, tem o poder de nos tirar dos grilhões da morte. Não que Ele sempre o faça, mas reservando a auto­ridade para si de dispor de nós para a vida e para a morte, Ele quer que nos sintamos completamente seguros de que Ele nos tem sob seu cui­dado. Qualquer tirano que nos tente e com qualquer fúria que se arroje contra nós. pertence a Ele somente ordenar nossa vida.
Se Ele permite que tiranos nos matem, não é porque nossa vida não lhe é querida, é em maior honra cem vezes mais do que merece. Sendo esse o caso, tendo declarado pela boca de Davi que a morte dos santos é preciosa aos seus olhos, Ele também diz pela boca de Isaías que a terra descobrirá o sangue que parece estar oculto. Que os inimigos do Evangelho, então, sejam tão pródigos quanto serão do sangue dos mártires, pois terão de prestar contas dele ate a última gota. Nos dias atuais, eles se viciam em derrisão orgulhosa, enquanto entregam os crentes às chamas; e depois de terem se banhado no sangue deles, ficam tão intoxicados desse sangue que consideram todos os assassinatos que cometem como mero esporte festivo. Mas se temos paciência para esperar, por fim Deus mostrará que não é em vão que Ele estimou nossa vida em tão alto valor. Nesse entretempo. não nos ofendamos por parecer confirmar o Evangelho, que em valor ultrapassa o céu e a terra.
Para ficarmos mais seguros de que Deus não nos abandona nas mãos dos tiranos, lembremo-nos da declaração de Jesus Cristo, quan­do disse que Ele mesmo é perseguido nos seus membros. Deus de fato tinha dito antes por Zacarias: "Aquele que tocar em vós toca na menina do seu olho" (Zc 2.8). Mas aqui é dito com muito mais expressividade que. se sofrermos pelo Evangelho, é tanto quanto se o Filho de Deus estivesse sofrendo pessoalmente. Que saibamos que Jesus Cristo tem de se esquecer de si mesmo antes de deixar de pen­sar em nós, quando estamos em prisão ou em perigo de morte por sua causa. Que saibamos que Deus tomará no coração todas as afron­tas que os tiranos cometem contra nós, da mesma maneira como se tivessem cometido contra o próprio Filho.
Vamos agora ao segundo ponto que Deus nos declara em sua promessa para nossa consolação. É que Ele nos sustentará assim pelo poder do seu Espírito para que nossos inimigos, façam o que fizerem, mesmo com Satanás à cabeça, não obtenham vantagem sobre nós. E vemos como Ele mostra seus dons em tal emergência; pois a constân­cia invencível que encontramos nos mártires mostra abundante e for­mosamente que Deus trabalha poderosamente neles. Na perseguição. há duas coisas revoltantes para a carne: a vituperação c insulto dos homens e as torturas que o corpo sofre. Deus promete nos oferecer sua mão tão efetivamente, que superaremos ambas pela paciência. O que Ele nos diz. Ele confirma por fato. Tomemos este escudo para nos precaver de todos os medos pelos quais somos assaltados, e não restrinjamos a operação do Espírito Santo dentro de tais limites estrei­tos, como a supor que Ele não sobrepujará facilmente todas as cruel­dades dos homens. Disto tivemos, entre outros exemplos, um que é particularmente memorável. Um jovem que certa vez viveu aqui conosco, tendo sido preso na cidade de Tournay, seria condenado à guilhotina, desde que se retratasse, e se continuasse firme em seu propósito, seria queimado vivo! Quando perguntado o que pretendia fazer, simplesmente respondeu: "Aquele que me dará graça para mor­rer pacientemente por seu nome, sem dúvida me dará graça para suportar o fogo!"
Devemos tomar esta expressão, não como a de um homem mor­tal, mas como do Espírito Santo, para nos assegurarmos que Deus não é menos poderoso para nos fortalecer e nos tornar vitoriosos sobre as torturas, do que nos fazer submeter de boa vontade a uma morte mais suave. Além disso, vemos muitas vezes que firmeza Ele dá a malfeitores infelizes que sofrem por seus crimes. Não falo dos en­durecidos, mas dos que obtêm consolação da graça de Jesus Cristo, e, por esse meio, com corações tranqüilos, sofrem os castigos mais cru­éis que podem ser infligidos. Um belo exemplo é visto no ladrão que foi convertido à morte de nosso Senhor. Será que Deus, que assim ajuda poderosamente pobres criminosos quando suportam o castigo de suas más ações, estará tão ausente do seu povo, enquanto lutam pela causa santa, quanto a não lhes dar coragem invencível?
O terceiro ponto a considerar acerca das promessas de Deus aos seus mártires é o fruto que eles devem esperar por seus sofrimentos, e no fim, se for necessário, por suas mortes. Este fruto se manifestará depois de terem glorificado o seu nome, depois de terem edificado a Igreja pela constância, quando serão reunidos com o Senhor Jesus na sua glória eterna. Mas como falamos acima brevemente, é bastante aqui apenas lembrar. Que os crentes aprendam a erguer a cabeça para as coroas de glória e imortalidade para as quais Deus os convi­da, a fim de que assim eles não se sintam relutantes em deixar a vida presente por tal recompensa. Para que se sintam bem seguros desta bênção inestimável, que sempre tenham diante dos olhos a conformi­dade que eles têm a nosso Senhor Jesus Cristo. E exatamente como Ele que, pela repreensão da cruz, chegou à ressurreição gloriosa, vejam que a morte consiste em toda a nossa felicidade, alegria e triunfo!

O Clamor por Reavivamento

Robert Murray M'Cheyne


Salmos 85:6
"Não tornarás a vivificar-nos, para que o teu povo se alegre em ti?"
Nota sobre o Autor: Robert M. M'Cheyne nasceu em 21/05/1813, em Edinburgh, Escócia. Foi autorizado a pregar aos 22 anos, ordenado ao pastorado da Igreja de S. Pedro, em Dundee - Escócia, aos 23 anos e morreu 6 anos mais tarde. Ele raramente pregava fora da sua terra nativa. Também não escreveu livros e era extremamente frágil de saúde. Entretanto, o impacto do "profeta de Dundee", como era conhecido, permanece até hoje. A História registra que toda a Escócia foi sacudida por ele, e com a sua morte, ela pranteou.
A presente mensagem foi pregada por McCheyne durante seu breve ministério. Ela nos permite olhar o coração de um homem totalmente entregue ao seu Senhor, que experimentou um reavivamento pessoal e sabia quão necessária era esta mensagem para a Igreja.

Introdução
É interessante notar o contexto em que esta oração(Sl.85:6) foi feita. Era tempo de misericórdia. Tempo em que Deus conduziu muitos aos conhecimento de Cristo e cobrira muitos pecados (Sl 85:2) "Perdoaste a iniqüidade do teu povo; cobriste todos os seus pecados. (Selá.)". Neste tempo eles começaram a sentir necessidade de outra visita de misericórdia.
O pedido desta oração foi "'vivificar novamente", ou , literalmente, "retornar a nos fazer viver de novo". É a oração daqueles que receberam alguma vida, mas sentem necessidade de mais. Receberam vida pelo Espírito Santo. Eles sentiram o prazer e a excelência desta nova vida, divina vida. Eles suspiram por mais.
Seu argumento é: "para que Teu povo se alegre em Ti". Eles rogam a Deus que faça isto pelo bem do Seu povo, para que a alegria deles seja completa no Senhor; no Senhor sua Justiça, no Senhor sua Força.

I. Quando esta Oração é Necessária?
1. Em Tempos de Apostasia - Há tempos quando, como em Éfeso, muitos dos filhos de Deus abandonam seu primeiro amor. A iniquidade abunda e o amor esfria em muitos. Crentes abandonam sua íntima comunhão com Deus. Apartam-se da santidade e oram à distância com um véu entre eles. Perdem seu fervor, prazer e satisfação na oração secreta. Eles não derramam seus corações para Deus.
Eles perderam o conhecimento límpido de Cristo. Eles O vêem mas obscuramente. Perderam a visão da Sua beleza, o perfume do Seu bom ungüento, o tocar das suas vestes. Eles O procuram, mas não O acham. Eles não podem mover seus corações para se agarrar em Cristo.
O Espírito habita de forma escassa em suas almas. A água da vida parece quase esgotar-se dentro deles. A alma é sem vida e infrutífera. As corrupções são fortes; a graça é muito fraca.
O amor aos irmãos desvanece. A reunião de oração é desprezada. A pequena assembléia não parece mais bonita. A compaixão pelo inconverso é pequena e fria. O pecado não é reprovado, pesar de cometido embaixo dos seus olhos. Cristo não é confessado diante dos homens. Talvez a alma caiu em pecado e teme retornar; permanece longe de Deus, e habita no deserto. Ó! Este é o caso de muitos, eu temo. É um período temerariamente perigoso. Nada, senão a visita do Espírito Santo a suas almas, pode persuadi-los a voltar. Não é o tempo de orar: "Não tornarás a vivificar-nos?"
A alma do crente necessita da graça a cada momento. "Pela graça de Deus eu sou o que sou"(1Co. 15:10). Mas há momentos quando ela precisa mais dela. Assim como o corpo precisa de comida continuamente, mas em tempos de grande esforço físico, quando toda a força está para ser empregada, ele precisa do alimento ainda mais.
Algumas vezes, a alma do crente é exposta a perseguição. A acusação fere o coração ou ele lateja como o sal ardente sobre a cabeça. "Em paga do meu amor são meus adversários"(Sl.109:4). Às vezes os filhos de Deus nos reprovam e isto é ainda mais difícil de suportar. A alma está prestes a submergir.
Às vezes é a lisonja que tenta a alma. O mundo nos louva e somos tentados ao orgulho e à vaidade. Isto é muito difícil resistir. Às vezes satanás contende conosco, ativando corrupções temerárias, até que haja uma tempestade dentro de nós. Ó! Há alguma alma tentada ouvindo estas palavras? Jesus ora por ela. Você precisa de mais paz. Nada a não ser o óleo do Espírito alimentará o fogo da graça quando satanás está jogando água nele. Clame aos céus "Não tornarás a vivificar-nos?"
2. Em Tempos de Inquietação - "Pedi ao Senhor chuva no tempo da chuva serôdia, sim, ao SENHOR que faz relâmpagos; e lhes dará chuvas abundantes, e a cada um erva no campo."(Zc 10:1). Quando Deus começa um tempo de inquietação num lugar, quando o orvalho está começando a cair, então é tempo de orar, Senhor não retenhas Tua mão, dá-nos chuvas completas, não deixe nenhum secar. "Não tornarás a vivificar-nos?"

II. Quem Precisa de Reavivamento?
1. Os Pastores Precisam - Como todos os homens, eles também são endurecidos de coração e incrédulos (Mc. 6:14). A fé que possuem vem toda do alto. Eles devem receber de Deus tudo que eles dão. A fim de falar a verdade com poder; eles precisam se apoderar dela. É impossível falar com poder de uma mero conhecimento intelectual ou mesmo de experiências passadas. Se formos falar com vigor, deve advir de um sentimento atual da verdade em Jesus. Não podemos falar do misterioso maná a não ser que tenhamos seu gosto em nossa boca. Não podemos falar da água viva a não ser que ela brote em nós. Como João Batista, nós devemos ver Jesus e dizer: "Este é o Cordeiro de Deus". Devemos falar com Cristo face a face, como Estevão fez: "Eis que vejo Jesus em pé à destra de Deus". Devemos falar como fruto do sentimento de perdão e acesso a Deus existente em nós, ou nossas palavras serão frias e sem vida. Mas como podemos fazer isto se não formos vivificados do alto? Pastores são mais expostos a ser abatidos do que outros homens. Eles são líderes e satanás adora quando um líder falha. Ó! que necessidade de um revestimento da plenitude de Cristo!
Ore, amado, que seja assim "Não tornarás a vivificar-nos?"
2. Os Filhos de Deus - A vida divina é toda do alto. Eles não tem vida até que venham a Cristo. "Jesus, pois, lhes disse: Na verdade, na verdade vos digo que, se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos." (Jo. 6:53). Agora esta vida é mantida pela união com Cristo e pelo suprimento obtido, a cada momento, da Sua plenitude. "Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele." (Jo. 6:56).
Em alguns crentes esta vida é mantida por uma constante afluência do Espírito Santo. "Eu ... a cada momento a regarei" Is. 27:3 - como o constante suprimento que o ramo recebe da videira. Estes são os mais alegres e mais justos cristãos. Outros tem enchentes do Espírito, carregando-os para mais e mais alto. Algumas vezes eles obtêm mais em um dia do que em meses anteriores. Num dia como este, a graça é como um rio; no outro, é como uma chuva de estação. Não obstante, em ambos os casos há necessidade de reavivamento. O coração natural é todo tendente a definhar. Como um jardim no verão, ele seca, a menos que seja aguado. A alma cresce débil. e sem vigor nas boas obras. Graça não é natural ao coração. 0 velho coração está sempre secando e definhando. Assim sendo, o filho de Deus precisa, continuamente, vigiar, como o servo de Elias, para a pequena nuvem sobre o mar. Você necessita estar continuamente perto da Fonte da água da vida, descansar na fonte da nossa salvação e beber dela. "Não tornaras a vivificar-nos?"
3. Os que Outrora Foram Despertados - Uma gota caiu do céu sobre seus corações. Eles estremeceram, choraram e oraram. Mas as chuvas passaram e o coração de pedra parou de estremecer. O olho novamente fechou de sono; os lábios esqueceram de orar. Ah, quão comum e triste é este caso! O Rei de Sião levantou Sua voz neste lugar e chorou. Alguns que estavam em suas covas ouviram Sua voz e começaram a viver. Mas isso passou e agora eles começaram a naufragar, outra vez, da graça para a alma sem vida. Ah! este e um estado terrível! Voltar a morte, amar a morte e fazer mal a sua alma O que pode salvar tal pessoa, a não ser outro chamado de Jesus? "Desperta, tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará." (Ef. 5:14. Para o seu próprio bem, mais do que tudo eu oro: "Não tornarás a vivificar-nos?"
4. As Figueiras Infrutíferas - Alguns de vocês foram plantados nesta vinha. Experimentaram sol e chuva. Você passou por todo este tempo de despertamento sem sofrer nenhuma mudança. Você ainda está morto, infrutífero, inconvertido e estéril. Ah! Não há esperança para você a não ser nesta oração.
Tempos ordinários não lhe moverão. Seu coração está mais endurecido do que de outros homens. Quanta. necessidade você tem de orar por uma profunda, pura e efetiva obra de Deus, e que você não seja ignorado. Muitos de vocês podem suportar o choque melhor agora, Muitos de vocês tem resistido a Deus e extinguido o Espírito. Ó, ore por tempos que removam montanhas. Ninguém a não ser o Todo-Poderoso Espírito, pode tocar seu coração de pedra. "Quem és tu, ó grande monte? Diante de Zorobabel serás uma campina." (Zc. 4:7) "Não tornarás a vivificar-nos?"

III. Sobre Quem o Reavivamento Vem?
É Deus quem deve nos reavivar de novo. Não é um trabalho humano. É todo divino. Se você espera que homens o façam, você receberá somente a imprecação de Jeremias 17: "Maldito o homem que confia no homem, faz da carne mortal o seu braço".
O Senhor tem todos os homens em suas mãos. O Filho do Homem tem na Sua mão direita as sete estrelas. As estrelas são Seus ministros. Ele as exalta ou humilha, conforme Sua vontade soberana. Ele lhes dá toda Sua luz, ou Ele a tira delas. Ele as levanta e permite que brilhem, ou as mantêm no centro de Sua mão, como Lhe parecer melhor. Algumas vezes Ele as faz brilhar numa região do país, outras vezes, em outra. Elas brilham somente ao Seu comando. A estrela que se afasta dEle, é uma estrela cadente e Cristo irá lançá-la na escuridão para sempre. Devemos pedir a Cristo que faça Seus ministros brilharem sobre nós.
A plenitude do Espírito pertence ao Senhor. 0 Pai confiou todo o trabalho de redenção a Jesus, e por isso o Espírito é dado a Ele. "Pois, assim como o Pai ressuscita os mortos, e os vivifica, assim também o Filho vivifica aqueles que quer." (Jo. 5:21) "Porque, como o Pai tem a vida em si mesmo, assim deu também ao Filho ter a vida em si mesmo" (Jo. 5:26) .
É Ele que mantêm os Seus próprios filhos vivos dia a dia. Ele é a fonte da água da vida e Seus filhos repousam nas águas tranqüilas e bebem cada momento, vida eterna que provêm dEle.
É Ele quem derrama o Espírito, em Sua soberania, naqueles que nunca O conheceram. "Mas sobre a casa de Davi, e sobre os habitantes de Jerusalém, derramarei o Espírito de graça e de súplicas " (Zc. 12:10) . Na verdade, toda a obra, do início ao fim, é dEle.
Qualquer meio será vão, até que Ele derrame o Espírito. "Sobre a terra do meu povo virão espinheiros e sarças, (Is. 32:13) ... "Até que se derrame sobre nós o espírito lá do alto; então o deserto se tornará em campo fértil, e o campo fértil será reputado por um bosque" (Is. 32:15). Nós podemos pregar publicamente, e ir de casa em casa, podemos ensinar os jovens, e avisar o idoso, mas tudo será vão; até que o Espírito seja derramado sobre nós do alto, espinhos e abrolhos crescerão. Nossa vinha será como o jardim do preguiçoso. Nós necessitamos que Cristo nos desperte, que Ele mostre Seus braços como nos dias passados; que Ele possa derramar o Espírito abundantemente.
Os filhos de Deus deveriam argumentar com Ele. Coloque seu dedo na promessa e argumente: "Os aflitos e necessitados buscam água e não há, ... Eu o Senhor os ouvirei" (Is.41:17). Diga a Ele que você é pobre e necessitado. Derrame suas súplicas diante dEle. Leve o seu vazio a Sua plenitude. Existe uma infinidade de suprimento em Cristo para toda sua necessidade e a cada momento que você necessitar.
Homens incrédulos, vocês estão dizendo, não existe promessa para nós. Mas existe, se vocês a receberem. "Tu subiste ao alto, levaste cativo o cativeiro, recebeste dons para os homens, e até para os rebeldes, para que o Senhor Deus habitasse entre eles." (Sl. 68:28). Vocês são rebeldes? Vão e digam isso a Ele. Ó, se vocês estão dispostos a serem justificados por Ele e terem seus corações rebeldes transformados, vão e peçam-Lhe, e Ele lhes dará da água da vida. "Atentai para a minha repreensão; eis que derramarei copiosamente para vós outros o meu espírito e vos farei saber as minhas palavras" (Pv. 1: 23). ". Vão e digam-Lhe que vocês são simples e escarnecedores. Peçam-Lhe que faça aquilo que Ele prometeu em Ezequiel 34:26 " Delas (das minhas ovelhas) e dos lugares ao redor do meu outeiro eu farei bênção; farei descer a chuva a seu tempo, serão chuvas de bênção." Agora vocês não podem dizer que pertencem ao monte Sião, mas podem dizer que estão ao redor dele. Ó, clame : "Não tornaras a vivificar-nos?"

IV. Os Efeitos do Reavivamento
1. Os Filhos de Deus se Regozijam nEle - Eles se alegram em Jesus Cristo. A alegria mais pura no mundo é a alegria em Cristo Jesus. Quando o Espírito é derramado, Seu povo se aproxima muito dEle e tem uma clara visão do Senhor Jesus. Eles comem Sua carne e bebem Seu sangue. Eles tem um apego pessoal ao Senhor. Eles provam que o Senhor é gracioso. Seu sangue e justiça se mostram infinitamente perfeitos, suficientes e libertadores para suas almas. Eles sentam sob Sua sombra com grande deleite. Eles descansam na Rocha. A defesa deles é a munição proveniente da Rocha. Eles repousam no Amado. Nele, eles encontram força infinita para suas almas; graça sobre graça, tudo que precisam em toda e qualquer hora de provação e sofrimento.
Então, vão através dEle, até o Pai. Nós nos alegramos em Deus, através do nosso Senhor Jesus Cristo. Nós encontramos uma porção lá, um escudo e uma grande recompensa. Isto nos concede uma alegria indizível e cheia de glória. Deus gosta de ver Seus filhos se alegrarem nEle. Ele se agrada em ver que toda nossa fonte provêm dEle. Então peçam-lhe isto. Orem para que Ele dê água ao sedento. Coloquem diante dEle todas as suas tristezas, alegrias, preocupações, consolos. Tudo deve ser falado para Ele.
Muitos se Unem a Cristo - " Quem são estes que vêm voando como nuvens, e como pombas às suas janelas?" (Is. 60:8). "E a Ele se congregarão os povos"(Gn. 49:10). Assim como todas as criaturas vieram para dentro da arca, assim também pobres pecadores vem em tempos como este. Lançando de si a capa (Mc. 10:50), suas aflições, eles procuram refúgio na arca Jesus. Ó, não há visão mais bela em todo o mundo.
Almas são Salvas - "Não é este um tição tirado do fogo?" (Zc. 3:2). " "... Não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida." (Jo. 5:24).
Deus é Glorificado - " Aquele que aceitou o Seu testemunho (de Cristo), esse confirmou que Deus é verdadeiro." (Jo. 3:33). Ele confessa a santidade de Deus, Seu amor e graça. Sua boca se enche de louvor. "Bendize, ó minha alma, ao Senhor" (Sl. 103:1). Ele anela pela imagem de Deus., em confessá-lO diante dos homens, andar em Seus caminhos. Isto nos concede alegria no céu e alegria na terra. Ó, ore para que venham tempos como este.
Há um Novo Despertamento Naqueles que se Afastaram - Se não tivermos tempos de derramamento do Espírito, muitos que antes buscavam a Cristo, mas voltaram atrás, perecerão de maneira terrível, porque eles se tomam piores do que eram antes. Algumas vezes, eles escarnecem e zombam de tudo isto. Satanás é o pior de todos, pois ele já foi um anjo, uma vez Assim também os que voltam atrás, tornam-se piores do que eram. Eles geralmente penetram mais profundamente na lama de pecados. Mas se Deus, graciosamente, derrama Seu Espírito, o coração endurecido se enternece. Ore por isso.
Pecadores são Despertados - É triste quando pecadores são audaciosos em seus pecados, quando multidões abertamente não guardam o dia do Senhor e abertamente freqüentam as tavernas. É um pecado horrível quando pecadores vivem em pecado e até sentam imóveis sob a pregação da Palavra, sem medo, e se opõem a orar diante de Deus. Mas se o Senhor se agradasse em reavivar-nos, este estado de coisas mudaria.
Estou certo de que seria uma visão fascinante vê-los indo acompanhados à casa de oração, ao invés de ir às tavernas ou antros de pecado e vergonha, que trarão ruína eterna as suas pobres almas. Seria doce ouvir o clamor das orações nos seus aposentos, ao invés de ouvir os sons de zombarias profanas, discursos duros e reprovações aos filhos de Deus. Muito melhor ver seus corações suspirando por Cristo, Seu perdão, Sua santidade, Sua glória, do que vê-los voltando-se para o mundo e seus ídolos vãos.
Ó, ergam seus corações ao Senhor por tempos como este. Peçam fervorosamente pela promessa, "... Derramarei o meu Espírito sobre toda a carne" (Jl. 2:28). Então, este deserto se transformará em um campo frutífero e seu nome será Jeová-Shammah, o Senhor está aqui.